ARTIGOS ORIGINAIS

Filosofia, conhecimento e sociedade: das fontes às tendências do pensamento educacional

Philosophy, knowledge and society: from sources to trends of the educational thinking

Filosofía, conocimiento y sociedad: de las fuentes a las tendencias del pensamiento educativo

Wilson Rafael Schimila 1
Brasil
Carmen Lúcia Fornari Diez 2
Universidade do Planalto Catarinense (PPGE/UNIPLAC), Brasil
Vanice dos Santos 3
Universidade do Planalto Catarinense (PPGE/UNIPLAC), Brasil
Mareli Eliane Graupe 4
Universidade do Planalto Catarinense (PPGE/UNIPLAC), Brasil

Filosofia, conhecimento e sociedade: das fontes às tendências do pensamento educacional

Vértices (Campos dos Goitacazes), vol. 21, núm. 2, 2019

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

Este documento é protegido por Copyright © 2019 pelos Autores

Recepción: 12 Marzo 2019

Aprobación: 02 Junio 2019

Resumo: Este artigo busca compreender o papel da filosofia, das teorias da educação e do conhecimento na construção da sociedade e na formação do indivíduo. O objetivo deste estudo é elucidar os ideais de educação e formação do homem através de um viés histórico e filosófico. Serão apresentadas as concepções teóricas de alguns pensadores clássicos desde a Grécia Antiga, passando por Alexandria, pela modernidade, e, por fim, serão salientadas as tendências atuais e as perspectivas sobre educação e sociedade. A educação é objetivada, e é nesse sentido que a filosofia demonstra sua importância, colaborando na reflexão sobre o tipo de formação adequada.

Palavras-chave: Educação, Filosofia, Pensamento Educacional, Teorias da Educação.

Abstract: This article examines the role of philosophy, theories of education and knowledge in the construction of society and in the formation of the individual. This study aims to elucidate the ideals of education and formation of man through historical and philosophical aspects. The theoretical conceptions of some classical thinkers, from ancient Greece, through Alexandria, to modernity, are presented and current tendencies and perspectives on education and society are highlighted. As Education is a discipline involving objectives, philosophy can demonstrate its importance, and contribute to the reflection on the type of appropriate formation.

Keywords: Education, Philosophy, Educational Thought, Theories of Education.

Resumen: Este artículo busca comprender el papel de la filosofía, las teorías de la educación y el conocimiento en la construcción de la sociedad y en la formación del individuo. Este estudio objetiva dilucidar los ideales de educación y formación del hombre a través de un aspecto histórico y filosófico. Se presentarán las concepciones teóricas de algunos pensadores clásicos, desde la antigua Grecia, a través de Alejandría, hasta la modernidad, y, finalmente, se destacarán las tendencias y perspectivas actuales sobre la educación y la sociedad. La educación está objetivada, y en este sentido la filosofía demuestra su importancia, colaborando en la reflexión sobre el tipo de formación adecuada.

Palabras clave: Educación, Filosofía, Pensamiento Educativo, Teorías de la educación.

1 Introdução

Desde os primórdios da humanidade as sociedades estiveram constantemente empenhadas em aperfeiçoar a educação do ser humano, ditando normas e regras para tal por meio de teorias, doutrinas e proposições. Em distintas épocas históricas, a partir da cosmovisão dos indivíduos que outrora viveram, teorias foram elaboradas e métodos e artifícios foram sendo criados tendo como propósito a boa educação que, de forma geral, estava voltada para a formação integral do homem.

O presente estudo aborda alguns tópicos do pensamento educacional e filosófico em uma perspectiva histórica e linear, que traz contribuições de alguns autores notáveis na Filosofia, desde os pensadores clássicos até filósofos contemporâneos, esboçando um panorama histórico-social-educacional com base no prisma desses autores, que contribuíram – e contribuem – para aprimorar e atualizar o pensamento educacional.

O objetivo deste artigo de revisão é elucidar os ideais de educação e formação do homem mediante um viés histórico e filosófico. Para isso, traremos aspectos da construção do pensamento filosófico-educacional com as civilizações clássicas, passaremos pela modernidade e discutiremos ainda algumas concepções contemporâneas voltadas aos aspectos tecnológicos e digitais do nosso tempo bem como à reflexão sobre como a educação pode reagir às mudanças típicas da nossa era.

Neste estudo bibliográfico, iniciaremos discutindo o que é a filosofia e qual o seu papel na educação. Nessa seção, destacam-se as contribuições de Luckesi (1994). Para refletir sobre as sociedades clássicas, utilizamos Sócrates, Platão, Chatêlet e Ptolomeu. No pensamento moderno, valemo-nos de Descartes, Kant e Rousseau. Para as tendências contemporâneas em filosofia e educação, dialogaremos com Dussel (2017), Santos (2013), Bertrand (2013) e Freire (2017).

2 Filosofia: definições e alinhamento com a educação

As concepções e teorias educacionais possuem atreladas a elas intrínsecos aspectos filosóficos. Educa-se para alguma finalidade, educa-se para um objetivo mais ou menos estipulado, educa-se para formar homens e mulheres de acordo com aquilo que se pretende, o que induz a uma permanente busca de maneiras adequadas e oportunas de se educar.

Iremos começar esta seção com a definição de filosofia. Etimologicamente, Filosofia (philos-sofia) significa amor à sabedoria, ou amizade com o saber. Cabe destacar que se inicialmente a filosofia dedicava-se a questões cosmológicas; com as contribuições de Sócrates, passou a abarcar questões humanas, adquirindo uma conotação antropológica. Sócrates não se considerava um sábio (sophos), mas sim alguém que buscava e prezava pela sabedoria.

Essa genérica definição de filosofia foi enriquecida, ao longo dos séculos, por diversos filósofos ocidentais que, por amor à sabedoria, pulularam a humanidade com seus ideais, visões de mundo, arquétipos, princípios, convicções, enfim, com aquilo que consideravam e que julgavam ser correto e primoroso. Há, portanto, um emaranhado de conceitos, que, por vezes, rebuscam a própria ideia do que seja a filosofia. O conceito de filosofia por si só já é uma questão filosófica.

A definição preliminar de Luckesi (1994, p. 22) explicita que “[…] a Filosofia é um corpo de conhecimento, constituído a partir de um esforço que o ser humano vem fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe um sentido, um significado compreensivo”; buscando, portanto, conhecer a realidade e a própria existência, das questões mais simples até as mais complexas como buscar um significado para a vida e um sentido para aqui estarmos, com vistas a direcionar o pensamento às questões do porvir.

[…] a filosofia não está à margem do mundo, nem constituiu uma doutrina, um saber acabado ou um conjunto de conhecimentos estabelecidos de uma vez por todas. Ao contrário, a filosofia pressupõe constante disponibilidade para a indagação. Por isso, Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude do filósofo é admirar-se, ser capaz de se surpreender com o óbvio e questionar as verdades dadas. Essa é a condição para problematizar, o que caracteriza a filosofia não como a posse da verdade e sim como sua busca (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 19). [grifos das autoras].

Buscar a verdade: que grande encargo tem a filosofia. É compreensível a argumentação das autoras de que a filosofia não constitui um saber acabado, uma vez que as realidades se alteram rapidamente, acelerando ainda mais esse processo nas últimas décadas com a enxurrada de informações sempre à disposição. Nesse sentido, a filosofia tem a tarefa de questionar, argumentar, problematizar e desconfiar do óbvio, ao mesmo tempo em que guia ao futuro a sociedade e o próprio indivíduo isoladamente. “A filosofia se manifesta como o corpo de entendimento que cria o ideário que norteia a vida humana em todos os seus momentos e em todos os seus processos” (LUCKESI, 1994, p. 25), afinal, a vida só faz sentido em ser vivida quando se tem um ideal e um propósito alicerçados – espera-se – por uma filosofia de vida.

Por certo, há muitas formas de se filosofar. Filosofar significa questionar a realidade e buscar a verdade. A filosofia é, por excelência, um diálogo, remete à troca de informações e experiências e exige dos interlocutores respeito e atenção. É a partir desse intercâmbio social que nasce o próprio processo de filosofar. Esse argumento dialético da filosofia é explicado por Savater (2001, p. 2), quando esclarece que “[…] a filosofia não é a revelação feita ao ignorante por quem sabe tudo, mas o diálogo entre iguais que se fazem cúmplices em sua mútua submissão à força da razão e não à razão da força”. Mesmo, talvez, com opiniões opostas, dois argumentos provenientes da filosofia são, em essência, legítimos pela busca da verdade.

A questão dos valores e da visão de mundo é crucial no pensamento filosófico, visto que os autores defendiam – e defendem – o que pensam a partir do que eles mesmos vivenciaram no âmbito de sua vida pessoal, acadêmica e profissional e a partir daquilo que entendem como virtude. Nas palavras de Luckesi (1994, p. 22), “[…] quando lemos um texto de Filosofia, nos apropriamos do entendimento que o seu autor teve do mundo que o cerca, especialmente dos valores que dão sentido a esse mundo”. Daí a importância em compreender o momento histórico, o tipo de criação e a que matriz de racionalidade filosófica pertencem os autores.

Poder-se-ia perguntar acerca da relação entre filosofia e educação. Ora, após essas definições gerais e preliminares de filosofia, está claro que filosofia e educação estão intimamente ligadas. Enquanto esta se preocupa em como formar o ser humano, aquela norteia justamente os pressupostos dessa formação.

A educação foi tema de trabalho dos filósofos desde a Grécia Antiga. Na obra A República de Platão, por exemplo, a educação aparece no sentido de que, para criar uma sociedade perfeita, é preciso educar seus cidadãos. Aí surgia a conexão entre filosofia e educação, que dura até os dias de hoje (PORTO, 2006).

Luckesi (1994) chama atenção para a finalidade da educação e coloca a filosofia como um guia, do começo ao fim, no processo de educar. É pela Filosofia da Educação que os objetivos educacionais serão formulados, afinal a educação não é, e nem pode ser, um fim em si mesma. Conforme o autor:

A educação é um típico ‘que-fazer’ humano, ou seja, um tipo de atividade que se caracteriza fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos. A sociedade dentro da qual ela está deve possuir alguns valores norteadores de sua prática (LUCKESI, 1994, p. 30-31).

Da mesma forma que a filosofia questiona a realidade e se preocupa em construir o futuro, a Filosofia da Educação também possui os mesmos objetivo e papel principal. Questionam-se as práticas pedagógicas, as escolas, o sistema de ensino, o poder, a relação com o saber, e busca-se conceber um futuro educacional próprio que dê subsídios aos melhores fins possíveis. “A Filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar” (LUCKESI, 1994, p. 32). A prática educativa requer, portanto, constante reflexão, que pode ser erigida com auxílio da filosofia.

Nas relações entre Filosofia e educação só existem realmente duas opções: ou se pensa e se reflete sobre o que se faz e assim se realiza uma ação educativa consciente; ou não se reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais ou menos obscura e opaca existente na cultura vivida do dia-a-dia – e assim se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência (LUCKESI, 1994, p. 32).

Fazem parte dessas reflexões necessárias o estudo do pensamento filosófico-educacional, o qual foi pensado e analisado por diversos autores ao longo da história. Alguns desses pontos de vista serão analisados.

3 A filosofia das civilizações clássicas: da Grécia Antiga a Alexandria

A filosofia nasceu na Grécia Antiga, com Thales focando problemas da natureza e, posteriormente, com Sócrates abordando a questão humana. Traremos algumas elucidações sobre o pensamento filosófico grego, pois ele influenciou a ciência e lançou um arcabouço teórico considerável para transformar a humanidade. Châtelet (1994) explica o surgimento histórico da razão, tratando especificamente da razão no Ocidente, em especial com a historicidade dos gregos.

A sociedade grega do século V a.C. era muito organizada, com funções bem definidas aos cidadãos, e dividida em Cidades-Estado, as quais possuíam em comum a cultura, a língua e os deuses. A educação era essencialmente moral e militar. Atenas se destacava e sua democracia tornou-se modelo. Os cidadãos tinham prerrogativas de atuarem nas decisões políticas na Ágora e, para isso, foi necessária uma transformação na forma de falar e se expressar. Aprender a discutir e convencer por meio da palavra e do discurso tornou-se essencial para os cidadãos. Esses professores do falar bem eram os sofistas, que encontraram uma Atenas ainda mergulhada na tradição e mitologia dos deuses. É nessa mistura que aparece a figura de Sócrates.

Sócrates era extremamente inoportuno, poderiam dizer alguns. Andava pela cidade fazendo perguntas simples, mas que, na verdade, de simples não tinham nada. E mais: quando uma conversa chegava ao fim e as pessoas se davam conta do quão pouco sabiam, ele considerava que a tarefa havia sido cumprida.

Ele contribui, dessa maneira, na consolidação do que entendemos por Filosofia. O amor à sabedoria é um constante pensar, questionar, tentar compreender. Buscar a verdade, mas nunca a possuir com clareza. Não obstante, é a partir dessa busca que os homens e mulheres tornam-se mais propensos à felicidade; afinal, segundo Sócrates, a vida só vale a pena ser vivida quando pensamos no que estamos fazendo. Sua intenção era salvar a cidade. Diante dos tribunais, porém, não se defendeu e foi condenado à morte.

Não sem justiça, Sócrates é chamado de criador da filosofia ocidental. Nele, a atitude teórica do espírito grego manifesta-se claramente. Todos os seus pensamentos e energias estão voltados para a edificação da vida humana sobre a base da reflexão e do saber. Ele tenta fazer com que todo agir humano seja um agir consciente, um saber, e empenha-se em elevar a vida, com todos os seus conteúdos, ao nível da consciência filosófica (HESSEN, 2000, p. 6).

Platão, seu principal seguidor, foi quem deu voz a Sócrates, já que este não deixou nenhum material escrito. Famoso por seus diálogos, Platão coloca Sócrates como personagem principal, um sujeito questionador, capaz de colocar em risco os saberes dos outros personagens. Platão fundou a Academia para ensinar Matemática, Dialética e talvez algo secreto que nunca saberemos. Adota o método socrático, que se passa por meio de diálogos. Neles, Sócrates permanece vivo como um homem questionador que preferiu a morte a parar de pensar nas coisas como realmente são em sua essência.

Em A República, Platão idealizou uma sociedade perfeita em que os filósofos são as pessoas aptas para governar. De acordo com Châtelet (1994), tal ideal social não era democrático, pois manteria as pessoas sob controle mediante a força e mentiras. Seu objetivo era formar homens de poder capazes de construir uma política que receberia a concordância de todos e faria cessar a guerra.

Em Platão, de acordo com Hessen (2000, p. 6), “[…] a consciência filosófica estende-se à totalidade do conteúdo da consciência humana. Dirige-se não apenas aos objetos práticos, aos valores e virtudes, como ocorria quase sempre em Sócrates, mas também ao conhecimento científico”.

A educação, desde os gregos, possui um sentido de emancipação social, elevação, ascensão da mente e capacidade humanas. É através da razão que o homem detém esse poder. Por intermédio da educação, as sociedades podem ter continuidade, conservando, assim, seus atributos físicos e espirituais. Seu caráter é público, afinal “a educação não é uma propriedade individual, mas pertence por essência à comunidade” (JAEGER, 2001, p. 4). Constrói-se, portanto, socialmente.

Na Grécia Antiga, educação remetia à Paideia, termo que não possui tradução literal, mas faz referência a expressões modernas como civilização, cultura, tradição, literatura e educação. É como se todos esses termos fossem empregados de uma só vez. Por essa razão, o termo educação talvez não seja o mais coerente, mas sim formação, formação de um elevado tipo de homem objetivando o homem bom e belo, virtuoso. Aliás, no centro do pensamento grego está o homem, fato legitimado pela forma humana de seus deuses, na escultura, na pintura, na filosofia e na poesia. A formação do homem é o sentido de todo o esforço e encontra-se no topo do desenvolvimento (JAEGER, 2001).

O homem, sendo um zoon politikon, necessita da sociabilidade humana. Não vivemos isoladamente. Além da vivência em sociedade, temos o senso do logos. O homem é o único ser pensante, que constrói o conhecimento e o transmite, ou seja, o aspecto lógico da racionalidade nos diferencia dos demais seres.

Para os gregos do período clássico, as coisas do mundo eram colocadas sob uma perspectiva conectiva e interligada, e não isoladas. A Paideia resgata a integralidade do conhecimento e da educação. O homem grego compreendia sua formação nessa integralidade representada pela formação moral, física, poética e teológica (JAEGER, 2001).

Viajando um pouco no tempo e no espaço, chegaremos à Época Imperial. A ruptura na aliança entre intelectuais gregos e governantes egípcios abriu um período de decadência da ciência helenística. Otaviano conquistou Alexandria e o Egito tornou-se província do Império Romano. Algumas personalidades destacaram-se nesse contexto histórico, sendo considerados uma ponte entre a Antiguidade e o mundo moderno. Neste estudo, daremos destaque a Ptolomeu, que viveu entre os anos 100 e 170 d.C. e deixou numerosos escritos nas áreas da Matemática e Astronomia.

De acordo com Ptolomeu, a Matemática oferece ciência sólida por que é demonstrada a partir de procedimentos incontroversos podendo, inclusive, abrir caminho para o gênero teológico. Afirma ainda que a Astronomia tornará inteligentes as pessoas em virtude da similitude, da ordem e da simetria que contemplamos nas coisas divinas.

No que se refere ao mundo e à Terra, ele propôs alguns conceitos. 1) O mundo (o céu) é esférico e se move como uma esfera; 2) A Terra também é esférica; 3) A Terra é o centro do mundo; 4) A Terra é um ponto, se comparada às estrelas fixas; 5) A Terra é imóvel (REALE; ANTISERI, 1990). Ptolomeu desenvolveu essas premissas através de escritos de astrônomos anteriores a ele, de observações feitas por ele e de explicações lógicas para ele. “Se não se colocasse a Terra no centro do universo, muitos fenômenos seriam inexplicáveis” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 359). De acordo com sua obra, os planetas possuiriam uma força vital, o que faria com que se movimentassem. Suas teorias permaneceram aceitáveis por quatorze séculos.

O declínio da ciência alexandrina se dá, em princípio, graças a alguns cristãos que consideravam as instituições científicas perigosas; e, posteriormente, com os maometanos que, supostamente, incendiaram a Biblioteca de Alexandria por consideravam qualquer livro inútil, com exceção do Corão.

Alexandria permaneceu como centro filosófico importante e foi lá que “[…] floresceu a primeira grande síntese entre a filosofia helênica e a mensagem cristã” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 368), lançando as bases para o pensamento europeu medieval.

4 Filosofia moderna: Descartes, Kant e Rousseau

Para este ensaio, nos transportaremos agora para a pós-idade média, período em que a Igreja Católica ia perdendo, aos poucos, o seu controle social, o que deu margem para que filósofos pensadores expusessem, gradativamente, o seu pensamento social, educacional e filosófico, que convergiam para a figura central do homem colocando a razão como protagonista e não mais a teologia ou a vontade divina.

Um dos maiores pensadores da época foi René Descartes, que se destacou nas Matemáticas e na Filosofia. É considerado o pai da Filosofia Moderna devido ao grande prestígio da sua forma de pensamento, o racionalismo, que coloca o homem em protagonismo acentuando o papel da razão no rol de conhecimentos, criticando, assim, a herança cultural, filosófica e científica da época.

Do que mais gostava era Matemática por causa da evidência de seus raciocínios. Descartes foi o fundador da Geometria Analítica. Aliando geometria e álgebra “ele traduz os problemas geométricos em problemas algébricos, mostrando a sua substancial homogeneidade” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 359).

De família nobre, teve a oportunidade de estudar em boas escolas. Recebeu sólida formação filosófica e científica, apesar de se ver insatisfeito e confuso. Descartes percebe a ausência de um método com o qual fosse possível controlar e ordenar as ideias em busca da verdade.

Em 1637 publicou sua obra mais importante, o Discurso do Método, em que explicita regras para demonstrar o caráter objetivo da razão. Segundo ele, a primeira regra é a da evidência, que é um princípio normativo fundamental. “Não se deve acatar nunca como verdadeiro aquilo que não se reconhece ser tal pela evidência” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 361). Pela intuição é que se alcança a evidência; trata-se de uma ideia clara e distinta que reflete a luz da razão. O que se segue à evidência é a divisão do problema em partes menores, tantas quantas for possível. Assim, ficaria mais simples de se analisar as partes do que o todo. Depois, é preciso ordenar as partes, começando pelas mais simples até as mais complexas. Trata-se de criar uma cadeia de raciocínios. Por fim, é preciso fazer enumerações bem completas e revisar o que foi feito, para ficar seguro de que nada foi omitido.

No pensamento cartesiano, os nossos sentidos não são fontes seguras de evidência, pois, por vezes, nos enganam. “Os conhecimentos provenientes dos sentidos são os mais facilmente postos em dúvida” (GRANGER, 1983, p. 8). Já o saber matemático parece ser indubitável, afinal dois mais dois é igual a quatro sempre e em qualquer condição. Mas Descartes aprofunda sua dúvida: e se existisse um gênio maligno, enganador, que me faz acreditar em coisas que não são reais? Descartes começa a supor que todas as coisas que vê são falsas, instaurando a dúvida metódica.

A partir de todas essas dúvidas e inquietações, ele concluiu que ele existia. Por mais óbvia que essa frase possa parecer, a primeira certeza que teve foi essa. Sua máxima, “penso, logo existo” resume essa ideia. Mesmo que exista o gênio maligno que tente me enganar, não há qualquer dúvida da minha existência. A proposição é tão certa que até a dúvida a confirma. O fato de pensar sustenta o fato de existir. É um ato intuitivo, próprio da evidência. O homem, então, é uma realidade pensante. Descartes estava mais seguro da existência da alma, que pensa, do que do próprio corpo (DESCARTES, 2001).

Mais voltado para a educação do homem em aspectos práticos, Rousseau escreveu Emílio ou da Educação, uma obra pedagógica e filosófica que se tornou paradigma educacional no século XVIII. Nessa obra ele explicita o seu método educacional tomando como exemplo seu aprendiz fictício Emílio, orientando pais e mestres sobre como educar naturalmente o homem ideal.

Em Rousseau, o homem nasce bom e a sociedade o corrompe. Isso fica claro já no início do Livro Primeiro, quando afirma que “tudo é certo em saindo das mãos do Autor das coisas, tudo degenera nas mãos do homem” (ROUSSEAU, 1968, p. 9). O homem teria sempre a vontade de transformar as coisas e a natureza, moldando-a a seu jeito. E é precisamente essa a crítica que embasa o seu projeto de homem: educar as crianças justamente por seus instintos naturais para então desenvolvê-los.

Ele salienta a ideia de que a criança não é uma mera miniatura do homem. A criança é criança e se acha em estado de aprender. “Eles procuram sempre o homem na criança, sem pensar no que esta é, antes de ser homem” (ROUSSEAU, 1968, p. 6), evidenciando a importância do estágio infantil na formação humana.

Para Rousseau, a educação primeira é a mais importante. Cabe incontestavelmente às mulheres o cuidar, o amamentar e o zelar pela criança. Nascemos vazios, fracos, desprovidos de tudo e, portanto, precisamos de educação; não de uma educação voltada para alguma profissão, mas sim de uma que queira emancipar o homem, pois a natureza o chama para a vida humana, sobretudo. Rousseau quer ensinar Emílio a viver. “Por mais que o destino o faça mudar de situação, ele estará sempre em seu lugar” (ROUSSEAU, 1968, p. 15). O verdadeiro objeto de estudo é o da condição humana. Quem sabe suportar os bens e males da vida é o mais bem-educado. “A educação proposta no Emílio deverá […] formar o homem natural enquanto um ser autônomo, com o coração humano em seu progresso natural, e capaz de se adaptar a todas as condições impostas pela sociedade” (SOUZA FILHO, 2015, p. 131).

Rousseau critica a educação de sua época, dizendo que se pensa basicamente em conservar a criança e não se ensina a suportar os golpes da sorte. A primeira infância é cheia de perigos e incertezas, mas é passando pelas provações que a criança adquire forças. Orienta que não se enfaixem as crianças, comparando as formas de proteção a algemas. Toda essa proteção seria necessária devido ao fato de que as mulheres, entregando-se ao divertimento da cidade, não mais estariam educando seus filhos. Rousseau, porém, adverte: “outras mulheres, e até bichos, poderão dar-lhe o leite que ela lhe recusa, [mas] a solicitude materna não se supre” (ROUSSEAU, 1968, p. 20). Rousseau aponta que se as mulheres quiserem amamentar seus filhos, os sentimentos da natureza despertarão e que isso vai tudo unir. Defende que a principal ocupação da mulher são os cuidados domésticos, enquanto que para o homem isso é o mais doce divertimento.

Faz uma forte crítica à medicina e diz que os verdadeiros médicos do homem são o trabalho e a temperança. O trabalho aguça o apetite e a temperança impede que se abuse dele (ROUSSEAU, 1968). Para seu Emílio, constrói diversos atributos: é de família rica, órfão, robusto, sadio. Salienta a importância de se escolher bem a ama, principalmente pela qualidade do leite, vinda em razão da boa alimentação, saúde e bom coração. Prescreve como seria a educação do seu Emílio: o que comeria, como se vestiria, que sensações teria.

A crença na bondade natural do homem coloca a sociedade como a responsável por seus malfeitos. Quando o desenvolvimento adequado é estimulado, a bondade natural do indivíduo pode ser protegida da influência corruptora da sociedade.

Enquanto Rousseau estava preocupado com a educação de um homem ideal, na sua individualidade, Immanuel Kant, outro grande pensador da Filosofia Moderna, começa a pensar em Pedagogia de massas, na escola, e no conjunto das ações educacionais que norteiam uma sociedade. Ele insiste no fato de que os animais nascem bem preparados pela natureza dados os seus instintos, enquanto o ser humano não os tem, devendo, então, construir seu plano de conduta. Por não ter condições de fazê-lo imediatamente, os demais seres humanos devem ajudá-lo nessa construção.

A instrução é necessária no sentido de preservar a disciplina do homem, para que não se desvie mediante seus impulsos animais. A disciplina submete os homens às leis e às regras, e nas primeiras instituições de que participa, a disciplina e a prescrição de atitudes são colocadas em prática, a fim de se formar homens desviantes das disposições selvagens, até por que “[…] se tal não suceder, torna-se difícil modificar o homem posteriormente” (KANT, 2012, p. 10). Sua formação, portanto, deve compreender disciplina e instrução.

O homem nada mais é do que aquilo que a educação o torna e é justamente pela educação que o homem se torna homem. O segredo da perfeição humana está na educação. É através dela que cada geração pode se tornar melhor que a geração anterior, rumo ao aperfeiçoamento da espécie humana. “Isso abre-nos um prospecto de um género humano vindouro mais feliz” (KANT, 2012, p. 13). A tarefa de educar cabe a todos os homens, em conjunto. Não é o homem, individualmente, que forma seus educandos com o fim de fazê-los atingir sua destinação. É o gênero humano que deve ter êxito nessa tarefa.

Por conseguinte, a educação deve estar voltada não para o agora, mas para um estado futuro da humanidade e à sua destinação integral. Mais do que educação adaptativa ao mundo, precisamos de uma educação com visão de longo alcance, com vistas a produzir um estado futuro melhor.

Busca-se que o homem seja, então, disciplinado, cultivado, prudente e moralizado. A disciplina é vista como o ente que vai impedir que a animalidade vença a humanidade; é a doma do estado selvagem. A cultura aqui é compreendida como instrução e conhecimento. A prudência e a civilidade tangem aos aspectos sociais, às normas de conduta. À moralização alia-se o conceito de consciência e boas escolhas. A Pedagogia, ou melhor, a arte de ensinar deve ensinar, de fato, essas coisas. Uma educação que apenas adestra, instrui mecanicamente não é a verdadeira educação. Fazer com que as crianças pensem é fundamental.

Talvez a humanidade ainda esteja a passos largos da genuína educação. Mas, de acordo com o pensamento kantiano, é somente através da educação que teremos uma humanidade realmente perfeita.

5 Concepções contemporâneas de filosofia e educação

“Elogiar a escola não é fácil” (DUSSEL, 2017, p. 87). É com essa frase que Dussel inicia seu ensaio sobre a escola, enfatizando as fortes críticas que a escola tem sofrido por líderes e seguidores por seu conservadorismo e rigidez. Parte das críticas são influenciadas pelas novas formas de se fazer educação, formas feitas sob medida, instituições educativas que não possuem paredes ou métodos explícitos: as mídias digitais e a autoaprendizagem.

Dussel (2017) aponta para a precariedade da escola moderna, para seu caráter instável e exemplifica outras possibilidades de se pensar em precariedade, deixando de lado a conotação negativa utilizada no campo da economia e da sociologia. A precariedade é vista aqui, sobretudo, como um horizonte para que se abram novas possibilidades e uma estratégia de ruptura, questionando os referentes sociais convencionados. “Precarizar é uma forma de intervir em um estado de coisas – uma disciplina, uma ordem social – que permite pôr em evidência as exclusões ou as imposições e criticar ou subverter certo status quo” (DUSSEL, 2017, p. 90).

Poder-se-ia pensar na durabilidade da escola e questionar sobre sua existência. John Law (2009) cita algumas condições para isso: sem a escolarização, cada geração teria que começar do zero, daí a importância de haver um processo de escolarização para a manutenção do nível de conhecimento tradicional da sociedade. A estabilidade e a durabilidade exigem grandes esforços. No cotidiano da escola são muitas as atividades padronizadas, que seguem sempre o mesmo modelo. Masschelein e Simons (2014) afirmam que a escola implica um tempo e um espaço próprios para a escolarização, o que exigiu distintas operações que contribuíram para firmar os limites entre o dentro e o fora da escola.

De acordo com Dussel (2017), a escola atual é mais fragilizada e precária do que no passado, fazendo com que constantemente sejam repensadas as formas e rotinas que normatizam a escolarização. O próprio currículo sofre mudanças para incluir as distintas populações. É necessário, contudo, dotar a escola de algumas condições de perdurabilidade, cada vez mais difíceis de se conseguir: repensar e questionar as condições materiais, imaginar novos dispositivos e métodos coerentes com a realidade atual e considerar quais tecnologias serão utilizadas e para quê. Não se trata de uma nova receita, mas sim de dar forma às inquietudes e preocupações.

É nesse contexto que a informática e os recursos digitais surgem. A atividade escolar e acadêmica vem se transformando, nos últimos anos, com o advento da tecnologia e dos ambientes virtuais de aprendizagem. O histórico dessa revolução do acesso ao conhecimento é relatado por Santos (2013), que afirma que “seria uma grande ingenuidade pretendermos afirmar que as estruturas reflexivas do diálogo podem ser simplesmente transpostas para o universo digital” (SANTOS, 2013, p. 61), enfatizando a complexidade e a falta de arranjo que a dialética do conhecimento sofre, por vezes, em ambientes acadêmicos.

A partir de 1980 os computadores começam a fazer parte da vida das pessoas de forma decisiva no Brasil. Na década seguinte aparecem nas universidades, e apenas no terceiro milênio surgem nas escolas, ampliando gradativamente sua função, de uma máquina de calcular ou escrever até uma máquina social (SANTOS, 2013).

A primeira função do computador nas escolas era tão somente burocrática, utilizado como instrumento auxiliar nas secretarias e nas bibliotecas, facilitando a administração da escola e a catalogação do acervo, respectivamente. Não se pensava na interação professor-aluno-aprendizagem com o auxílio do computador. O uso da máquina para fins pedagógicos tem seu início com os laboratórios de informática, “lugar quase sagrado” (SANTOS, 2013, p. 62), com um professor responsável e com a necessidade de agendamento prévio para sua utilização. A partir daí, houve uma preocupação maior em aliar informática à educação. Outro fato marcante foi o advento da internet, que contribuiu para apresentar criações particulares ou institucionais disponíveis na rede e que permitiu a manifestação da opinião individual e a realização das atividades no ambiente virtual. Em suma, as bases do conhecimento e da própria sociedade em transformação, antes naturais e arquitetônicas, são, doravante, digitais.

O que está em jogo a partir de agora é a entrada do sujeito nesse universo digital e como ele interage com esse meio através de sua pluralidade de identidades. Os novos meios de comunicação e interação social precisam de uma também nova linguagem, capaz de exprimir com exatidão sua plena capacidade. É insuficiente apenas transpor um conteúdo realizado fora do ambiente informatizado para dentro dele, “se faz necessário o estabelecimento de uma nova linguagem que faça jus tanto ao meio como ao sujeito que nele opera” (SANTOS, 2013, p. 70).

A autora adverte que essa rápida evolução tecnológica nos últimos trinta anos ainda não atingiu plenamente os objetivos acadêmicos e educacionais. Alcançamos uma ampla difusão e proliferação do conhecimento jamais vista antes com tamanha intensidade, produzida por um meio democrático de informação e cultura. Entretanto, por mais que esses aparatos tenham um status privilegiado nas sociedades, ainda é preciso pensar e trabalhar no sentido de atingir os objetivos educacionais previstos.

Fica evidente que vivemos em uma sociedade em constante transformação. O que vivenciamos hoje, em muitos aspectos, era impensável num passado não muito longevo. Bezerra e Ribeiro (2016, p. XXII) exemplificam tais mudanças, quando dizem que

se adaptássemos a família-modelo dos anos 1950 para o cenário atual, teríamos de implementar algumas importantes mudanças. Primeiramente, a esposa trabalharia fora e, se tivesse filhos, ela os colocaria em uma creche ou contrataria uma babá. O marido continuaria trabalhando fora, mas em seu segundo ou terceiro emprego, pois as empresas estão em constante processo de fusão, desincorporação e redução de custos. Ainda nesse panorama, a Igreja exerceria importante papel, embora já se abra para o debate de importantes tabus, como o aborto e o casamento homossexual. São fatos inimagináveis para o século passado.

São mudanças recentes e que a escola não pode ignorar. O papel da educação na nossa sociedade deve ser, portanto, objeto da filosofia. Retomando suas definições do início deste estudo, a filosofia tem a atribuição de questionar e problematizar a educação e os sistemas educacionais, a fim de preparar instituições e indivíduos para esta sociedade em constante mudança. “A escola não pode permitir-se fingir-se de morta ou brincar às pedagogias para criar uma certa ilusão de mudança” (BERTRAND, 2001, p. 226), ela deve fazer parte da mudança, acompanhá-la e criá-la. Seguimos com Bertrand (2001), que questiona se há alguma teoria educacional capaz de lidar com essas mudanças.

É neste contexto de uma evolução social mais que problemática que devemos colocar em questão o papel da educação na nossa sociedade. E é este contexto que deita uma luz nova sobre as diferentes teorias da educação. Conterão estes elementos de soluções para esses problemas? Haveria alguma teoria melhor que as outras? Será que existe uma teoria que permita resolver, senão todos estes problemas, pelo menos a maioria deles? (BERTRAND, 2001, p. 226).

As perspectivas atuais de educação apontam para a tentativa da construção de um indivíduo que tenha consciência individual e social, que esteja atento ao mundo que o cerca e às pessoas a sua volta, e que esteja vigilante aos problemas sociais, culturais, políticos e ecológicos. Para tanto, os estudantes de hoje necessitam de uma formação que lhes permita resolver esses problemas; afinal, são eles que terão de resolver esses conflitos e transformar a sociedade. “A educação deve servir para inventar um futuro novo para o nosso planeta” (BERTRAND, 2001, p. 231).

O caráter transformativo da educação e sua missão libertadora são trazidos pelo pensamento freiriano, que sugere uma educação revolucionária tendo em vista a inconclusão do ser humano e a sua possibilidade de, não passivo no mundo, sobrepor-se à ideologia fatalista e lançar as bases do próprio futuro. É essa consciência da inconclusão que coloca o homem inacabado em um constante processo de busca. “Minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da história” (FREIRE, 2017, p. 53).

É a partir das vivências de homens e mulheres que Freire ampara seu pensamento educacional, sobretudo indicando que tais experiências podem ser problematizadas, questionadas, contestadas. Dickmann (2017) salienta que Paulo Freire apresenta muito mais que um jeito de educar: preconiza um processo em que educandos e educadores, em uma relação dialógica e libertadora, refletem sobre seus espaços e contextos de vida.

Freire (2018) concebe, assim, a educação escolar não como uma simples repetição e transmissão de conteúdos, a que denomina educação bancária e na qual há uma forte dicotomia entre homens e mundo. Freire propõe, entretanto, uma educação que tenha a missão de, além de ensinar os conteúdos, ensinar a pensar certo, ou seja, que vise à formação de um sujeito crítico, que não pensa mecanicamente e não é um mero repetidor, alguém que, em suma, tenha condições de, a partir da consciência de seu inacabamento e de sua possível libertação, estar presente no mundo, construindo-o.

6 Considerações finais

O que fizemos neste artigo foi uma breve revisão bibliográfica sobre o papel da Filosofia da Educação, do conhecimento e das fontes do pensamento educacional e, por fim, elucidamos alguns aspectos atuais da educação e suas tendências. Longe da pretensão de esgotar o tema, este estudo objetivou alicerçar o pensamento educacional, compreender de onde ele provém e para onde se encaminha.

Ficou claro para nós que a educação não possui um fim em si mesma: ela é objetivada, isto é, educa-se para algo. O objetivo da educação é objeto de estudo da Filosofia da Educação e das teorias da educação. Buscamos retratar o pensamento de alguns filósofos desde a Grécia Antiga, para construção de um suporte das teorias educacionais.

A educação dos homens e mulheres foi-se modificando de acordo com as mudanças sociais e históricas. (Re)visitamos alguns teóricos que, em virtude de seus ideais, buscaram imprimir na sociedade sua concepção de educação e da própria organização social. Percebemos que, desde o início, a educação esteve voltada para a formação integral do cidadão e que, na verdade, esse objetivo primeiro nunca se alterou: educa-se para criar o tipo de homem ideal. O escopo, a partir de agora, é ainda formar o homem na sua integralidade, porém com metodologias e objetos distintos das Antigas Civilizações, tendo em vista as mudanças cada vez mais aceleradas na sociedade. A educação, o conhecimento e a sociedade são inesgotáveis fontes de pesquisa. Compreender os diferentes pontos de vista nos distintos períodos históricos contribui significativamente para a clareza do que é educação e para que ela serve.

Referências

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Notas de autor

1 Especialista em Matemática Financeira e Estatística. Mestrado em Educação no programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Planalto Catarinense (PPGE/UNIPLAC) – Lages/SC – Brasil. E-mail: wilson.schimila@gmail.com.
2 Pós-doutora em Filosofia. Professora associada no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Planalto Catarinense (PPGE/UNIPLAC) – Lages/SC – Brasil. E-mail: miuxe@uniplaclages.edu.br.
3 Doutora em Educação (PPGEDU/UFRGS). Docente pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Planalto Catarinense (PPGE/UNIPLAC) – Lages/SC – Brasil. E-mail: vanicedossantos@gmail.com.
4 Pós-doutora em Ciências Humanas. Docente pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Planalto Catarinense (PPGE/UNIPLAC) – Lages/SC – Brasil. E-mail: prof.mareli@uniplaclages.edu.br.
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