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Aplicação do processo de avaliação de risco em atividades de colheita florestal semimecanizada e mecanizada

Application of the risk assessment process in semi-mechanized and mechanized forest harvesting activities

Aplicación del proceso de evaluación de riesgos en actividades de aprovechamiento forestal semi-mecanizado y mecanizado

Wanderson Lyrio Bermudes 1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santos (IFES), Brasil
Luciano José Minette 2
Universidade Federal de Viçosa (UFV), Brasil
Denise Ransolin Soranso 3
Universidade Federal de Itajubá, Brasil
Stanley Schettino 4
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil

Aplicação do processo de avaliação de risco em atividades de colheita florestal semimecanizada e mecanizada

Vértices (Campos dos Goitacazes), vol. 22, núm. 1, 2020

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

Este documento é protegido por Copyright © 2020 pelos Autores.

Recepción: 02 Mayo 2019

Aprobación: 08 Abril 2020

Resumo: Na colheita florestal, independente do grau de mecanização, o trabalho humano estará sempre presente, o que exige um planejamento para diminuir os índices de acidentes do trabalho. Nesse contexto essa pesquisa aplicou a metodologia denominada de Processo de Avaliação de Risco em Colheita Florestal (PARCF) para identificar, analisar e avaliar os riscos ocupacionais que se originam na atividade de colheita florestal semimecanizada e mecanizada, de forma a contribuir para o planejamento e implantação de um sistema de controle. A aplicação do PARCF em colheita florestal em atividade semimecanizada indicou a seguinte categoria de risco: quatro baixos, três moderados, oito altos, e nenhum crítico. A operação de corte com motosserra foi considerada a de nível de risco mais elevado. Para a avaliação da atividade de colheita mecanizada o resultado indicou a seguinte categoria de risco: cinco baixos; sete moderados; onze altos e nenhum risco crítico. A operação de corte e carregamento de árvores e o deslocamento da máquina foram consideradas as atividades com nível de risco mais elevado. Os principais controles para a proteção ao trabalhador são os treinamentos, realização da atividade conforme procedimento estabelecido previamente, manutenção das máquinas, utilização dos equipamentos de proteção individual e sinalização sonora das máquinas.

Palavras-chave: Processo produtivo, Segurança do trabalho, Técnicas e operações florestais.

Abstract: In forest harvesting, regardless of the degree of mechanization, human labor will always be present, which requires planning to reduce the rates of accidents at work. In this context, this research applied the methodology called Forest Harvest Risk Assessment Process (PARCF) to identify, analyze and evaluate the occupational risks that originate in the semi-mechanized and mechanized forest harvesting activity, in order to contribute to the planning and implementation of a control system. The application of PARCF in forest harvesting in semi-mechanized activity indicated the following risk category: four low, three moderate, eight high, and no critic. The chainsaw cutting operation was considered to be the highest risk level. For the evaluation of mechanized harvesting activity, the result indicated the following risk category: low five; seven moderates; eleven high and no critical risk. The operation of cutting and loading trees and moving the machine were considered the activities with the highest risk level. The main controls for the protection of the worker are training, carrying out the activity according to the procedure previously established, maintenance of the machines, use of personal protective equipment and sound signaling of the machines.

Keywords: Productive process, Workplace safety, Forestry techniques and operations.

Resumen: En la explotación forestal, independientemente del grado de mecanización, el trabajo humano siempre estará presente, lo que requiere planificación para reducir las tasas de accidentes en el trabajo. En este contexto, esta investigación aplicó la metodología denominada Proceso de Evaluación del Riesgo de Cosecha Forestal (PARCF) para identificar, analizar y evaluar los riesgos laborales que se originan en la actividad de aprovechamiento forestal semi-mecanizado y mecanizado, con el fin de contribuir a la planificación e implementación de un sistema de control. La aplicación de PARCF en la explotación forestal en actividades semi-mecanizadas indicó la siguiente categoría de riesgo: cuatro bajas, tres moderadas, ocho altas y ninguna crítica. La operación de corte de motosierra se consideró como el nivel de riesgo más alto. Para la evaluación de la actividad de cosecha mecanizada, el resultado indicó la siguiente categoría de riesgo: bajo cinco; siete moderados; once alto y sin riesgo crítico. La operación de cortar y cargar árboles y mover la máquina se consideraron las actividades con el nivel de riesgo más alto. Los principales controles para la protección del trabajador son la capacitación, la realización de la actividad de acuerdo con el procedimiento previamente establecido, el mantenimiento de las máquinas, el uso de equipos de protección personal y la señalización acústica de las máquinas.

Palabras clave: Proceso productivo, Seguridad del trabajo, Técnicas y operaciones forestales.

1 Introdução

A produção de florestas plantadas no Brasil oferece enorme importância para a sociedade, em termos econômicos e ambientais, com elevado geração de tributos federais, estaduais e municipais, além de contribuir para a preservação e recuperação de ecossistemas, ao proteger 6,0 milhões de hectares de áreas naturais (INDÚSTRIA BRASILEIRA DE PRODUTORES DE ÁRVORES, 2017).

O setor possui uma área ocupada por plantios de 7,3 milhões de hectares com espécies dos gêneros Eucalyptus spp. e Pinus spp. Esse recurso florestal renovável apresenta relevada importância para o desenvolvimento do país, ao contribuir para a geração de emprego e renda (INDÚSTRIA BRASILEIRA DE PRODUTORES DE ÁRVORES, 2017; MOREIRA; SIMIONI; OLIVEIRA, 2017).

No Estado do Espírito Santo, o setor florestal contribui para o desenvolvimento socioeconômico, geração de empregos, aumento da remuneração salarial e arrecadação de impostos. Em 2016, por exemplo, o Estado possuía, para produção, um total de 233.760 hectares plantados dos gêneros Eucalyptus spp. e Pinus spp. (INDÚSTRIA BRASILEIRA DE PRODUTORES DE ÁRVORES, 2017).

A cadeia produtiva florestal brasileira é caracterizada pela grande diversidade de atividades que incluem a produção, a colheita e a transformação da madeira em produto final. Entre as diversas etapas de produção, destaca-se a colheita florestal, que é uma atividade complexa e de alto custo econômico, e que, segundo Silva et al. (2014), pode representar mais da metade do custo final da madeira posta na fábrica.

Apesar do desenvolvimento econômico proporcionado pela atividade florestal e melhoria nos métodos e sistemas de trabalho, o processo de extração de madeira é um dos segmentos com maior incidência de acidentes fatais no mundo, e atingiu, em 2014, nos Estados Unidos da América, o índice de 1,09 morte para cada grupo de 1.000 trabalhadores, contra 0,033 morte de média em todos os segmentos no País (CONWAY et al., 2017; LASCHI et al., 2016).

No Brasil, há indicadores similares, do período de 2007 a 2012, os acidentes de trabalho em atividades de florestas plantadas, contabilizaram em média uma incidência de 30 acidentes para cada grupo de 1.000 trabalhadores, enquanto a média nacional, envolvendo todos os segmentos econômicos, foi de 20 acidentes para cada grupo de 1.000 trabalhadores (BERMUDES; FIEDLER; CARMO, 2014).

O custo dos acidentes de trabalho impacta em até 4% o Produto Interno Bruto (PIB) de algumas nações. Os acidentes poderiam ser evitados se as organizações implementassem métodos eficientes de gerenciamento dos trabalhos, de forma a influenciar positivamente a prática laboral e a adoção de técnicas de análise de riscos para resolver os problemas relacionados à segurança do trabalho (FLORIANI NETO; RIBEIRO, 2016; PORTO, 2000; ABNT, 2012; OMS, 2004; VINODKUMAR; BHASI, 2010).

Diante dessa necessidade, este trabalho aplicou um processo de avaliação de risco, que por meio de seus princípios, identificou, analisou e avaliou os riscos ocupacionais que se originam na atividade de colheita florestal semimecanizada e mecanizada, de forma a contribuir para o planejamento e implantação de um sistema de controle, que vise ã saúde e à segurança dos trabalhadores e, consequentemente, que resulte na melhor produtividade para a execução da atividade, por meio de uma gestão proativa.

2 Metodologia

Para essa avaliação de risco em atividades de colheita semimecanizada e mecanizada, em atividades florestais no norte do Estado do Pará no mês de julho de 2017, foi adotada a metodologia denominada Processo de Avaliação de Risco em Colheita Florestal - PARCF, desenvolvida por Bermudes (2018), que consiste em: Identificação do risco (reconhecimento e descrição); Análise (compreender sua natureza e determinar o seu nível) e Avaliação (o processo de comparar os resultados da análise e avaliação de riscos, com os critérios legais para determinar se sua magnitude é aceitável ou não).

A construção do PARCF, abrangeu o estudo de técnicas de análises de riscos apresentadas na NBR ISO 31010 (ABNT, 2012), incluiu a participação dos trabalhadores da colheita florestal, em entrevista com consentimento livre e esclarecido do participante, que permitiu identificar, em diversos níveis organizacionais, os riscos, os acidentes de trabalho que por ventura tenham ocorrido nas atividades da colheita florestal e as características da atividade.

Precedeu a aplicação do PARCF uma reunião inicial para estabelecimento do contexto, a qual consistiu em: identificação do perfil da organização para melhor compreender as práticas de gerenciamento de risco; explanação dos objetivos do PARCF aos envolvidos: itens e critérios e o instrumento de avaliação, para a compreensão e conscientização de todos sobre os principais aspectos e sistemáticas do método; nivelamento dos conceitos do PARCF: risco, nível de risco, frequência, probabilidade e gravidade, dentre outros.

A técnica estabelecida para avaliação foi qualitativa e utilizou as características da colheita florestal para identificação e análise dos riscos e especificou as consequências dos acidentes, níveis de risco, aspectos legais e propostas de controle.

A identificação do risco proposto no PARCF foi originada de uma lista de eventos que possam ocorrer em cada etapa de uma tarefa de colheita florestal. Para tanto, foi necessário previamente identificar os fatores internos e externos de uma organização que possam influenciar na sua atividade.

Os fatores analisados foram os edáficos meteorológicos (sensação térmica do trabalhador, velocidade do vento, chuva, topografia e o solo), florestal (espécies colhidas, pedregosidade – obstáculo de origem rochosa, leiras, sub-bosques e a existência de madeira danificada), contextos operacional e organizacional (métodos de corte, máquina e equipamentos utilizados, manutenção ou inspeção realizadas, treinamento e postura de trabalho), fator humano e social (experiência da atividade, atestado de saúde, treinamento, satisfação da equipe e levantamento manual de carga) (BERMUDES, 2018).

Para auxiliar na identificação de evento e seus riscos, a informação foi obtida por meio de análise dos seguintes documentos: Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais (PPRA) conforme Norma Regulamentadora – NR 09; Programa de Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente do Trabalho Rural – PGSSMATR da NR 31; mapa de risco; laudos ergonômicos; manuais de máquinas; registros de acidentes de trabalho ocorridos em outras frentes de trabalho (SEGURANÇA..., 2017).

No preenchimento do PARCF, foi necessário identificar as consequências dessa exposição, para demonstrar aos executantes o potencial de lesão de cada risco, que pode variar conforme a intensidade e tempo de exposição (SEGURANÇA..., 2017).

A etapa da análise buscou desenvolver a compreensão dos riscos, seu nível de risco, as legislações pertinentes, e recomenda o tratamento (ABNT, 2018). O preenchimento do PARCF determinou, durante a análise, a identificação da origem do risco, com objetivo não apenas de proteger o trabalhador, mas propor medidas de controle que possam eliminar o elemento que tem o potencial de dar origem ao risco.

O PARCF, por meio de suas diretrizes, incluiu a verificação da legislação em matéria de segurança e saúde no trabalho que, no Brasil, estão associadas diretamente às normativas regulamentares do Ministério do Trabalho. Essa verificação ampara a aplicação do controle de risco adequada à realidade brasileira (BOLONHESI; CHAVES; MENDES, 2008).

A matriz do PARCF destacou os riscos de cada atividade cujos eventos ou consequências necessitam de controles mais efetivos antes de ser iniciada (COX JR., 2008; OLIVEIRA, 1999). Além de abordar os aspectos de probabilidade e gravidade dos eventos, a matriz apresentada nesta pesquisa inclui a frequência da execução da atividade. A inclusão do aspecto “frequência”, diferente das matrizes de risco observadas na literatura, visa garantir a gestão dos controles rígidos nas atividades rotineiras, mesmo com probabilidade baixa de ocorrer um evento de pequena gravidade (BERMUDES, 2018).

Diante desses aspectos foi adotado um procedimento matemático para determinar a necessidade de controle de ações, conforme o resultado da multiplicação dos fatores de frequência, probabilidade e gravidade, que ocasionou 13 possibilidades de classificação do nível de risco que variam de 1 a 36. Para a classificação de nível de risco foi adotado o seguinte julgamento: 1 a 3 risco baixo; 4 a 6 risco moderado, 7 a 12 risco alto, e de 13 a 36 risco crítico (BERMUDES, 2018).

Diante das possibilidades de categorias de risco, conforme julgamento proposto, exemplificado no Quadro 1, o PARCF indicou aos pesquisadores a permissão ou não da execução da atividade e a adoção de práticas de organização sobre as ações e documentos a serem implementados no controle de risco.

Quadro 1.
Categoria do risco e ação sugerida conforme PARCF
Categoria do riscoAção
BaixoAceitável. Não há impedimento para a realização da atividade. A equipe de execução da atividade deve ser orientada previamente sobre a análise de risco.
ModeradoAceitável. Deve existir um registro formal da orientação prévia de trabalho.
AltoAceitável. Deve existir um registro formal da orientação prévia de trabalho. Todas as medidas de controle obrigatórias devem ser adotadas e verificadas antes do início da atividade com registro.
CríticoNão aceitável. A atividade não pode ser iniciada. Devem ser propostos novos controles e nova aplicação do PARCF.
Fonte: Bermudes (2018)

3 Resultados e discussão

3.1 Atividade avaliada - colheita florestal semimecanizada

No preenchimento do PARCF da atividade de colheita florestal semimecanizada, foram obtidos os seguintes resultados no fator edáfico meteorológico: solo com nenhuma presença de pedregosidade; com brisa leve, poucas nuvens e sem possibilidade de chuvas, mas, com a elevada temperatura do ambiente, de 33 ºC avaliada com o termômetro de bulbo seco, no momento da análise, a sensação térmica do trabalhador foi descrita como moderada.

Na análise do fator floresta, notou-se o seguinte: sem ocorrência de leira; sub-bosque com leve restrição ao deslocamento dos empregados; declividade menor que 15%; e ausência de madeiras danificadas pelo vento.

Para as características organizacionais e operacionais, foram notadas as seguintes: atividades semimecanizadas com a utilização de motosserra; declaração do encarregado que a empresa possui plano de manutenção das máquinas e equipamentos e os operadores fazem a inspeção e os ajustes em campo; operador com treinamento de motosserra, fornecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR); a postura de trabalho do operador da máquina é predominantemente agachada.

Na análise do fator humano e social, foram observados os seguintes aspectos: o motosserrista tem experiência de 36 meses, e o ajudante trabalha nessa atividade há 12 meses; possuíam Atestado de Saúde Ocupacional - ASO adequado à sua tarefa, conforme relato da empresa; eram treinados, e se descreveram como satisfeitos com a profissão; realizavam levantamento manual de carga de até 10 kg.

Para a identificação dos eventos, riscos, fontes e suas consequências, foram utilizados um descritivo da atividade de derrubada do Eucalyptus spp., questionário aplicado aos empregados nas frentes de trabalho e referencial teórico.

A aplicação do questionário adaptado, proposto por Silva (2011), buscou identificar a ocorrência de acidentes, a existência de atividades perigosas e penosas, riscos e meios de proteção (Tabela 1).

Tabela 1.
Resposta dos empregados das atividades florestais adaptado conforme questionário de Silva (2011)
Itens e questionamentoEntrevistadosAlternativas
Sofreu acidente?41Típico (%)Trajeto (%)Doença Ocupacional (%)
9,7%2,4%0%
Atividade é perigosa?41SimNãoNão sabiam ou não responderam
78,0%22,0%0%
Atividade é cansativa?41SimNãoNão sabiam ou não responderam
85,3%14,7%0%
Recebeu treinamento para essa atividade?41SimNãoNão sabiam ou não responderam
95,1%0%4,9%
Recebe treinamento periódico?41SimNãoNão sabiam ou não responderam
24,4%56,1%19,5%
A máquina que você utiliza oferece boa segurança?36SimNãoNão sabiam ou não responderam
77,7%8,3%13,9%
A máquina se encontra em bom estado de conservação?38SimNãoNão sabiam ou não responderam
81,5%10,5%8,0%
A vibração gerada pela máquina causa desconforto?25SimNãoNão sabiam ou não responderam
20,0%72,0%8,0%
Você considera o ruído excessivo?41SimNãoNão sabiam ou não responderam
48,7%43,9%7,4%
Você considera o calor no local de trabalho excessivo?41SimNãoNão sabiam ou não responderam
56,1%29,3%14,6%
Fonte: Os autores (2018)

A Tabela 1 indica que os operadores entrevistados percebem a existência dos riscos no ambiente de trabalho, consideram a atividade perigosa e cansativa, recebem da empresa treinamentos iniciais, porém há falha na reciclagem do conhecimento e, em sua maioria, avaliam como seguros e conservadas as máquinas utilizadas nas frentes de trabalho.

Essa percepção das características do trabalho descritas neste trabalho é recorrente em outras pesquisas desse segmento, como as abordadas por Heck Junior e Oliveira (2015), que descrevem as atividades mais perigosas da colheita florestal; a de Lopes et al. (2011), que relata que 17,4% dos trabalhadores entrevistados em seu estudo já sofreram acidentes de trabalho; e a de Britto et al. (2015), que destaca, no seu grupo de trabalhadores entrevistados no estado do Paraná, que 68,8% consideram a atividade florestal cansativa.

Ainda, conforme questionário aplicado aos empregados e na verificação do ambiente de trabalho, foram identificados os seguintes riscos no Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA fornecido pela empresa (Quadro 2): físicos: calor, ruído e vibração. A intensidade do ruído para oito horas diárias foi de 92,0 dB(A); vibração localizada (mãos e braços) 2,0 m.s-2 para o mesmo período, proveniente da utilização da motosserra; Calor proveniente do trabalho a céu aberto de 30 ºC. O limite de exposição diário do ruído e vibração para uma jornada de 8 horas diária é de 85 dB(A) e 5,0 m.s-2 respectivamente e para o calor é de 31,1 ºC; químico: monóxido de carbono gerado na queima do combustível da motosserra e poeira de madeira; acidentes: contato com partes móveis da motosserra; ataques de animais peçonhentos; queda de árvore e galhos sobre o empregado; projeção de material; queda de mesmo nível; ergonômicos: exigência de posturas forçadas por longos períodos e levantamento e transporte manual de carga.

Quadro 2.
Determinação do evento, risco, fonte e consequência – PARCF para atividade semimecanizada
AtividadesEventoRiscoFonteConsequência
Preparar máquina e ferramentas manuaisContato com partes cortantesCorteMotosserraLesão
Exposição ao calorCalorNatural (Sol)Insolação e sudorese
Usar os equipamentos de proteção---------
Deslocar-se para a árvore a ser derrubadaQueda de mesmo nívelMateriais dispersos no soloMaterial no piso (Sub-bosque)Lesão leve
Exposição ao calorCalor 33 ºC ambiente.Natural (Sol)Sudorese
Exposição a ataques de animais peçonhentosAtaque de animais peçonhentosAnimais peçonhentosLesão (picada)
Ligar a motosserraExposição a fontes de ruídoRuído 92,0 dB(A)MotosserraPerda de Audição induzida pelo Ruído - PAIR
Exposição a máquinas com vibraçãoVibração Aceleração resultante da exposição normalizada - Aren 2,0 m/s2MotosserraDoenças vasculares periféricas
Exposição a gases poluentesMonóxido de carbonoMotosserraIncômodo
Contato com partes cortantesCorteMotosserraCorte
Rebote da motosserraImpacto de objeto contra o trabalhadorMotosserraLuxação
Retirar qualquer empecilhoExposição a fontes de ruídoRuídoMotosserraPAIR
Exposição a máquinas com vibraçãoVibraçãoMotosserraDoenças vasculares periféricas
Exposição a gases poluentesMonóxido de carbonoMotosserraIncômodo
Contato com partes cortantesCorteMotosserraCorte
Movimentação de cargaLevantamento manual de cargaCarga - MotosserraLesões musculoesqueléticas
Sobrecarga térmicaCalorNatural (Sol)Sudorese
Exposição a ataques de animais peçonhentosAtaque de animais peçonhentosAnimais peçonhentosLesão (picada)
Exposição a particulados.Poeira de madeiraCorte de madeiraIncômodo
Execução de atividade em posição inadequadaPostura inadequadaManuseio da motosserraLesões lombares e musculoesqueléticas
Derrubada de Eucalyptus spp.Exposição a fontes de ruídoRuídoCorte da madeiraPAIR
Exposição a máquinas com vibraçãoVibraçãoCorte da madeiraDoenças vasculares periféricas
Exposição a gases poluentesMonóxido de carbonoTrabalho a céu abertoSudorese intensa
Contato com partes cortantesCorteMotosserraLesões diversas
Corte
Contato com galho e árvores em quedaQueda de galhos e árvoresCorte da madeiraLesões diversas ou morte
Contato com material projetadoProjeção de materialCorte da madeiraPerfurações e lesões diversas
Exposição a particuladosPoeira de madeiraCorte de madeiraIncômodo
Execução de atividade em posição inadequadaPostura inadequadaManuseio da motosserraLesões lombares e musculoesqueléticas
Sobrecarga térmicaCalor IBUTG 30 ºCNatural (Sol)Sudorese, desidratação e câimbras
Retornar para o local de descansoQueda de mesmo nívelMateriais dispersos no soloMaterial no piso (Sub-bosque)Lesão leve
Exposição ao calorCalor 33 ºC ambienteNatural (Sol)Sudorese
Exposição a ataques de animais peçonhentosAtaque de animais peçonhentosAnimais peçonhentosLesão (picada)
Fonte: Os autores (2018)

Esses riscos identificados são recorrentes em pesquisas desse segmento, com destaque para o ruído, vibração, calor, exigências de posturas inadequadas (ALMEIDA; ABRAHÃO; TERESO, 2015; FIEDLER; RODRIGUES; MEDEIROS, 2006; MINETTE et al., 1998, 2007; SANT’ANNA; MALINOVSKI, 2002), porém, sem análise e avaliação, conforme preceitos da NBR ISO 31000 (ABNT, 2018) ou similar.

Em atividades similares na Nova Zelândia, o estudo de Bentley, Parker e Ashby (2005), referente aos anos de 1996 a 2000, destacaram uma incidência de 22% de lesões na cabeça e face de um total de 351 casos analisados, que levaram a 231 dias perdidos de trabalho. Enquanto na província de Trento, na Itália, entre os anos 1995 a 2013, o maior número de lesões registrados ocorreram nas mãos do trabalhador nessa atividade (LASCHI et al., 2016).

Para a análise, foi verificada a causa, legislação aplicável, controle e nível de risco. A causa se refere à ação que gera o risco, para identificação da legislação aplicável, controle, e se a inclusão do controle inseriu algum novo risco na tarefa.

Para a adoção das medidas de controle, foram observadas as Normas Regulamentadoras – NR (12, 15, 17, 21 e 31) aplicadas à atividade de colheita florestal, e indicadas para cada fator de risco, separadas por: eliminar o risco ou a atividade; reduzir a probabilidade do evento ou sua gravidade.

Por se tratar de uma análise de risco na frente de trabalho, ou seja, ausente de planejamento prévio da forma de execução, os controles foram adotados apenas na redução da probabilidade e gravidade do evento, sem análise de alternativas para eliminar a atividade.

Entre as consequências que podem ser geradas na execução dessa tarefa, destacam-se as lesões diversas e até a morte, causada pela queda de árvore sobre o trabalhador, recorrente em outras pesquisas (MINETTE et al. 1998; HECK JUNIOR; OLIVEIRA, 2015).

Conforme critério de julgamento da atividade de derrubada de Eucalyptus spp., essas apresentaram uma variedade de nível de risco, com destaque para o corte e queda de árvore e galhos que obtiveram a intensidade “alto” na categoria de risco (Tabela 2). Corroboram com essa pesquisa o estudo na Suécia, entre os anos de 1987 e 1988, que identificou a maior incidência de acidentes fatais (78%) durante a derrubada de árvores na colheita florestal (THELIN, 2002) e de Laschi et al. (2016) que também apresentam o corte de árvore semimecanizado como a atividade de maior risco.

Tabela 2.
Análise de risco do estudo de caso para atividade semimecanizada
RiscoCausaNR aplicávelMedidas de controleNível de risco
Eliminar o riscoEliminar a etapaReduzir a probabilidadeReduzir a gravidadeGera risco? S/NFPGTCAV
Corte – derrubada de árvoreOperação de motosserra01, 12 e 31----Treinamento, dispor dos dispositivos de segurança da máquina (freio, pino pega corrente, protetor de mãos e trava de segurança) e manutenção da motosserra.Uso de luva, perneira e calça.N32212RAA
Calor – deslocamento nas frentes de trabalhoTrabalho sem proteção contra intempéries01, 07, 09 e 21----Treinamento e realização de exames médicosInserir pausas 45 minutos trabalho e 15 minutos de descanso, conforme NR 15 anexo 3. Disponibilizar abrigos. Uso de roupa de manga longaN3113RBA
Calor (derrubada de eucalipto)Trabalho sem proteção contra intempéries01, 07, 09 e 21----Treinamento e realização de exames médicosInserir pausas 45 minutos trabalho e 15 minutos de descanso., conforme NR 15 anexo 3. Disponibilizar abrigos. Uso de roupa de manga longaN3319RAA
Materiais dispersos no soloMaterial no piso (Sub-bosque)01 e 31----Orientação prévia antes da atividadeUso de calçado de segurançaN3113RBA
RuídoMotosserra09 e 12----Manutenção e inspeção da motosserra, treinamentoUso de protetor auditivo com fatores de atenuação maior de 12 dBN3139RAA
VibraçãoMotosserra09 e 12----Manutenção e inspeção da motosserra. TreinamentoManter uso de luva antivibração.N3126RMA
Monóxido de carbonoMotosserra09 e 12----Treinamento. Posicionar-se de forma a utilizar a ventilação local como dispersor do riscoInterromper a atividade em caso de incômodoN3113RBA
Levantamento manual de cargaCarga - Motosserra17----Treinamento--N3113RBA
Queda de galhos e árvoresCorte da madeira01 e 31----Treinamento. Posicionar fora do raio de ação da queda da árvore.Uso de capaceteN22312RAA
Projeção de materialCorte da madeira31----TreinamentoUso de perneira, protetor facial, luva e camisa de manga longaN3319RAA
Postura inadequada – derrubada de árvoreManuseio da motosserra17----Treinamento--N3319RAA
Ataque de animais peçonhentosDeslocamento em locais com risco de ataque de animais peçonhentos31Observar os locais de deslocamentoUtilizar perneiraUtilizar perneira, calça e camisa comprida e botina de segurançaN1224RMA
Rebote da motosserraOperação da motosserra12----TreinamentoTreinamento, dispor dos dispositivos de segurança da máquina (freio, pino pega corrente, protetor de mãos e trava de segurança) e manutenção da motosserra.N3216RMA
Postura inadequada – retirada de empecilhoManuseio da motosserra17----Treinamento--N3319RAA
Corte – retirada de empecilhoOperação de motosserra01, 12 e 31----Treinamento, dispor dos dispositivos de segurança da máquina (freio, pino pega corrente, protetor de mãos e trava de segurança) e manutenção da motosserra.Uso de luva, perneira e calça.N32212RAA

Legenda: S – Sim; N – Não; F – Frequência; P – Probabilidade; G – Gravidade; T – Resultado do nível de risco; C - Categoria de risco; RB – Risco Baixo; RM – Risco Moderado; RA – Risco alto; RC – Risco crítico; AV – Avaliação; A – Aceitável e I – Não aceitável.

Fonte: Os autores (2018)

Dentre os resultados apresentados no aspecto de normativas de referência, destacam-se as NR 12, 15, 17, 21 e 31, que tratam da proteção dos empregados nas operações com motosserra e os riscos ergonômicos, e os limites de tolerâncias para os riscos físicos, foram observados também nas pesquisas de Heck Junior e Oliveira (2015), Minette et al. (2007) e Canto et al. (2007) os riscos e os respectivos controles.

No que se refere à alta gravidade de risco na atividade de corte da árvore, percebido nesta análise, Nascimento e Catai (2017) obtiveram resultado similar ao realizar as avaliações quantitativas e qualitativas dos riscos, e analisarem a tarefa perante as normativas 9, 15, 17 e 31 da Secretaria do Trabalho do Ministério da Economia do Governo Federal. Essa mesma gravidade foi observada por Laschi et al. (2016), ao analisar registros de acidentes ocorridos na província de Trento na Itália de 1995 a 2013.

O não atendimento aos itens legais e normativos impede a garantia de proteção ao trabalhador, expõe a empresa a notificações, interdições, embargos e multas dos órgãos fiscalizadores e, em caso de ocorrência de acidentes, pode acarretar, além dos custos diretos da ocorrência, a ampliação dos custos do Seguro Acidente de Trabalho – SAT – e ações regressivas do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS – quando notada a inobservância das normas de higiene e segurança do trabalho por parte da empresa (GAMA, 2017).

O resultado do nível de risco, obtido pelo cálculo da frequência, probabilidade e gravidade da análise realizada, indicou a seguinte categoria de risco: quatro baixos, três moderados, oito altos, e nenhum crítico. A operação de corte com motosserra foi considerada a de nível de risco mais elevado.

A identificação de cinco riscos de categoria altos, na etapa da análise, reforça a importância da aplicação e manutenção dos controles de risco nessas atividades, para garantia da proteção ao empregado e atendimento às exigências contidas nas normas regulamentadoras.

A avaliação da atividade oriunda do nível de risco indica que as atividades foram consideradas de risco aceitável, ou seja, são possíveis de execução, tendo como principais controles os treinamentos, realização da atividade conforme procedimento estabelecido previamente, manutenção das máquinas, utilização dos equipamentos de proteção individual.

3.2 Atividade avaliada - colheita florestal mecanizada

Para a atividade mecanizada foram obtidos os seguintes resultados: no contexto edáfico meteorológico, foi obtida a seguinte análise: solo com nenhuma presença de pedregosidade e sem restrição; terreno com declividade menor de 15%; condições brisa leve, poucas nuvens e sem possibilidade de chuvas, mas, com a elevada temperatura do ambiente, de 34 ºC medida com termômetro de bulbo seco, no momento da análise. A sensação térmica dos operadores era favorável devido às cabines climatizadas das máquinas.

Na atividade analisada conforme o processo de avaliação de risco, perceberam-se as seguintes características dos fatores florestal para aquele local e período: sem ocorrência de leira; sub-bosque com leve restrição ao deslocamento dos trabalhadores e máquinas; e ausência de madeiras danificadas pelo vento.

Para as características organizacionais e operacionais, foram notados os seguintes: atividades mecanizadas com a utilização de harvester e forwarder com declaração do Serviço Especializado em Segurança e Saúde no Trabalho Rural - SESTR que a empresa possui plano de manutenção das máquinas e os operadores fazem a verificação e os ajustes em campo; operadores com treinamento de operação fornecido pela empresa; postura de trabalho dos operadores das máquinas é predominantemente sentado.

Na análise do fator humano e social, foram observados os seguintes aspectos: os operadores e o líder têm experiência superior a 44 meses; possuíam ASO adequado à sua atividade; eram treinados, e se descreveram como satisfeitos com a profissão; não realizavam levantamento manual de carga.

Conforme as verificações no ambiente de trabalho, dentro da cabine, foram identificados os seguintes riscos no PPRA da empresa, projetados para uma exposição de 08 horas (Quadro 3): físicos: ruído e vibração – proveniente da utilização da operação da máquina. Harvester: A intensidade do ruído para oito horas diárias foi de 80,2 dB(A); vibração de corpo inteiro 0,76 m.s-2 e Valor de Dose de Vibração Resultante – VDVR 13,10 m.s-1,75. No forwarder a intensidade de ruído foi de 81,2 dB(A) e a vibração de corpo inteiro foi de 0,65 m.s-2 e VDVR 11,5 m.s-1,75. O limite de exposição diário do ruído e vibração para uma jornada de 8 horas diária é de 85 dB(A) e 5,0 m.s-2 respectivamente; acidentes: contato em partes de risco da máquina; tombamento; queda de materiais sobre pessoas ou máquina; impacto de pessoa contra objeto em movimento e colisão e ataques de animais peçonhentos; ergonômico: exigência de postura inadequada.

Quadro 3.
Determinação do evento, risco, fonte e consequência para atividade mecanizada - PARCF
AtividadesEventoRiscoFonteConsequência
Derrubada e processamento com harvester
Inspeção da máquinaExigência de postura inadequadaAssento sem regulagem de altura e de mobilidadeAssento do harvesterDor na coluna
Subir na máquinaContato em partes de risco da máquinaExposição a partes metálicas da máquinaHarvesterLesão na perna e mãos
Acionar e deslocar a máquinaExigência de postura inadequadaAssento sem regulagem de altura e de mobilidadeAssento harvesterDor na coluna
TombamentoTombamento da máquinaOperação do harvesterLesões graves ou fatal
Operação da máquinaExposição ao ruídoRuído 80,2 dB(A)Operação do harvesterPerda de audição
Exposição a máquina com vibraçãoVibração Aren 0,76 m/s2 e VDV 13,10 m.s-1,75Operação do harvesterLesão na coluna
TombamentoTombamento de máquinaOperação do harvesterLesão grave ou fatal
Impacto de pessoa contra objeto em movimento e colisãoQueda de toras de Eucalyptusspp.Descarga de toras sem observação do riscoLesão grave ou fatal
Estacionamento da máquinaContato com pessoas pela máquinaAtropelamento e colisãoOperação do harvesterLesões graves ou fatal
Descer da máquinaContato em partes de risco da máquinaExposição a partes metálicas da máquinaHarvesterLesões na perna e mãos
Retornar a pé ao local de transporteExposição a ataques de animais peçonhentosAtaque de animais peçonhentosAnimais peçonhentosLesão (picada)
Operação com carregador florestal
Inspeção da máquinaExigência de postura inadequadaAusente de regulagem de altura e sem mobilidadeAssento do carregador florestalDor na coluna
Subir na máquinaContato em partes de risco da máquinaExposição a partes metálicas da máquinaCarregador florestalLesão na perna e mãos
Acionar e deslocar a máquinaExigência de postura inadequadaAusente de regulagem de altura e sem mobilidadeAssento carregador florestalDor na coluna
TombamentoTombamento da máquinaCondução do carregador florestalLesões graves ou fatal
Operação da máquinaExposição ao ruídoRuído 81,2 dB(A)Operação do carregador florestalPerda de audição
Exposição a máquinas com vibraçãoVibração Aren 0,65 m/s2 e VDV 11,5 m.s-1,75Operação do carregador florestalLesão na coluna
TombamentoTombamento de máquinaCondução do carregador florestalLesão grave ou fatal
Impacto de pessoa contra objeto em movimento e colisãoQueda de toras de Eucalyptus spp.Descarga de toras sem observação do riscoLesão grave ou fatal
Estacionamento da máquinaContato com pessoas pela máquinaAtropelamento e colisãoOperação do carregador florestalLesões graves ou fatal
Descer da máquinaContato em partes de risco da máquinaExposição a partes metálicas da máquinacarregador florestalLesões na perna e mãos
Retornar a pé ao local de transporteExposição a ataques de animais peçonhentosAtaque de animais peçonhentosAnimais peçonhentosLesão (picada)
Fonte: Os autores (2018)

Os riscos de tombamento de máquinas, ergonômicos e ambientais, de vibração e ruído, identificados nessa análise também foram observados em outras pesquisas, nesse mesmo cenário de trabalho, conforme notado por Minette et al. (2007), Silva et al. (2013) e Almeida, Abrahão e Tereso (2015). Foi observado também nesta pesquisa a possibilidade de lesão nas pernas e mãos ocasionada durante o acesso à máquina, resultado similar ao obtido Laschi et al. (2016) ao analisar acidente com operadores de máquinas florestais na Itália.

Para a análise, foi verificada a causa, legislação aplicável, controle e nível de risco. A causa se refere à ação que gera o risco, para identificação da legislação aplicável ao risco e seu controle. E se a inclusão do controle inseriu algum novo risco na tarefa (Tabela 3).

Dentre as medidas de controle com maior incidência destacam, pela característica da atividade, o treinamento periódico dos operadores e a manutenção das máquinas, que, conforme apresentado por Linhares et al. (2012), além de garantir maior proteção ao trabalhador interfere diretamente na produção da colheita florestal.

As consequências da execução dessa tarefa perante os riscos identificados são variadas, e têm como maior gravidade a morte de empregado e que pode ocorrer durante tombamento da máquina ou em caso de atropelamento.

Tabela 3.
Análise de risco do estudo de caso para atividade mecanizada
RiscoCausaNR aplicávelMedidas de controleNível de risco
Eliminar ou reduzir riscoEliminar a etapa ou frequênciaReduzir a probabilidadeReduzir a gravidadeGera risco? S/NFPGTCAV
Derrubada e processamento com harvester
Assento sem regulagem de altura e ausente de mobilidadeInspeção da máquina17---TreinamentoManter postura com a coluna erguida e comunicar ao líder qualquer incômodoN1212RBA
Exposição a partes metálicas da máquinaAcesso a máquina sem utilizar corretamente a escada.17 e 31----Utilizar o corrimão da escada para acesso no caminhão. E posicionar a máquina de forma a facilitar a subida pela esteira.Utilizar botina, luva de segurança e calça comprida.N1212RBA
Assento sem regulagem de altura e ausente de mobilidadeCondução da máquina17--Inserir pausas de 15 minutos a cada 45 de trabalhoTreinamentoManter postura com a coluna erguida e comunicar ao líder qualquer incômodoN3213RMA
Tombamento da máquinaPiso inclinado, excesso de velocidade e alavanca de movimento acionada.12 e 31Antes de ligar observar se a alavanca de neutralizar movimento está acionada--Treinamento de operaçãoUtilizar cinto de segurançaN3139RAA
RuídoOperação do HVT09 e 15Manutenção de máquinas--Manutenção de máquinasUso de protetor auditivoN2114RBA
VibraçãoOperação do HVT09 e 15Manutenção de máquinas e assento adequado--Manutenção de máquinas e assento adequadoManutenção do assentoN2228RAA
Tombamento da máquinaPiso inclinado, excesso de velocidade.12 e 31Não utilizar máquina bloqueada em curvas e manter a velocidade compatível com o local--Não utilizar máquina bloqueado em curvas.Utilizar cinto de segurançaN3139RAA
Queda de toras de Eucalyptus spp.Descarga de toras sem observação do risco12 e 31Observar se o cabeçote prendeu a madeira totalmente e manter segura a madeira na ocasião do abate. Solta a madeira antes do impacto no chão--Observar se o cabeçote prendeu a madeira totalmente e manter segura a madeira na ocasião do abate. Solta a madeira antes do impacto no chão.--N22312RAA
Impacto de pessoa contra objeto em movimento e colisãoMáquina estacionada de forma inadequada12Deixar o disco de corte parar por total, usando para tal um toco de árvore.--Sinalizar a máquina (sonoro e visual). Pessoal de campo usar roupa altamente visível.--N22312RAA
Exposição a partes metálicas da máquinaAcesso a máquina sem utilizar corretamente a escada17 e 31----Utilizar o corrimão da escada para acesso no caminhão. E posicionar a máquina de forma a facilitar a descida pela esteira.Utilizar botina e calça comprida.N1224RMA
Ataque de animais peçonhentosDeslocamento em locais com risco de ataque de animais peçonhentos31Observar os locais de deslocamentoUtilizar perneiraUtilizar perneira, calça e camisa comprida e botina de segurançaN1224RMA
Operação com carregador florestal
Assento sem regulagem de altura e ausente de mobilidadeInspeção da máquina17----TreinamentoManter postura com a coluna erguida e comunicar ao líder qualquer incômodoN1212RBA
Exposição a partes metálicas da máquinaAcesso a máquina sem utilizar corretamente a escada.17 e 31----Utilizar o corrimão da escada para acesso no caminhão. E posicionar a máquina de forma a facilitar a subida pela esteira.Utilizar botina, luva de segurança e calça comprida.N1224RMA
Assento sem regulagem de altura e de mobilidadeCondução da máquina17--Inserir pausas de 15 minutos a cada 45 de trabalhoTreinamentoManter postura com a coluna erguida e comunicar ao líder qualquer incômodoN3216RMA
Tombamento da máquinaPiso inclinado, excesso de velocidade e alavanca de movimento acionada.12 e 31Antes de ligar observar se a alavanca de neutralizar movimento está acionada--Treinamento de operaçãoUtilizar cinto de segurançaN3139RAA
Exposição ao ruídoOperação do carregador florestal09 e 15Manutenção de máquinas--Manutenção de máquinasUso de protetor auditivoN2112RBA
Exposição a vibraçãoOperação do carregador florestal09 e 15Manutenção de máquinas e assento adequado--Manutenção de máquinas e assento adequadoManutenção do assentoN2228RAA
Tombamento da máquinaPiso inclinado, excesso de velocidade.12 e 31Não utilizar máquina bloqueada em curvas e manter a velocidade compatível com o local--Não utilizar a máquina bloqueada em curvas.Utilizar cinto de segurançaN3139RAA
Queda de toras de Eucalyptus spp.Carregamento de toras sem observação do risco12 e 31Observar se a garra prendeu a madeira totalmente e manter segura.--Observar se a garra prendeu a madeira totalmente e manter segura.--N22312RAA
Queda de toras de Eucalyptus spp.Deslocamento do carregador florestal com madeira12 e 31Manter velocidade compatível com o local.--Observar se a garra prendeu a madeira totalmente e manter segura.N22312RAA
Impacto de pessoa contra objeto em movimento e colisãoMáquina estacionada de forma inadequada12Deixar a garra apoiada no chão.--Sinalizar a máquina (sonoro e visual). Pessoal de campo usar roupa altamente visível.N22312RAA
Exposição a partes metálicas da máquinaAcesso a máquina sem utilizar corretamente a escada17 e 31----Utilizar o corrimão da escada para acesso no caminhão. E posicionar a máquina de forma a facilitar a descida pela esteira.Utilizar botina e calça comprida.N1224RMA
Ataque de animais peçonhentosDeslocamento em locais com risco de ataque de animais peçonhentos31Observar os locais de deslocamentoUtilizar perneiraUtilizar perneira, calça e camisa comprida e botina de segurançaN1224RMA

Legenda: S – Sim; N – Não; F – Frequência; P – Probabilidade; G – Gravidade; T – Resultado do nível de risco; C - Categoria de risco; RB – Risco Baixo; RM – Risco Moderado; RA – Risco alto; RC – Risco crítico; AV – Avaliação; A – Aceitável e I – Não aceitável.

Fonte: Os autores (2018)

Conforme critério de julgamento das tarefas de derrubada, processamento de Eucalyptus spp. com harvester e carregamento mecanizado, essas apresentaram uma variedade de nível de risco, com destaque para o tombamento da máquina, queda de toras de Eucalyptus spp. e atropelamento e colisão, que sinalizaram “alto” como categoria de risco (Tabela 3).

Apesar de não ter sido sinalizado como categoria de risco alto nessa análise, o acesso à máquina na Áustria, em atividades mecanizadas entre os anos 2000 e 2009, registraram o maior número de lesões de pernas, braços e mãos, causadas principalmente por queda e escorregões (TSIORAS; ROTTENSTEINER; STAMPFER, 2014). A manutenção periódica ou corretiva proporciona maior segurança da máquina, e possui influência direta com a produção (LINHARES et al., 2012).

Ao analisar o quantitativo de risco no que diz respeito aos grupos determinados na NR 31: ambientais (físicos, químicos e biológicos), de acidentes e ergonômicos (SEGURANÇA..., 2017), eles são categorizados da seguinte forma: 15,9% ambientais, 15,9% ergonômicos e 68,2% acidentes.

Assim como identificado nessa análise de risco, é percebido, nos registros de acidentes, um percentual maior de condições propícias a ocorrência de acidentes típicos do que de doenças ocupacionais que possuem relação direta com os riscos ambientais e ergonômicos (ANUÁRIO..., 2017).

Dentre as normas regulamentadores mais citadas estão a NR 12, 15, 17 e 31, devido principalmente aos riscos associados às máquinas florestais que, quando não atendidas, expõe o trabalhador a risco, além de ampliar custos empresariais, do governo e da sociedade através de impostos (GAMA, 2017; SEGURANÇA..., 2017).

O resultado do nível de risco, obtido pelo cálculo da frequência, probabilidade e gravidade da análise realizada em atividade mecanizada, indicou a seguinte categoria de risco: cinco baixos; sete moderados; onze altos e nenhum risco crítico. A operação de corte e carregamento de árvores e o deslocamento da máquina foram consideradas as atividades com nível de risco mais elevado.

A operação de corte e carregamento de árvores, em atividades mecanizadas, tem seu potencial de risco elevado também pela postura incômoda do seu posto de trabalho e devido à baixa visualização da cabine de operação, conforme observado em máquinas similares por Minette et al. (2008).

Apesar do nível de risco alto, a avaliação final da atividade permite sua execução, tendo como principais controles os treinamentos, realização da tarefa conforme procedimento estabelecido previamente, manutenção e sinalização sonora das máquinas.

4 Conclusão

A aplicação do PARCF nas atividades de planejamento das frentes de trabalho, tanto nas atividades semimecanizadas, como também nas mecanizadas, foi realizada com indicação de nível de risco, identificação dos requisitos legais nacionais e avaliação.

Na aplicação do processo de avaliação de risco em colheita florestal para atividade semimecanizada o resultado do nível de risco, obtido pelo cálculo da frequência, probabilidade e gravidade da análise realizada, indicou a seguinte categoria de risco: quatro baixos, três moderados, oito altos, e nenhum crítico. A operação de corte com motosserra foi considerada a de nível de risco mais elevado. Diante desse resultado, reforça-se a importância da aplicação e manutenção dos controles de risco nessas atividades, para garantia da proteção ao empregado e atendimento às exigências contidas nas normas regulamentadoras.

A avaliação da atividade oriunda do nível de risco indica que as atividades foram consideradas de risco aceitável, ou seja, são passíveis de execução, tendo como principais controles os treinamentos, realização da atividade conforme procedimento estabelecido previamente, manutenção das máquinas, utilização dos equipamentos de proteção individual.

Para a avaliação da atividade de colheita mecanizada o resultado do nível de risco, obtido pelo cálculo da frequência, probabilidade e gravidade da análise realizada em atividade mecanizada, indicou a seguinte categoria de risco: cinco baixos; sete moderados; onze altos e nenhum risco crítico.

A operação de corte e carregamento de árvores e o deslocamento da máquina foram consideradas as atividades com nível de risco mais elevado. Apesar do nível de risco alto, a avaliação final da atividade permite sua execução, tendo como principais controles os treinamentos, realização da tarefa conforme procedimento estabelecido previamente, manutenção e sinalização sonora das máquinas.

A execução desta pesquisa permitiu ainda identificar as condições de trabalho no setor, de forma a contribuir no desempenho das atividades e proporcionar ferramentas para prevenção da saúde e da integridade dos trabalhadores e aplicação das normas regulamentadoras do governo federal nas empresas e pode contribuir com aprimoramento do modelo de gestão de segurança e saúde do trabalho no setor florestal.

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Notas de autor

1 Doutor em Ciências Florestais pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santos (IFES) Campus Vitória/ES – Brasil. E-mail: wbermudes@ifes.edu.br.
2 Doutor em Ciência Florestal pela Universidade Federal de Viçosa (1995). Professor Associado IV da Universidade Federal de Viçosa (UFV) – Viçosa/MG – Brasil. E-mail: minette@ufv.br.
3 Doutora em Ciências Florestais pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Professora da Universidade Federal de Itajubá/MG - Brasil. E-mail: denise_soranso@hotmail.com.
4 Doutor em Ciências Florestais pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Professor Adjunto na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - Montes Claros/MG - Brasil. E-mail: stanley.sst@hotmail.com.
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