Dossiê Temático "Literaturas africanas de língua portuguesa"
"As mulheres do meu pai", um road movie de José Eduardo Agualusa
“As mulheres do meu pai”, a road movie by José Eduardo Agualusa
“As mulheres do meu pai”, road movie de José Eduardo Agualusa
"As mulheres do meu pai", um road movie de José Eduardo Agualusa
Vértices (Campos dos Goitacazes), vol. 24, núm. 1, 2022
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense
Recepción: 14 Septiembre 2021
Aprobación: 09 Marzo 2022
Resumo: “As mulheres do meu pai”, sexto romance do escritor angolano José Eduardo Agualusa, publicado no ano de 2007, narra duas viagens ocorridas em simultâneo e imbrincadas: a viagem da protagonista Laurentina aos caminhos percorridos por Faustino Manso, seu recém-descoberto pai biológico; e a viagem do narrador, um escritor convidado a fazer um roteiro para um filme, que sonha e delineia a viagem de Laurentina; uma recriação ficcional da viagem realizada pelo próprio Agualusa pela África Austral. Mais que de um exemplo de narrativa de viagens, o presente trabalho objetiva aproximar a obra ao gênero cinematográfico de road movie, destacando mais uma estratégia do autor na composição de seu universo ficcional, já reconhecido pelo uso de estratégias textuais como a sobrevida de personagens, a metaficção, sobretudo em seus aspectos intertextuais, e a adaptação de elementos factuais da história angolana. Para tal, baseamo-nos, primordialmente, nos estudos de Umberto Eco acerca dos “bosques da ficção”; de Shuichi Kato acerca as noções de tempo e espaço; e Linda Hutcheon acerca da metaficção e da adaptação; além de entrevistas e textos jornalísticos que nos auxiliam na compreensão de sua simbiótica construção narrativa.
Palavras-chave: Literatura Angolana, José Eduardo Agualusa, Metaficção.
Abstract: “As mulheres do meu pai”, the sixth novel by the Angolan writer José Eduardo Agualusa, published in 2007, narrates two journeys that happen simultaneously and which are intertwined: the leading character’s trip, Laurentina, that treads the paths taken by Faustino Manso, her recently unveiled biological father; and the narrator’s trip, a writer who is invited to create a script to a film, that dreams and outlines Laurentina’s trip; a fictional remaking by Agualusa’s own trip to Southern Africa. More than an example of travel literature, this work aims to bring the literary work closer to the cinematographic genre of road movie, highlighting one more strategy of the author, already well known for textual strategies such as characters survival, metafiction and Angolan history’s factual elements adjustments. To do so, we base this work, mainly, in Umberto Eco’s studies about “woods of fiction”; Shuichi Kato’s research about notion of time and space; and Linda Hutcheon’s about metafiction and adaptability; furthermore, there are interviews and journalistic articles that help our understanding of its symbolic narrative construction.
Keywords: Angolan Literature, José Eduardo Agualusa, Metafiction.
Resumen: “As mulheres do meu pai”, sexta novela del escritor angoleño José Eduardo Agualusa, publicada en el año 2007, narra dos viajes ocurridos en simultáneo e imbricados: el viaje de la protagonista Laurentina a los caminos recorridos por Faustino Manso, su recién descubierto padre biológico; y el viaje del narrador, un escritor invitado a hacer un guión para una película, que sueña y delinea el viaje de Laurentina; una recreación ficcional del viaje realizado por el propio Agualusa por África Austral. Más que de un ejemplo de narrativas de viajes, el presente trabajo tiene por objetivo acercar la obra al género cinematográfico de roadmovie, señalando una estrategia más del autor en la composición de su universo ficcional, ya reconocido por el uso de estrategias textuales como la sobrevida de personajes, la metaficción y la adaptación de elementos factuales de la historia angoleña. Para tal, nos basamos, primordialmente, en los estudios de Umberto Eco acerca de los “bosques narrativos”; de Shuichi Kato acerca de las nociones de tiempo y espacio; y Linda Hutcheon acerca de la metaficción y de la adaptación; además de entrevistas y textos periodísticos que nos auxilian en la comprensión de su simbiótica construcción narrativa.
Palabras clave: Literatura Angoleña, José Eduardo Agualusa, Metaficción.
— De quantas verdades se faz uma mentira?
José Eduardo Agualusa
A frase destacada acima, sonhada e proferida pelo narrador do romance, um escritor convidado a elaborar um roteiro cinematográfico, sintetiza de maneira bastante eficaz não só a narrativa de “As mulheres do meu pai” (2007a) como a obra de José Eduardo Agualusa como um todo. Escritor angolano, nascido em 1960, desde os finais da década de 80 tem se dedicado à construção de um vasto universo ficcional, composto por contos, crônicas, romances, livros infantojuvenis, cadernos de desenho, em uma intrincada rede de intra e extratextualidade. Intra, pois se autorreferencia, recuperando e estendendo personagens e enredos já apresentados; e extra, por, como nos diz Umberto Eco, construir “seu mundo de ficção emprestando aspectos do mundo real” (ECO, 1994, p. 79), aspectos estes que dizem respeito, sobretudo, à história de Angola, “verdades” das quais se utiliza para compor, simbioticamente, suas “mentiras ficcionais”.
A busca da verdade sobre sua origem é o que motiva a viagem de Laurentina, protagonista do romance e narradora de boa parte dos capítulos nos quais se divide a obra. A busca pelo cenário perfeito para a filmagem do roteiro é o que motiva a viagem do escritor, narrador da segunda narrativa e autor-modelo da primeira. Sua viagem, a qual partilha diversos elementos com a viagem real empreendida pelo próprio Agualusa, é documentada como um diário1, o qual ora antecipa ora explica os movimentos narrados na viagem de Laurentina:
rio de janeiro, brasil
sexta-feira, 24 de julho de 2005
10h — Jantei ontem com Karen. Ela quer muito que eu a ajude a escrever um roteiro para um filme musical, ou com um forte componente musical, sobre a situação das mulheres no cone sul da África.
20h — (…) Queremos contar a história de uma documentarista portuguesa que viaja até Luanda para assistir ao funeral do pai, Faustino Manso, famoso cantor e compositor angolano. A partir de certa altura Laurentina decide reconstruir o percurso do pai, o qual, durante os anos 60 e 70, percorreu toda a costa da África Austral, desde Luanda até à Ilha de Moçambique. (AGUALUSA, 2007a, p. 37).
Para reconstruir os passos de Faustino, Laurentina e do narrador-escritor, a narrativa recorre ao passado recente do continente africano, especificamente, às décadas de 60 e 70, e ao conturbado presente da primeira década do século XXI, retratando os fins da colonização portuguesa em Angola, a efervescência dos movimentos de libertação, a complexidade do pós-guerra civil e os questionamentos dos jovens portugueses de origem africana. Para a teórica canadense Linda Hutcheon, trata-se de um processo de adaptação da história factual através da sua recriação ficcional, num ato de “engajamento interpretativo extensivo e criativo com uma história passada” (HUTCHEON, 2013, p. 228), que só pode ser experenciado como tal se, ao ler a obra, seu leitor oscilar entre a imagem do passado conhecido e aquela que a narrativa literária oferece.
Essa análise do texto literário requer, antes de prosseguir, que possamos conceitualizar o anglicismo road movie, opção escolhida na narrativa pela personagem Bartolomeu Falcato, sobrinho de Laurentina, para compor um documentário sobre Faustino Manso. O termo é utilizado para nomear o gênero cinematográfico cujos filmes têm no centro de seus roteiros a viagem. A origem do gênero data de 1934, com a premiada comédia romântica “It Happened One Night”, roteirizada por Robert Riskin e dirigida por Frank Capra, que nos convida para acompanhar a viagem de uma herdeira milionária e um jornalista em busca de uma pauta. Os filmes desse gênero têm na viagem um sinônimo para busca e em alguns casos uma metáfora para mudança, tornando o caminho de um ponto A até um ponto B fundamental à construção e desenvolvimento das personagens e do roteiro2.
Percorrer alguma distância é essencial no exercício de contar uma história. Segundo o autor e crítico Shuichi Kato (2012), a sobreposição de uma distância temporal e uma distância espacial ocorre na experiência do viajante, que pode compreender a experiência diacrônica e a sincrônica. O exemplo utilizado por Kato em sua obra “Tempo e Espaço na Cultura Japonesa” (2012), é o de Ulisses, que após escutar o canto das sereias, em um outro momento, retorna à terra natal e reencontra sua esposa Penélope. Podemos compreender os dois acontecimentos, escutar o canto das sereias e o retorno, enquanto tais experiências, diacrônica e sincrônica, pois é possível enxergar as distâncias entre eles, temporal e espacial. Para nos aproximar ainda mais do conceito, o conto “O Ciclista”, escrito por Agualusa (2006) para integrar o livro de contos “Passageiros em trânsito” (2006), pode nos servir também como exemplo, visto que, o protagonista, o ciclista, vindo do Peru, percorre uma longa distância espacial em sua bicicleta, até que chega em Luanda, em meio à guerra civil. O ciclista atravessa uma estrada e um fato histórico, vindo de um ponto A, distante em espaço e tempo do ponto B.
Em “As mulheres do meu pai”, Laurentina viaja através da África Austral recolhendo entrevistas, histórias, e fazendo registros para o seu documentário sobre a vida do músico angolano Faustino Manso, até então, seu recém-descoberto pai biológico. Em simultâneo, o narrador-escritor viaja através da mesma África Austral, para escrever o roteiro encomendado, atravessando os mesmos espaços, os mesmos “bosques da ficção”; assim a narrativa é intercalada pelos registros narrados como factuais do narrador-escritor e os registros ficcionais da documentarista, ambos ficcionalizados a partir da viagem real do autor empírico por Angola e outros cenários do continente africano. No capítulo “Trans-karoo Express, algures entre Cape Town e Joanesburgo. África do Sul. Quinta-feira, dezessete de Novembro de 2005”, presente no “Segundo andamento”3, o narrador-escritor viaja de trem pelo país sul-africano e, sem sono, vai até o vagão-restaurante da composição:
(…) Um caminho estreito, em terra batida, corria paralelo aos carris do comboio. Depois curvava à direita e ia dar em uma casa de madeira. Não reparei imediatamente na casa porque tinha a mesma cor da terra. Um vermelho convulso. Largas janelas abertas. A luz numa rajada, iluminou um rapaz negro, alto e anguloso, dentro da casa, sentado num sofá. Acenei para ele e o rapaz retribuiu o aceno. (AGUALUSA, 2007a, p. 253).
Um pouco mais adiante, no capítulo seguinte, intitulado “A casa vermelha”, ainda no “Segundo Andamento”, Mandume, após a avaria da Malembelembe, abriga-se em uma casa, abandonada, próxima à estrada:
Um profundo clamor de metais arrancou-me à leitura. Não me tinha dado conta de que a estrada corria paralela ao caminho de ferro. O comboio passou, muito devagar, pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra, num longo queixume de seda e fumo. Um homem moreno, bronzeado, numa das janelas do vagão-restaurante, acenou para mim. Ergui a mão e retribuí o aceno. Pouca Sorte regressou com as ferramentas. (AGUALUSA, 2007a, p. 258).
Criador, o narrador-escritor, e sua criatura, o jovem Mariano Maciel, ou Mandume como era conhecido, encontram-se no mesmo tempo, porém em espaços distintos, visíveis através das janelas do texto. O jogo metaficcional elaborado por Agualusa nos faz pensar se, em sua viagem real, realizada em 2005, haveria na paisagem vista pela janela do comboio uma casa vermelha.
O autor Umberto Eco (1994) afirma que todo o mundo ficcional irá se apoiar parasitariamente no mundo real; contudo, acreditamos que o universo criado por Agualusa existe em um outro modo de relação, existe em simbiose, assim como o Noctiluca, pequeno organismo unicelular, responsável pelo fenômeno chamado “ardência marítima", ou agualusa no sul de Portugal, e as algas marinhas.
hotel terminus, lobito, angola.
16 de março de 2007
(…)
Fui à praia depois do jantar. Não havia ninguém. (…) Digamos então que eu me senti mergulhar na própria noyte, sugado pelo seu vórtice escuro, e que fechei os olhos e quando os reabri vi as estrelas a girar ao meu redor. Movia os braços e cada movimento parecia gerar um tumulto de estrelas. Conheço pessoas que passaram por esta experiência e entraram em pânico. Outras, em êxtase. Muitas falam em embriaguez, a maioria em sonho. O fenômeno é provocado por um pequeno organismo unicelular, a noctiluca, capaz de emitir luminescência, e chama-se ardência marítima ou, no sul de Portugal, agualusa. Fiquei muito tempo no mar, divertindo-me, como um pequeno Deus inclemente, a criar e desfazer constelações. (AGUALUSA, 2007a, p. 549-550).
Como um pequeno Deus noturno4, o narrador-escritor, presença fantasmática do autor5, já que não nomeado em toda a narrativa, tem o poder de criar e desfazer constelações, de criar e desfazer mundos, ora iluminando-os, ora obscurecendo seus limites. Entender essa relação entre os mundos real e ficcional é também objetivo da análise que demonstraremos no presente artigo.
1 Azarado e Pouca Sorte
Todo texto é uma máquina preguiçosa pedindo ao leitor que faça uma parte de seu trabalho, é o que irá afirmar Umberto Eco na entrada do bosque, em sua primeira, das seis Conferências Norton, realizadas na Universidade de Harvard, que compõem o livro “Seis passeios pelos bosques da ficção” (ECO, 1994). A obra de Agualusa nos envia o sinal de que, como leitores modelo, deveríamos compreender que seu pano de fundo é a história angolana e que esse plano aberto o permite transitar entre realidade e ficção na sua composição, e atravessar essa linha como quem deseja nos atarantar sobre a existência dela, estrada afora, bem ao gosto da metaficção. É certo que a locomoção por essa estrada é central para um road movie, e os meios de transporte estão de alguma maneira intimamente ligados à gênese do próprio cinema, com o registro do movimento de navios e trens chamando atenção para as projeções no Grand Café de Paris6. O meio de transporte presente em grande parte da viagem em “As mulheres do meu pai”, é uma furgoneta azul, a “Burca”, guiada por Albino Amador, motorista que atende pelo apelido de Pouca Sorte e nos é apresentado no “Primeiro Andamento”, no capítulo “O Funeral”, pouco antes de tomarmos conhecimento da existência de Azarado, este nascido em Benguela, motorista da carrinha que transporta o narrador-escritor, a cineasta Karen Boswell e o fotógrafo Jordi Burch, desde Luanda.
Para os viajantes desatentos, e todos aqueles que também sairiam a procura das ruas e esquinas citadas em “Os Três Mosqueteiros” (cf. ECO, 1994, p. 103), que não existem para além do universo ficcional, a ordem cronológica das apresentações poderia representar “Uma daquelas coincidências que um escritor renegaria, por receio de que sua ficção perdesse verossimilhança” (AGUALUSA, 2007a, p. 52), o fato é que Azarado também servira de inspiração na composição de traços do personagem Faustino Manso, as várias mulheres em sua vida, seus 18 filhos, todos com nome das bebidas sobre a mesa no momento do nascimento, e a aparência elegante e alegre.
De volta à “Malembelembe”, veículos como a furgoneta que transporta os grupos de Laurentina e do narrador-escritor são um dos principais meios de transporte de Luanda; seus motoristas e cobradores, na cidade, são conhecidos como os candongueiros, trabalhadores informais do transporte urbano, atividade que surgiu ainda na década de 1980 como resposta possível ao aumento da velocidade no avanço em direção a ideia de uma metrópole e suas dinâmicas na modernidade.
A furgoneta azul é o T-Bird 19667 de Laurentina, que ao invés de cruzar o estado do Arizona, estava indo em direção ao Lobito, cidade da província de Benguela, primeira parada do road movie da documentarista. Ainda no primeiro andamento, o diário de viagem transmitido pelo narrador-escritor, descreve uma intensa batalha entre o automóvel dirigido por Azarado e a feroz coleção de buracos na estrada, no trecho da Canjala (a Senhora Dona Morte)8, por fim, o candongueiro acaba saindo da estrada com dois pneus danificados, após ter adormecido ao volante em uma altura da estrada em que o asfalto era liso. O autor Agualusa defende que o que lhe interessa, mais do que o maravilhoso, é a presença do absurdo na realidade9, e talvez seja por isso que, ao reproduzir o acidente na estrada para Benguela na viagem de Laurentina, Pouca Sorte ao volante de Malembelembe atravesse um trecho de estrada, também esburacado, completamente adormecido, sem maiores problemas (além de um desconfortável balanço da furgoneta), como havia afirmado anteriormente que estava acostumado a fazer:
― O veículo é sólido. ― Rugiu. ― Já foi a Benguela tantas vezes que nem precisa de motorista. Sabe o caminho sozinho. Às vezes adormeço em Porto Amboim e quando acordo estou a chegar ao Lobito. (AGUALUSA, 2007a, p. 94).
O acidente de fato ocorre quando o motorista adormecido é abruptamente acordado por Bartolomeu Falcato, neto e idealizador do documentário sobre Manso, o automóvel percorreu cinquenta metros aos saltos e quase atingiu a dura parede de um embondeiro. Questionado e confrontado pelos passageiros, Pouca Sorte se defende e afirma o absurdo:
― A culpa foi sua! ― A voz de Pouca Sorte soava estranhamente calma, uma voz de veludo, em meio ao silêncio absoluto da grande noite em redor. ― Você assustou-me…
― Assustei-te?! Eu acordei-te, foi o que foi!…
― Sim, acordou. Se me tivesse deixado dormir isto não teria acontecido… (AGUALUSA, 2007a, p. 102).
A cena seguinte pode facilmente ser imaginada como sendo filmada em um very long shot, um “Plano Geral” ou P/G. Determinar um plano na fotografia e no cinema é a forma de organizar como os personagens, objetos e cenários serão vistos em cada quadro, e em um plano geral a figura humana ocupa um espaço muito reduzido nesse quadro, a câmera revela todo o cenário e é frequentemente utilizada para gerar a sensação de isolamento, no caso da documentarista e sua equipe, o contraste entre a figura humana e a imensidão do cenário é explorado sob a perspectiva de Laurentina.
Encostei-me a tremer ao tronco rugoso do embondeiro. Era enorme. Tanto quanto conseguia perceber não havia em redor nenhuma outra árvore. A lua mal se via, mas a luz das estrelas iluminava tudo, milhões e milhões delas, como eu nunca vira antes, ocupando o espaço inteiro, até o fio do horizonte, até ao raso chão, acendendo-se e multiplicando-se, e estalando em silêncio na imensidão sem fim do universo.
― Deus! ― Quase rezei ― É tão bonito! (AGUALUSA, 2007a, p. 103).
Em seguida Pouca Sorte dirige-se a Malembelembe, pede desculpas a companheira pelo acidente, e volta a conferir à atitude de Bartolomeu a culpa pelo ocorrido:
― Peço que me desculpe, minha Malembe. ― Voltou-se para Bartolomeu, sem alterar o tom. ― Você não devia ter-me sacudido! Disse-lhe que faço este caminho meio que a dormir. Faço mesmo. Acha que ia aguentar esses saltos todos se estivesse acordado? (AGUALUSA, 2007a, p. 103).
O acidente sofrido pelo candongueiro Pouca Sorte, sua Malembelembe e a equipe da documentarista, se escora perceptivelmente no acidente sofrido pelo narrador-escritor, o motorista Azarado, Karen e Jordi, no trecho de Canjala. “O Acidente” amplia o acontecimento narrado anteriormente, atribuindo mais e mais elementos, “esticando” a experiência em direção ao absurdo e ao sublime10. Ao absurdo na prática nada usual de Pouca Sorte ao volante da furgoneta, e ao sublime na visão de Laurentina ao descer do automóvel, pois, ainda segundo o pensamento kantiano problematizado por Késia Cunha e Alcemir Ribeiro, o sublime
[é] comovente, duradouro, tem a necessidade de ser sempre grande e desperta uma satisfação, mas com assombro, como a noite. Ao ver-se grandes paisagens como cordilheiras, as quais os seus topos ultrapassam as nuvens, uma tempestade furiosa, sombras isoladas e grandes árvores”. (CUNHA; RIBEIRO, 2018, p. 10).
Portanto, podemos concluir que, em “O Acidente”, o mundo ficcional escrito pelo autor Agualusa, narrado como parte dos mundos de Laurentina e do narrador-escritor, toma como pano de fundo o mundo real (o terreno visitado pelo autor empírico), e a partir dessa recuperação produz um desfecho dissemelhante, no qual o absurdo e o sublime representados na ficção suplantam a precariedade do mundo real, iluminando outras formas de enfrentamento.
2 Arquimedes Moran, o “italiano” Mauro e a composição do elenco de Agualusa
O uso reiterado de personagens criados em obras anteriores é uma característica ímpar no universo ficcional do escritor Agualusa (e com um forte apelo ao cinema, na nossa concepção). Mais adiante, no “Terceiro andamento” de “As mulheres do meu pai”, o grupo do narrador-escritor, após chegar à Ilha de Moçambique, em razão de um atraso e também por terem ultrapassado o orçamento previsto para a viagem, decidem alterar seu roteiro original, saltar Quelimane, e, ao invés de seguir o caminho por terra, tomar um avião de Maputo para Nampula, cidade capital da província de mesmo nome, localizada no interior e 2.150 km ao norte da capital de Moçambique. O grupo de Laurentina seguiu a viagem por terra e, no capítulo intitulado “A varanda do Frangipani”, somos apresentados ao dono da pousada em que a documentarista estava hospedada, Mauro ou “Mau”, um homem de cabelos em um vibrante tom de ruivo, que afirma ser italiano (apesar de argumentar ter deixado isso em uma outra encarnação), disseca escaravelhos e fabrica insetos mecânicos. Mandume, o namorado de Laurentina que a acompanha enquanto cinegrafista, em sua primeira conversa com Mauro afirma que o “italiano” não aprecia nenhum tipo de economia, sobretudo a verbal, porém podemos perceber que às perguntas sobre seu passado ele reserva um misterioso silêncio.
— O que você fazia antes de vir para a ilha?
Olhou-me desconfiado:
— Não fazia nada. Era muito bom nisso.
Insisti:
— Lá, em Itália, o que fazia você?
— Deixei a Itália há muitos anos. Numa outra encarnação. Agora sou moçambicano.
— Nunca mais voltou à Itália?
— Já lhe disse, aconteceu numa outra encarnação. Ninguém regressa ao corpo anterior (…). (AGUALUSA, 2007a, p. 359).
O escritor Agualusa (2006) já havia introduzido o personagem Mauro em seu universo ficcional um ano antes do lançamento de “As mulheres do meu pai”, em seu livro de contos “Passageiros em trânsito” (2006), no conto “Sal e Esquecimento”, que mais parece um texto sobressalente do diário de viagem do narrador-escritor, o fato é que foi escrito em referência à mesma viagem do autor pela África Austral em 2005 para escrever o roteiro do road movie, e o romance lançado apenas em 2007. “Em Sal e Esquecimento” o narrador-personagem (sem nome), é atraído até a Ilha de Moçambique pela poesia de Rui Knopfli, o poeta moçambicano, e é acompanhado nessa viagem por Carles Escuder, fotógrafo interessado em construir um portfólio sobre o esquecimento para sua tese de mestrado. Os viajantes se hospedam na pousada de Mauro, que logo dispara:
― Vejam bem, os estrangeiros vêm para esta ilha para esquecerem algo, ou alguém, ou para serem esquecidos. O poeta Tomás Antônio Gonzaga, por exemplo, e os seus companheiros da Inconfidência Mineira. As pessoas chegam a este lugar e são esquecidas e depois elas próprias se esquecem de quem foram. (AGUALUSA, 2006, p. 138).
O jornalista português José Sérgio, do site “Volta ao Mundo: Viagens de Língua Portuguesa” em uma matéria sobre o destino dessa viagem, afirma que entrar na Ilha de Moçambique é como atravessar um portal, chegar em algo como uma cápsula de um tempo que já não existe mais11. A ilha é ligada ao continente por uma estreita faixa de terra, foi a capital de Moçambique até 1822, quando Portugal teve de “abdicar do tráfico de escravos para a Maurícia e para o Brasil, trocaram por Maputo, abandonando-a à sua sorte e permitindo, com alguma justiça poética, que os habitantes originais voltassem a reclamar o lugar e a reconduzi-lo à sua exuberante matriz suaíli” (SÉRGIO, 2019), e a arquitetura colonial ainda toma conta das ruas. Ainda segundo José Sérgio,
[o] mundo tal como o conhecemos fica do lado de cá dessa ponte de quase quatro quilómetros; do lado de lá da baía, é toda uma outra dimensão que se abre, imune às lógicas infernais do quotidiano, à escravatura dos ponteiros do relógio, à própria passagem das horas, dos dias, dos meses, dos anos. (SÉRGIO, 2019).
Para o personagem Mauro, esse era o cenário ideal para qualquer um em busca de esquecer ou ser esquecido. Sobre o esquecimento, o filósofo francês Paul Ricœur (2007), teoriza que esse dano à confiabilidade da memória possui uma relação com o perdão, a anistia, que tem origem no termo grego amnestía, que pode ser traduzido como “esquecimento”.
Ainda nas primeiras linhas do conto “Sal e Esquecimento” somos informados acerca da morte de Mauro, antes mesmo de sermos formalmente apresentados ao personagem, o fato é que não descobriremos muito sobre o “italiano” no conto, apenas que despertava suspeitas sobre sua real origem, que estava ali para esquecer e ser esquecido, após se arrepender por algo, e que terminara assassinado por um homem branco em uma moto. O motivo de sua morte e todo o seu passado permaneciam um mistério, isso até “O justiceiro, ou elogio da eutanásia”, capítulo do “Quarto andamento” de “As mulheres do meu pai”, quando Pouca Sorte em sua Malembelembe, na volta para Luanda, volta à casa vermelha, local onde irá encontrar o assassino de Mauro. Alguns capítulos antes, Pouca Sorte decidira passar a noite em sua furgoneta na praia, justamente na madrugada em que o assassinato ocorreu, o candongueiro presenciou o crime e em consequência foi rapidamente reconhecido pelo assassino, um velho conhecido do proprietário da pousada e quem irá nos contar sobre o passado de Mauro (na verdade, o irlandês Brian McGuiness, seu verdadeiro nome) e suas motivações para esquecer e ser esquecido na Ilha de Moçambique:
Quando o encontrei descobri que teria de o matar de qualquer maneira, tantos crimes, e tão horríveis, Brian cometeu depois que fugiu. Traiu o seu povo e a seguir ao longo de todos estes anos, traiu todos os seus princípios e crenças em que cresceu, os valores da nossa religião. Isso foi-o corroendo. Penso que procurava a morte. Nos olhos dele, quando lhe apontei a pistola não havia medo. Sabe o que havia? Alívio. O que o senhor viu não foi uma execução. Foi um suicídio assistido: eutanásia. (AGUALUSA, 2007a, p. 459).
Além de Mauro, vamos continuar a chamá-lo assim, outro exemplo da recuperação de personagens oriundos de outras obras na obra em análise, é o caso de Arquimedes Moran, figura fundamental na carreira do personagem Faustino. O músico e marinheiro norte-americano desembarcou em Luanda em um período de guerra na década de 1960, em se tratando do mundo real poderia ser durante a guerra do Vietnã, já no mundo ficcional isso não foi especificado, o fato é que Arquimedes não retornou ao seu barco, e naquela mesma manhã se tornou amigo do músico angolano em um bar de Luanda. No fim do capítulo “A verdadeira história de Faustino Manso”, ainda no “Quarto Andamento” do romance, Anacleta, viúva oficial de Faustino, diz a Laurentina e ao seu grupo que a presença de Arquimedes Moran em seu documentário é fundamental, afinal o músico fez parte da história de Faustino, Moran foi seu professor e o presenteou com Walker, o contrabaixo que possuía vontade própria, que segundo a história inventada pelo próprio Faustino Manso, era assombrado pelo espírito de Sylvester Page, seu antigo dono e membro da “New Orleans Rhythm Devils”12. Arquimedes Moran também era inventor13, e essa outra ocupação também foi explorada no capítulo “A invenção de Moran”14 também do “Quarto Andamento” e alguns anos depois, em 2020, no conto “Memórias de um colecionador de luz” publicado no “Jornal O Globo”, Moran ainda constrói máquinas que possam reproduzir a beleza de um arco-íris dentro de seu quintal, no entanto a conclusão sobre a utilização dessas máquinas ainda é a mesma: “A verdadeira beleza é irrepetível e imprevisível. Um arco-íris será belo enquanto permanecer indomável” (AGUALUSA, 2020b, s/p).
(…) Disse-me que havia inventado uma máquina capaz de produzir arcos-íris. A referida máquina, assegurou-nos, tinha capacidade para produzir não apenas arcos-íris normais, mas também arcos-íris duplos e triplos, e até alguns invertidos ou enrolados nas pontas. A estes últimos ele deu o nome de “arcos-íris perversos”, creio que partindo da etimologia da palavra perverso, virado às avessas, e não por supor que tais fantasias coloridas fossem capazes de atentar contra a moral pública e os bons costumes. (AGUALUSA, 2007a, p. 527).
Perversos como a escrita de Agualusa, escrita esta capaz de refletir, ainda que às avessas, a realidade na qual se apoia ou os intertextos aos quais recorre. Moran, ao contrário de Morel ou Moreau, e suas invenções não fazem mal algum, servindo apenas para lembrar ao leitor que sonhos também enferrujam se não concretizados.
Mauro e Arquimedes, assim como Monte15, responsável pelo interrogatório feito a Moran, não são os únicos personagens do autor a transitar “livremente” por seu universo ficcional, e sobre esse trânsito, Umberto Eco em uma de suas conferências afirma que “quando se põem a migrar de um texto para o outro, as personagens ficcionais já adquiriram cidadania no mundo real e se libertam da história que as criou” (ECO, 1994, p. 132). Em outro momento, Eco dirá ainda que esse tipo incomum de intertextualidade acaba por, de alguma maneira, conferir sinal de veracidade à ficção. A escrita de Agualusa “torna fácil atribuir uma vida real a uma personagem de ficção” (ECO, 1994, p. 133), o escritor, tal como um diretor que escala seus atores, dispõe de um grande número de personagens em seu universo, a impressão que fica é a que nenhum dos desfechos apresentados para eles representa um ponto final, nada que impeça o autor de revisitá-los a qualquer momento para contribuir com a história que será desenvolvida a seguir16, reforçando a atmosfera de familiaridade de seu universo ficcional.
3 Conclusão
O road movie “As mulheres de meu pai” de José Eduardo Agualusa (2007) atravessa a África Austral e nos convida para acompanhar a busca de Laurentina pelas histórias que compõem sua origem. Caso Faustino fosse de fato seu pai biológico, faria todo sentido apontarmos aqui as semelhanças, quando ele amava, fazia música, e Laurentina fazia cinema, que nada mais é do que “música de luz” — para nos valermos das palavras do cineasta brasileiro Júlio Bressane recuperando as de Abel Gance (BRESSANE, 2000, p. 25) —, e a história não poderia terminar de outra forma, que não em um show de luzes, esse produzido pelo Noctiluca em uma praia de Benguela, como citamos anteriormente. Em uma obra motivada pelo desejo de retratar a revitalização cultural do continente africano, como explicitado pelo autor em entrevista a Luís Caetano, da RTP, nada melhor que destacar a luz no lugar das sombras, pois como nas palavras do narrador, autoficção do autor, trata-se de uma questão de perspectiva: “onde uns vêem luz outros apenas distinguem sombras. Os que vêem sombras constróem muros para se protegerem. Tendem a ser fanáticos construtores de muros” (AGUALUSA, 2007a, 163).
No presente trabalho fizemos um pequeno recorte acerca de alguns dos aspectos da obra de Agualusa, o emprego do real em sua ficção e o uso reiterado de seus personagens, foram os escolhidos. O objetivo era traçar paralelos entre o real e o fictício, com o caso de Azarado e Pouca Sorte para o primeiro aspecto, e listar alguns exemplos do segundo aspecto presentes no romance; dedicamos a primeira parte do estudo à modulação do factual, privilegiando, também por motivo simbólico, o ocorrido no ponto de partida da viagem de Laurentina e sua equipe por terra, e o segundo a esse uso reiterado dos personagens, recorrendo a outras duas obras do autor.
A pesquisa nos permitiu enveredar pelos bosques, observar mais de perto o jogo que o autor nos propõe, e concluir que o universo fictício criado por Agualusa paira sobre sua experiência com o universo real. Diferente do que foi afirmado (ainda na introdução do presente trabalho) sobre se escorar parasitariamente no universo real, essa análise demonstra que há uma relação de “protocooperação” entre os universos, uma simbiose harmônica e benéfica para ambos os organismos, a prática da relação não subtrai do primeiro universo. Agualusa extrai de sua observação do real muitas histórias, já contadas em livros, experenciadas por outros, ou apenas criadas em sua imaginação num intenso e interminável exercício de adaptação. Em seu universo ficcional, narradores como o escritor autoficcionalizado e Laurentina nos contam muitas histórias, e cada personagem dentro delas está apto a nos contar mais e mais histórias. Mentiras inventadas a partir de muitas verdades, sonhos criados a partir do real, muros desfeitos à força da luz criativa. Para encerrar esta análise de “As mulheres do meu pai”, obra repleta de invenção e inventores, relacionando-a ao todo da construção ficcional agualusiana, valemo-nos das palavras da personagem Bailarina:
— Leve os sonhos a sério — sussurrou. — Nada é tão verdadeiro que não mereça ser inventado. (AGUALUSA, 2007a, p. 550).
Referências
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Anexo A – A furgoneta Malembelembe
Anexo B – Albino Amador, o Pouca Sorte
Anexo C – Arquimedes Moran
Notas
Notas de autor
Información adicional
COMO CITAR (ABNT): SILVA, R. F.; SANTOS, L. S. M. “As mulheres do meu pai”, um road movie de José Eduardo Agualusa. Vértices (Campos dos Goitacazes), v. 24, n. 1, p. 19-33, 2022. DOI: https://doi.org/10.19180/1809-2667.v24n12022p19-33. Disponível em: https://www.essentiaeditora.iff.edu.br/index.php/vertices/article/view/16302.
COMO CITAR (APA): Silva, R. F. & Santos, L S. M. (2022). “As mulheres do meu pai”, um road movie de José Eduardo Agualusa. Vértices (Campos dos Goitacazes), 24(1), 19-33. https://doi.org/10.19180/1809-2667.v24n12022p19-33.