Dossiê Temático "Literaturas africanas de língua portuguesa"

A loucura feminina nos romances de Paulina Chiziane como estratégia de resistência

Female madness in Paulina Chiziane's novels as a strategy of resistance

La locura femenina en las novelas de Paulina Chiziane como estrategia de resistencia

Érica Luciana de Souza Silva 1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, Brasil

A loucura feminina nos romances de Paulina Chiziane como estratégia de resistência

Vértices (Campos dos Goitacazes), vol. 24, núm. 1, 2022

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

Este documento é protegido por Copyright © 2022 pelos autores.

Recepción: 18 Septiembre 2021

Aprobación: 18 Febrero 2022

Resumo: O trabalho a seguir traz um breve estudo sobre como a escritora Paulina Chiziane faz da loucura uma estratégia de resistência observável em quase todas as suas personagens. Aqui a análise se dará sobre Maria das Dores, do romance “O alegre canto da perdiz” (2010), a louca do rio que ousou invadir a margem exclusiva dos homens no rio Licungo e afrontou a todos com sua nudez. Todavia, a análise se dará de forma transversal entre as personagens de outros romances de Chiziane, como Rami, de “Niketche: uma história de poligamia” (2004); Cláudia, de “O sétimo juramento” (2005) e Wusheni, de “Ventos do apocalipse” (1999). O fenômeno da loucura será refletido à luz do texto de Michel Foucault, “A história da loucura na idade clássica” (1978) e o texto “O debate Foucault e Derrida: razões ou desrazões do pensamento” (2017).

Palavras-chave: Loucura, Mulher, Resistência, Literatura, Moçambique.

Abstract: The following work brings a brief study on how writer Paulina Chiziane turns madness into an observable resistance strategy in almost all of her characters. Here the analysis will be about Maria das Dores, from the novel “The happy song of the partridge” (2010), the crazy woman from the river who dared to invade the exclusive bank of men on the Licungo river and affronted everyone with her nudity. However, the analysis will be transversal between the characters of other novels by Chiziane, such as Rami, by “Niketche: a story of polygamy” (2004); Cláudia, from “The seventh oath” (2005) and Wusheni, from “Apocalypse winds” (1999). The phenomenon of madness will be reflected in the light of Michel Foucault's text, “The history of madness in the classical age” (1978) and the text “The Foucault and Derrida debate: reasons or unreasons of thought” (2017).

Keywords: Craziness, Woman, Resistance, Literature, Mozambique.

Resumen: El siguiente trabajo presenta un breve estudio sobre cómo la escritora Paulina Chiziane convierte la locura en una estrategia de resistencia observable en casi todos sus personajes. Aquí el análisis será sobre Maria das Dores, de la novela "El alegre canto de la perdiz" (2010), la loca del río que se atrevió a invadir la exclusiva orilla de hombres del río Licungo y enfrentó a todos con su desnudez. Sin embargo, el análisis será transversal entre los personajes de otras novelas de Chiziane, como Rami, de “Niketche: una historia de poligamia” (2004); Cláudia, de “El séptimo juramento” (2005) y Wusheni, de “Vientos del apocalipsis” (1999). El fenómeno de la locura se reflejará a la luz del texto de Michel Foucault, “La historia de la locura en la época clásica” (1978) y el texto “El debate de Foucault y Derrida: razones o sinrazones del pensamiento” (2017).

Palabras clave: Locura, Mujer, Resistencia, Literatura, Mozambique.

1 Introdução

O texto que se segue analisa o status de loucura impingido à mulher nos romances de Paulina Chiziane. Contudo, o que se verifica é que tal designação, na verdade, é uma estratégia de resistência desenvolvida pela autora, a qual usa o espaço de poder propiciado pela escrita para colocar em evidência os conflitos e as perspectivas sociais de mulheres moçambicanas. O romance de Chiziane em torno do qual se estrutura este texto é “O alegre canto da perdiz” (2010), que se inicia com Maria das Dores surgindo nua nas margens do rio Licungo, um espaço exclusivo dos homens. Ela, devido a sua ousadia em afrontar a todos com sua nudez, olhar e sorriso, é alcunhada de a “louca do rio”. Maria das Dores desencadeia o estudo sobre o evento da loucura feminina como resistência, mas, durante o artigo, haverá a intersecção com personagens de outras obras da mesma autora.

As análises se darão à luz dos textos de Michel Foucault, “A história da loucura na idade clássica” (1978) e o texto “O debate Foucault e Derrida: razões ou desrazões do pensamento” (NASCIMENTO, 2017).

A fim de compreender a origem da loucura da mulher nos romances de Paulina Chiziane, faz-se necessário apontar que a Moçambique apresentada em O alegre canto da perdiz é aquela tomada pelos colonizadores, cujas mulheres estão inseridas em rígidas hierarquias sociais patriarcais e racistas. É importante enfatizar que o país, a efeito de análise teórica, pode ser dividido em Norte, região em que se preservam as tradições culturais e religiosas, com menor presença do colonizador português e onde se localizam os Montes Nampuli. De acordo com as histórias tradicionais do país, esse é o local onde se deu o início da vida. Já o Sul, mais próximo do oceano, é a parte mais ocidentalizada de Moçambique e região em que houve grande presença dos colonizadores.

Nessa conjuntura social, especialmente a do sul de Moçambique, as mulheres constituem simples corpos negros, dos quais emana o prazer sexual. A posse da figura feminina negra representa a dominação do território geográfico africano e, por conseguinte, também do homem negro. O colonizador, ao apropriar-se da mulher moçambicana, submete o homem negro colonizado a uma intensa humilhação, pois tal atitude se torna o ápice da dominação colonial: a possessão da mulher negra exprime a alegoria da dominação colonial da terra de Moçambique. A atitude de violação feminina reafirma que o português detém o domínio de tudo: o Estado, a língua, os valores culturais impostos aos autóctones, a terra.

Em contrapartida, para o homem colonizado, dominar a mulher negra africana seria um meio de transferência ou tentativa de amenizar a dor e a humilhação impingidas a ele, sobretudo o domínio da mulher negra moçambicana. Daí advém a naturalização de processos que anulam a figura feminina como indivíduo social e detentor de direitos, além da negação da violência a que parte dessas mulheres é submetida.

2 A loucura como forma de resistência

Os corpos negros femininos africanos, em sua representatividade e sob a ótica patriarcal, sustentam a ordem política colonial e licenciam as várias violências. Eles são construídos socialmente a partir da visão egocêntrica, masculina, predominante e replicada não apenas pelos homens, mas pela própria mulher.

Sob a perspectiva masculina, o corpo feminino é o lugar de consumo, e não de autonomia e liberdade. Maria das Dores, a louca do rio, que se tornou a heroína do dia por invadir a margem exclusiva dos homens, por meio de sua nudez, seu olhar e seu sorriso afronta a perspectiva do mundo patriarcal que lhe nega o espaço público. Assim, para silenciar a louca, torna-se necessário moralizá-la segundo valores estabelecidos pelo universo patriarcal. Maria das Dores, aquela que carrega as dores de todas as mulheres, nua envolta em lama e protegida pelas águas do rio Licungo coloca em xeque todos os parâmetros sociais vigentes.

Esse cenário descrito torna Maria das Dores, inicialmente, inimiga dos que presenciam sua aparição nas margens do rio Licungo. Altiva, alheia aos gritos e impropérios, ela permanece íntegra. A lama, com a qual o homem fora criado por Deus no Velho Testamento, de acordo com os ensinamentos cristãos, é a mesma que origina, ergue, molda e sustenta aquela que traz em suas mãos o poder de abrir o espaço para todas, afrontando apenas com o olhar as ideologias que cruzam seu caminho e se instituem como status quo: as práticas coloniais e a religião cristã. A imagem de sua intimidade que se refresca nas águas do rio fere o olhar de todas que se encontram acomodadas em sua subordinação feminina. Corpo, cor e olhar: uma tríade que fere a sociedade local e seus respectivos valores mais que qualquer arma mortal.

Cremildo Bahule (2013) afirma em seu texto “Literatura feminina, literatura de purificação” que “a Nação na sua dimensão política, social e cultural, forja os corpos. E os corpos na sua dimensão sociocultural, constituem uma Nação” (BAHULE, 2013, p. 132). A louca do rio, em seu corpo de lama, dimensiona a nação moçambicana que se insurge veementemente em busca do que lhe fora tirado e reivindica seu espaço na margem exclusiva a poucos. Seu corpo de mulher negra é hostilizado por aqueles já dominados culturalmente e que não percebem que são irmãos no mesmo processo de subordinação: ela, mulher; eles, produtos do colonialismo. Todos unidos em um único processo de exploração, humilhação e negação identitária, engendrado por aqueles cujo objetivo era dominar as terras de Moçambique.

O silêncio social no qual a mulher negra é arremessada denota intensa violência física e moral. Ele se torna uma representação da violência impingida ao continente africano quando seus habitantes se veem destituídos de sua língua originária, do poder de enunciação e da sua própria história em benefício da história contada apenas pela perspectiva de quem os domina. O apagamento cultural anula a identidade dos autóctones, transformando-os em seres amórficos, como se fossem apenas uma extensão do país que lhes obriga a tamanho sofrimento e humilhação:

Mundo compartimentado, maniqueísta, imóvel, mundo de estátuas: a estátua do general que fez a conquista, a estátua do engenheiro que construiu a ponte. Mundo seguro de si, esmagando com suas pedras as colunas dorsais esfoladas pelo chicote. Esse é o mundo colonial. O indígena é um ser confinado, o apartheid é apenas uma modalidade da compartimentação do mundo colonial. (FANON, 2010, p. 68- 69).

Esse é o mundo em que a mulher negra moçambicana, na época do domínio português, estava inserida, tendo sua condição de subalternidade, inferioridade e silenciamento realçada pelo sistema colonial e seu corpo reduzido a um objeto de deleite para os europeus. Todavia, esse corpo-nação já carrega suas tatuagens. São marcas que podem mudar a opinião de quem as vê e de quem as percebe, em uma clara abertura do corpo ao mundo. As marcas do corpo negro e nu, sobretudo, problematizam a ideologia colonialista que nega e inferioriza a cultura africana. Além disso, o corpo negro de Maria das Dores evidencia que a homogeneidade europeia e a universalidade pretendida pelo colonizador em meio aos povos africanos como modelo civilizatório são falsas.

Sua presença, bem como sua coragem, coloca em evidência, em equivalência e em equilíbrio os valores africanos perante os valores portugueses, promovendo o que Édouard Glissant (2005) nomeia de crioulização: “A crioulização exige que os elementos heterogêneos colocados em relação ‘se intervalorizem’, ou seja, que não haja degradação ou diminuição do ser nesse contato e nessa mistura […]” (GLISSANT, 2005, p. 22).

Compreende-se, assim, que, no corpo da negra africana, encerra-se uma identidade visceralmente ligada à ideia de nação. O Estado procura policiar e cercear as ações desse corpo, para que este desempenhe sua função hegemônica com êxito. No entanto, há de se lembrar que as identidades não são estáveis nem fixas e sua tendência é a de se opor aos processos homogeneizadores, é abrir-se à diversidade e “contaminar” o espaço de predileção de alguns. Novamente retoma-se Glissant (2005), que defende que as populações libertas do estigma da hegemonia colonial se abrem para os vários processos culturais e sociais, os quais contribuem na formação identitária de uma determinada comunidade. Nesse contexto, os resultados são imprevisíveis, mas nem por isso inferiores. De acordo com Glissant (2005), a imprevisibilidade é a marca da crioulização. Para Maria das Dores, sua presença promove a equivalência dos diversos valores culturais, ou seja, a crioulização. Para seus espectadores, a louca do rio promove a desordem e desafia as normas consolidadas: “Ali estava a heroína do dia. Protegida na fortaleza do rio. Num trono de água. Que venceu um exército de mulheres e colocou desordem na moral pública. Que desafiou os hábitos da terra e conspurcou o santuário dos homens.” (CHIZIANE, 2010, p. 16).

Esse é o panorama que Chiziane pretende apresentar ao leitor, a fim de que ele compreenda o universo feminino moçambicano. A autora quer também estimular transformações na dura realidade por meio de suas protagonistas e a partir do local cultural para onde foram arremessadas. Conhecer e compreender como se dão os vários processos de dominação e exploração da mulher nos mais diversos âmbitos sociais moçambicanos seria, talvez, o ponto de partida para mudança de perspectivas, alcance de novos paradigmas culturais e releitura dos já existentes.

Em “Niketche: uma história de poligamia” (CHIZIANE, 2004), também é possível observar a violência contra a mulher como algo presente e corriqueiro entre as famílias, incapaz de causar, na lógica patriarcal, qualquer sensação de estranhamento. Toni, o marido adúltero, se justifica para Rami, a primeira esposa:

– Sou um homem bom, Rami, há homens piores do que eu. Faço tudo bem feito. Ter muitas mulheres é o direito que tanto a tradição como a natureza me conferem. Nunca maltratei a Lu, bati nela algumas vezes, apenas para manifestar o meu carinho. Também te bati algumas vezes, mas tu estás aí, não me abandonaste para lugar nenhum. A minha mãe foi sempre espancada pelo meu pai, mas nunca abandonou o lar. As mulheres antigas são melhores que as de hoje, que se espantam com um simples açoite. (CHIZIANE, 2004, p. 284).

A citação acima se refere a um momento, já no final da narrativa, quando todas as mulheres de Toni o deixam para seguir seus próprios caminhos. Percebe-se que há uma legitimação dos processos violentos contra a mulher nas sociedades patriarcais através da desqualificação desses procedimentos. Dessa forma, a violência e, logo, o feminicídio, têm sua gravidade reduzida sendo colocadas como parte inseparável do cotidiano dos casais, afinal “todas levam alguns açoites”. O discurso apresentado no fragmento acima não é exclusivo a Moçambique ou à África. Ele se estende a todos os lugares do planeta, onde é comum, reforçando o caráter universal da dor feminina descrita nos textos de Chiziane.

Ultrapassar os limites que demarcam o espaço social imposto há décadas requer muita ousadia e subversão. Afinal, são longos períodos de assimilações culturais que habituaram as mulheres a se situarem em um patamar social inferior, cuja falsa segurança fomenta o comodismo e a enganosa impressão de conforto. Esses processos de imposição e doutrinação abafam os valores tradicionais africanos em que há compartilhamento de poder entre homem e mulher, maior igualdade entre ambos e instituem, através de longos processos doutrinários e apagamentos culturais, que a única verdade preponderante e benéfica a todos é aquela incentivada pelo homem português.

Ao olhar atentamente para as personagens de Chiziane, percebe-se que as mulheres destacadas pela autora são aquelas que não se adequam à realidade social e cultural imposta pelo mundo patriarcal e pelo mundo colonial sem antes problematizá-los. Portanto, como elemento estranho, que não se encaixa nas engrenagens, elas despertam a reflexão e a sensibilidade do leitor. Por muitas não suportarem tamanho fardo advindo da força desprendida para desencadear a ação do confronto, algumas se entregam, ou são levadas à prostituição, à loucura, à depressão ou à morte.

É o caso de Maria das Dores que, para suportar os sucessivos estupros e o uso forçado de álcool e ervas que a mantinham dopada e cativa em poder de seu marido, encontra alívio dessa relação conjugal tensa e violenta no devaneio próximo à loucura. Mesmo sob essas condições adversas, ela consegue fugir para os Montes Nampuli. Sua loucura transforma-se em um artifício com o qual rejeita todo o sofrimento que lhe é imposto, ao mesmo tempo em que remete à representação da resistência feminina em Moçambique na luta por transformação do patriarcado, por mais dignidade e respeito dentro da sociedade.

A designação de “a louca do rio” pauta o conceito de insanidade nos parâmetros científicos europeus, que traçam a fronteira entre o que é próprio do campo da razão e o que é típico do campo da loucura. É, portanto, uma construção científica ocidental que decide o que é e o que não é dotado de razão, exercendo, mais uma vez, a habilidade eurocêntrica de ditar o que deve ser excluído a partir de sua crença de verdade.

Assim, em algumas regiões de Moçambique, prevalecem, entre a população, principalmente nas áreas em que houve forte presença do colonizador europeu, determinados valores éticos, morais, raciais e de gêneros, que excluem aqueles e aquelas que não se encaixam nos parâmetros estabelecidos pelo Ocidente, ou seja, definem os valores para que o indivíduo seja considerado cidadão de bem, dotado de razão. A professora Enilce do Carmo Albergaria Rocha, em sua tese de doutorado “A utopia do diverso: o pensamento glissantiano nas escritas de Édouard Glissant e Mia Couto” (ROCHA, 2001), destaca a seguinte citação de Glissant (1981) em que o teórico traça uma definição do que seja o ocidente enquanto projeto de dominação: “O Ocidente não está situado no Oeste. O Ocidente não é um lugar, e, sim, um projeto” (GLISSANT, 1981, p. 12 apudROCHA, 2001, p. 25), que se realiza nos países colonizados em África, Ásia e América Latina.

É um discurso utilizado para exercer o poder de uns e punir outros, evitando que se estabeleça a pseudodesordem na ordem social estabelecida. Em a “História da loucura”, Michel Foucault (1978), por meio de suas observações, analisa como as pessoas que não se enquadravam em um determinado comportamento social eram consideradas loucas, expondo o poder em julgar e determinar quais eram as atitudes “normais” e aquelas outras que colocavam em ameaça a razão iluminista europeia.

Pois o problema real é exatamente o de determinar o conteúdo desse juízo que, sem estabelecer nossas distinções, expatria do mesmo modo aqueles que teríamos tratado e aqueles que teríamos preferido condenar. Não se trata de localizar o erro que autorizou semelhante confusão, mas de seguir a continuidade que nosso atual modo de julgar rompeu. (FOUCAULT, 1978, p. 124).

Para Foucault (1978), a loucura é uma ameaça para a ordem do medíocre mundo dos homens. Maria das Dores, a deusa de ébano e lama, é a encarnação dessa ameaça ao mundo patriarcal: “há mensagens de perigo escondidas nas linhas nuas do corpo.” (CHIZIANE, 2010, p. 15). O objetivo não é destruir o mundo regido unicamente por leis e lógica patriarcais, mas transformá-lo e, por conseguinte, transformar a sociedade abrigada por ele.

Segundo Érica Luciana de Souza Silva (2021), em “Das margens do rio Licungo aos ventos do apocalipse. Vinde todos escutar o novo canto: a sociedade moçambicana sob o prisma da mulher na escrita de Paulina Chiziane”, a suposta loucura de Maria das Dores é, na verdade, o saber que os demais ignoram. Por isso, todos naquele lugar à margem do rio Licungo nomeiam, inicialmente, a personagem como a “louca do rio”. Por que não a “sábia do rio”? Sua visão, além dos limites sociais impostos que a credenciam como uma sábia, assusta aqueles que desconhecem o processo de dominação em que estão imersos. Em a “Ordem do discurso”, Foucault afirma:

[…] o louco é aquele cujo discurso não pode circular como o dos outros […] pode ocorrer também, em contrapartida, que se lhe atribua, por oposição a todas as outras, estranhos poderes, o de dizer uma verdade escondida, o de pronunciar o futuro, o de enxergar com toda ingenuidade aquilo que a sabedoria dos outros não pode perceber. (FOUCAULT, 2008, p. 11).

Logo, é mais cômodo condenar a mulher à loucura do que se unir em sua luta pela transformação necessitada: “[…] a loucura fascina porque é um saber. É saber, de início, porque todas essas figuras absurdas são, na realidade, elementos de um saber difícil, fechado, esotérico.” (FOUCAULT, 1978, p. 26).

Ao analisar a sabedoria/loucura de Maria das Dores, conclui-se que, na verdade, as loucas são aquelas que acusam a mulher à margem do rio exclusiva dos homens por sua ousadia. As outras mulheres naquela cena estão apegadas a si mesmas e aos conceitos de verdade e justiça, como peças do mundo patriarcal: “o apego a si próprio é o primeiro sinal de loucura, mas é porque o homem se apega a si próprio que ele aceita o erro como verdade, a mentira como sendo a realidade, a violência e a feiura como sendo a beleza e a justiça.” (FOUCAULT, 1978, p. 30).

Maria das Dores ameaça a ordem social estabelecida, obriga a todos, sem se intimidar, a reler e a compreender a situação de subordinação em que todas estão envoltas; não inimigas, mas aliadas unidas em um único elo.

De acordo com Silva (2021), em Maria das Dores também se enxerga Paulina Chiziane que, por inúmeras vezes, teve suas produções literárias rotuladas como inferiores, justamente porque tocam em assuntos nevrálgicos e ainda não resolvidos na sociedade moçambicana. Esse fato é confirmado pelas insistentes colocações proferidas por alguns em seu país, chamando-a de louca, a quem, portanto, não se deve dar créditos nem ao menos perder tempo em escutar suas “histórias desnecessárias”. É a convergência da escritora em várias de suas personagens, que, por não suportarem a violência a elas imposta, tampouco a tentativa de silenciamento de suas vozes sofridas e o descredenciamento de suas palavras, nenhuma outra saída lhes resta, a não ser o escape pela loucura: enlouquece-se para não morrer afogada em suas próprias angústias. A escrita é o escape de Paulina Chiziane1.

Silva (2021) afirma que a loucura passa a ser uma estratégia de resistência, pois, para muitos, o melhor seria que as contadeiras de estórias desaparecessem com seus barulhos atordoantes, que têm o poder nefasto de conscientizar milhares de outras mulheres sobre a força de que elas são imbuídas no processo transformador da sociedade. Neste ponto, faz-se necessário se ater ao conceito de loucura desenvolvido ao longo dos séculos para, assim, tentar compreender os processos presentes nas obras de Paulina Chiziane.

Desde a Antiguidade, o fenômeno da loucura desperta grandes reflexões nas áreas da ciência e na sociedade. Durante o Renascimento, na Europa, os manicômios surgiram para substituir os antigos leprosários, uma vez que a doença já havia sido controlada. Ali se encarceravam todos aqueles que não se adequavam às regras de uma sociedade específica, entre elas os considerados desvios morais. Inúmeros estudiosos vêm, ao longo dos séculos, debruçando-se sobre esse assunto a fim de compreendê-lo e buscar soluções. Entre eles, citam-se Descartes, Foucault e Derrida como grandes filósofos que se dedicaram à análise do fenômeno da loucura. O segundo defende que a loucura habita no interior do espaço moral da exclusão (FOUCAULT, 1978, p. 12). O primeiro afirma que apenas o sujeito pensante, racional é o detentor da verdade: “penso, logo existo”. Os loucos estão fora do campo da razão, assim, não podem proferir a verdade (BIRMAN, 2010). Já Derrida aponta que loucura e razão são indissociáveis (NASCIMENTO, 2017, p. 148).

Foucault (1978) afirma que a loucura fascina a humanidade porque é um saber, mas uma espécie de saber proibido, e que o louco geralmente toma lugar no centro das encenações. Na Idade Média, muitas vezes esse papel era destinado ao bobo da corte, para lembrar a cada um a sua incômoda verdade. O louco seria, portanto, o detentor da verdade, aquele que, em meio a seus delírios, diz a verdade secreta ocultada a todos. É uma espécie de voz da consciência, que expõe as transgressões morais de um indivíduo sem o risco do silenciamento.

[…] a loucura não está ligada ao mundo e as suas formas subterrâneas, mas sim ao homem, às suas fraquezas, seus sonhos e suas ilusões. […] Ela (a loucura) desemboca, portanto, num universo inteiramente moral. […] É também ao moral que pertence a loucura do justo castigo. Ela pune, através das desordens do espírito, as desordens do coração. Mas tem outros poderes: o castigo que ela inflige multiplica-se por si só na medida em que, punindo, ele mostra a verdade. […] A loucura, nessas palavras insensatas, que não se podem dominar, entrega seu próprio sentido; ela diz, em suas quimeras, suas verdades secretas […] (FOUCAULT, 1978, p. 29, 30, 44).

Silva (2021) estabelece um diálogo entre o texto de Foucault (1978) e Evandro Nascimento (2017). Nesse diálogo, Silva (2021) destaca o outro aspecto da loucura que é descrito pelo professor Evandro Nascimento em seu texto “O debate Foucault e Derrida: razões ou desrazões do pensamento”. Nascimento (2017) aponta que, para pensar o fenômeno da loucura não se pode abandonar o conceito de alteridade. No pensamento clássico, tudo que era diverso e não representasse o raciocínio puro era lançado para a zona da exclusão. Logo, lançava-se para essa região do abandono tudo o que não se adequava aos modelos estabelecidos e excluía-se a alteridade.

Desta forma, Silva (2021) conclui que as loucas presentes nos romances de Chiziane têm papel preponderante dentro das narrativas por dizerem outras verdades, além das já instituídas, e agirem de maneira a não serem silenciadas. Protegidas pelo não lugar da loucura, não se calam, não podem ser responsabilizadas por atos nefastos, justamente por não responderem por si. Negam-se a se esconderem em cozinhas e quartos escuros e a aceitarem o estigma de serem consideradas como a parcela familiar que deve ser afastada dos olhares estranhos por causar vergonha. É um elemento estranho dentro da própria estrutura familiar adaptada a leis e costumes patriarcais. Desse modo, protegidas pela suposta insanidade, não têm receios de dizer o que vai na alma feminina. É o mundo silenciado, negligenciado e descredenciado falando as verdades sob perspectivas distintas e variadas. É a voz moçambicana abarcando a variedade feminina existente no país.

Na literatura, assim como no teatro, é necessário fingir-se louco, saber ser louco para entrar na pele do louco e lhe dar voz, veicular sua fala incoerente, que a todos incomoda. (NASCIMENTO, 2017). Assim procede Chiziane, que usa o estigma social da insanidade para alçar questionamentos e apresentar seus próprios sofrimentos, vivenciados em sua trajetória de reconhecimento literário dentro de Moçambique. A sua voz, à luz da sociedade patriarcal, não passa de murmúrios inconvenientes que não merecem ser ouvidos. Assim, suas personagens loucas falam por ela. É um “dar a voz” recíproco: Paulina, por meio de seus diversos narradores, fala pelas personagens e as personagens falam por Paulina. Juntas, elas falam pela mulher moçambicana subjugada e silenciada.

Ainda de acordo com Silva (2021), morte e loucura são dois eventos antagônicos e, ao mesmo tempo, muito próximos. A morte, quando referente a indivíduos que podem trazer a desordem à ordem estabelecida, lança o indivíduo para o vazio, tirando-o do campo de visão dos demais. A loucura, ao contrário, expõe o que há no indivíduo sem as máscaras sociais, o que, muitas vezes, é considerado como a personificação do mal. Entretanto, essa visão sobre a morte como a entidade que lança o indivíduo para o vazio e para o esquecimento, não se verifica na personagem Wusheni de “Ventos do apocalipse” (1999), de Paulina Chiziane. Wusheni é a filha de Minosse e do polígamo Sianga. Ela fora prometida a um homem mais velho em troca de seu lobolo, que seria pago a seu pai. Wusheni rejeita a escolha do pai e decide viver seu amor com o jovem Dambuza. Sua trajetória na narrativa se encerra quando ela é assassinada por seu irmão. O ato é duplo e simultâneo: Wusheni recebe a facada mortal ao mesmo tempo que desfere uma facada em seu irmão. A morte de Wusheni não se configura como vazio e apagamento, como dito anteriormente, mas uma estratégia de resistência e luta contra as leis machistas que ferem a dignidade da mulher.

Processo semelhante ocorre em “O sétimo juramento” (CHIZIANE, 2005), também de Chiziane, com Cláudia, a amante de David. Sua morte também não reflete silenciamento, mas expõe a hipocrisia que reina no mundo patriarcal e machista, o qual não estabelece a imagem de um homem bem-sucedido, sem que haja a presença de uma amante. A morte de Cláudia expõe o duplo adultério de David, a saber: o relacionamento extraconjugal com a secretária, aos moldes ocidentais, e a pedofilia ancorada na prostituição de crianças e adolescentes, quando David compra uma menina virgem na casa de prostituição. Cláudia é o elemento desestabilizador dessa fatídica ordem social. Assim como os loucos, deveria ser silenciada, ou aniquilada, para que tudo permanecesse dentro do modelo estabelecido, o que se dará, no romance, com a sua morte.

As ações que ferem a dignidade e os direitos femininos ganham destaque nas obras de Chiziane e expõem ao leitor o desnudamento das relações que permeiam as diferentes sociedades. É o discurso de Paulina Chiziane alçando-se a uma proporção universal. Essa transcendência não se configura como vetor homogeneizador nem como um silenciador de diversidades, mas como um evento típico da sociedade contemporânea moçambicana, transposto para a ficção literária. Com isso, a autora explicita em palavras as agruras pertinentes a grande parte das mulheres em diversas partes do mundo.

Outro importante fator que aqui se destaca é quanto ao local para onde Maria das Dores, em meio a seus devaneios, foge: os Montes Nampuli. De acordo com a tradição oral moçambicana, os Montes Nampuli constituem o centro do mundo, o lugar onde toda a criação teve início. O espaço do equilíbrio natural, da segurança, situado na região Norte do país, na Zambézia e que teria sido gerado em um ovo de perdiz, o que inspirou o título da obra “O alegre canto da perdiz”. Nessa região, aproximadamente 69% da população é atingida pela pobreza, principalmente mulheres e crianças que vivem na zona rural2.

Ao buscar refúgio e segurança em uma região onde grande parte das mulheres se encontra em uma situação econômica frágil, Maria das Dores denota uma atitude de loucura perante a perspectiva ocidental e machista que vigora em seu país. Contudo, ela necessita do contato com a gênesis criadora que remete ao tempo anterior à colonização, antes que os homens ocidentais roubassem o domínio das mulheres. Somente o resgate da cultura e dos valores tradicionais moçambicanos é que poderiam reativar suas energias para empreender a busca pelos filhos perdidos. Mesmo sendo resgatada por soldados do império, tratado o corpo e suas feridas, Maria das Dores continua sendo considerada louca, o que lhe permitirá invadir e recuperar a margem do rio Licungo dominada por homens.

Erguer Maria das Dores como uma rainha exatamente na margem do rio Licungo não foi coincidência. Esse rio é estratégico em Moçambique, pois ele liga as regiões de Nampula e Zambézia e deságua no mar. Nampula está localizada no interior da região Norte de Moçambique e é também conhecida como a Capital do Norte. Durante a colonização, foi referência para os militares portugueses que lutaram na guerra colonial. Zambézia também se situa no interior de Moçambique, havendo, durante a colonização, sofrido com o domínio dos portugueses. Os Montes Nampuli estão nesta região. As duas regiões são marcadas por conseguirem recuperar o domínio de seus territórios das mãos dos portugueses, além de serem regiões em que predomina a herança pela matrilinearidade.

A saída para o mar faz do rio Licungo um transportador dos ares de libertação do domínio colonial e da condição de igualdade da mulher típica dessa região, que é antagônica à situação das mulheres do Sul. Assim, compreende-se a importância do domínio de suas margens e de suas águas reservadas única e exclusivamente para os homens, bem como para a manutenção e perpetuação do status machista e patriarcal vigente em boa parte do país e ratificado pela colonização. Sob o domínio masculino, as águas desse rio são, provavelmente, represadas, metaforizando o enclausuramento dos ideais de igualdade de gênero e emancipação feminina. As águas não alcançarão, portanto, a vastidão dos mares e dos oceanos. Logo, não espalharão as boas novas femininas por todo o planeta.

A loucura de Maria das Dores revela a dimensão da importância de sua suposta insanidade no contexto social da mulher. Ela emerge das águas e da lama, materiais que carregam as representações culturais tradicionais abandonadas e enterradas no fundo do rio pelas convenções coloniais e patriarcais e com elas afronta a suposta razão que se impõe sobre a sociedade atual.

3 Considerações finais

A obra da escritora Paulina Chiziane torna-se o espaço de poder em que há reverberação da voz feminina moçambicana, pois a autora fala como e pela mulher de seu país. Ela própria se considera uma contadeira de “estórias” e ali ela narra os casos que ouve de suas vizinhas, amigas e parentes. Ao mesmo tempo que fala sobre a mulher de seu país, os conflitos ali apresentados assumem um caráter universal por se tratar de dilemas enfrentados por muitas mulheres em várias partes do planeta.

Tratar a loucura como forma de resistência feminina é uma das estratégias assumidas para reivindicar direitos negados há séculos à população feminina moçambicana. Nesse contexto, o processo de dominação colonial incentivou e legitimou práticas misóginas e racistas, o que pode ser verificado no sul de Moçambique, região em que houve maior presença e intensidade da dominação portuguesa.

Paulina Chiziane, em seus romances, mostra, por meio do olhar da mulher moçambicana, a cultura tradicional de seu país que é permeada pela oralidade. A autora subverte a literatura moçambicana ao trazer para seus textos aquelas que sempre foram ignoradas. Sua linguagem representativa de inúmeras mulheres carrega dores, conflitos, dilemas e conhecimentos que foram negligenciados e ignorados por grande parte da sociedade moçambicana por séculos e leva seus leitores a refletirem sobre os estudos de gênero e a forma como vivem as mais variadas mulheres de seu país.

Referências

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Notas

NOTA DE TÍTULO: Este texto foi retirado de minha tese de doutorado cujo título é: “Das margens do rio Licungo aos ventos do apocalipse. Vinde todos escutar o novo canto: Os impactos literários, sociais e culturais através do cruzamento dos romances de Paulina Chiziane”. A defesa do trabalho ocorreu no dia 12/04/2021.
1 As reflexões e discussões referentes ao processo de loucura envolvendo as personagens de Paulina Chiziane foram retiradas de minha tese de doutorado cujo título é: Das margens do rio Licungo aos ventos do apocalipse. Vinde todos escutar o novo canto: a sociedade moçambicana sob o prisma da mulher na escrita de Paulina Chiziane. A referência completa do trabalho está nas referências bibliográficas.
2 Fonte: CMI Relatório. Políticas de Género e Feminização da Pobreza em Moçambique

Notas de autor

1 Doutora em Letras: Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2021). Professora no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense - Campos dos Goytacazes/RJ - Brasil. E-mail: ericavascoprof@gmail.com.

Información adicional

COMO CITAR (ABNT): SILVA, É. L. S. A loucura feminina nos romances de Paulina Chiziane como estratégia de resistência. Vértices (Campos dos Goitacazes), v. 24, n. 1, p. 7-18, 2022. DOI: https://doi.org/10.19180/1809-2667.v24n12022p7-18. Disponível em: https://www.essentiaeditora.iff.edu.br/index.php/vertices/article/view/16306.

COMO CITAR (APA): Silva, É. L. S. (2022). A loucura feminina nos romances de Paulina Chiziane como estratégia de resistência. Vértices (Campos dos Goitacazes), 24(1), 7-18. https://doi.org/10.19180/1809-2667.v24n12022p7-18.

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