Dossiê Temático: “A pesquisa em Educação Profissional e Tecnológica: temas, abordagens e fontes”

Pesquisas sobre violência de gênero na educação profissional brasileira e francesa: um estado do conhecimento

Research on gender-based violence in Brazilian and French vocational education: a state of knowledge

La investigación sobre la violencia de género en la formación profesional brasileña y francesa: un estado del conocimiento

Maria Carolina Xavier da Costa 1
Brasil
Avelino Aldo de Lima Neto 2
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Brasil
Julie Thomas 3
Centre Max Weber da Universidade Jean Monnet, Francia

Pesquisas sobre violência de gênero na educação profissional brasileira e francesa: um estado do conhecimento

Vértices (Campos dos Goitacazes), vol. 24, núm. 2, 2022

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

Este documento é protegido por Copyright © 2022 pelos autores.

Recepción: 10 Enero 2022

Aprobación: 08 Agosto 2022

Resumo: As violências baseadas no gênero ocorrem no contexto da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) brasileira e francesa. Diante desse problema, o presente artigo objetiva mapear as pesquisas sobre violência de gênero na Educação Profissional em repositórios digitais no Brasil e na França. Metodologicamente, recorreu-se a Creswell (2010) para empregar o estado do conhecimento. Teoricamente, os trabalhos de Cisne (2018), Cisne e Santos (2018), Delphy (2005), Federici (2017; 2019) e Saffioti (2004) embasam a discussão. Os resultados apontam a escassez de investigações sobre a temática. Ademais, o estudo mostrou a existência dos seguintes temas de pesquisa: a divisão sexual nos percursos escolares, a reprodução dos estereótipos de gênero, a invisibilidade do sofrimento psíquico, as estratégias de neutralização do feminino em cursos predominantemente masculinos, as táticas de enfrentamento colocadas em marcha por mulheres estudantes de cursos técnicos no Brasil e na França. A conclusão aponta a necessidade de uma melhor circunscrição epistemológica do objeto “violência de gênero” e as possibilidades de novos estudos comparativos entre Brasil e França, dadas as similitudes na história e organização da EPT de ambos os países.

Palavras-chave: Gênero, Violência de gênero, Educação Profissional, Brasil, França.

Abstract: Gender-based violence occurs in the context of Brazilian and French Vocational and Technological Education (TVET). Given this problem, this paper aims to map research on gender-based violence in TVET in digital repositories in Brazil and in France. Methodologically, we resorted to Creswell (2010) to employ the state of knowledge. Theoretically, the work of Cisne (2018), Cisne and Santos (2018), Delphy (2005), Federici (2017; 2019), Saffioti (2004) underpin the discussion. The results point to the scarcity of research on the topic. Moreover, the study showed the existence of the following research themes: the sexual division in school paths, the reproduction of gender stereotypes, the invisibility of psychic suffering, the strategies of neutralization of the feminine in predominantly male courses, the coping tactics set in motion by women students of technical courses in Brazil and France. The conclusion points to the need for a better epistemological circumscription of the object "gender violence" and the possibilities of new comparative studies between Brazil and France, given the similarities in the history and organization of TVET in both countries.

Keywords: Gender, Gender based violence, Vocational Education (TVET), Brazil, France.

Resumen: La violencia de género se da en el contexto de la Educación Profesional y Tecnológica (EPT) brasileña y francesa. Frente a este problema, este trabajo pretende mapear la investigación sobre la violencia de género en la EPT en los repositorios digitales de Brasil y Francia. Metodológicamente, se recurrió a Creswell (2010) para emplear el estado del conocimiento. Teóricamente, los trabajos de Cisne (2018), Cisne y Santos (2018), Delphy (2005), Federici (2017; 2019), Saffioti (2004) sustentan la discusión. Los resultados apuntan a la escasez de investigaciones sobre el tema. Además, el estudio mostró la existencia de los siguientes temas de investigación: la división sexual en las trayectorias escolares, la reproducción de los estereotipos de género, la invisibilidad del sufrimiento psíquico, las estrategias de neutralización de lo femenino en los cursos predominantemente masculinos, las tácticas de afrontamiento puestas en marcha por las estudiantes de cursos técnicos en Brasil y Francia. La conclusión señala la necesidad de una mejor circunscripción epistemológica del objeto "violencia de género" y las posibilidades de nuevos estudios comparativos entre Brasil y Francia, dadas las similitudes en la historia y la organización de la EPT en ambos países.

Palabras clave: Género, Violencia de género, Formación Profesional, Brasil, Francia.

1 Introdução

Nas instituições educativas brasileiras, inclusas aquelas pertencentes à Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT), as violências baseadas no gênero são frequentes. Na França, essas questões também se fazem presentes nas instituições de Educação Profissional e Tecnológica (EPT), com o agravante da existência de uma acentuada desvalorização social da educação profissional, notadamente a de nível médio (LIMA NETO et al., 2021).

Condenadas por muito tempo ao silêncio, as estudantes das instituições da RFEPCT, no Brasil, têm encontrado diversos modos de fazer-se ouvir. Algumas buscam as ofertas de ensino para se qualificar e se desembaraçar de práticas misóginas, por tanto tempo naturalizadas (COSTA; LIMA NETO, 2020; QUIRINO; LIMA NETO, 2021; SOUZA; LIMA NETO; GLEYSE, 2021); outras, sobretudo as mais jovens, se organizam em espaços como coletivos feministas, negros ou LGBT+, usando perfis em plataformas como o Instagram e o YouTube, conforme nos revelaram recentemente o documentário Meu fuá tem poder e a revista Gênero e Sexualidade no Ensino Médio Integrado1.

Esses dispositivos de sociabilidade juvenil permitem a emersão de experiências como aquelas concernentes às violências inscritas no corpo, nomeadamente relativas ao gênero, em seus atravessamentos com os pertencimentos de raça e classe. As estudantes continuam a lidar com variados tipos de agressão, mas agora a invisibilização de suas presenças é perturbada por maneiras de resistir espalhadas pelos corredores, pátios e salas de aulas (GEMAQUE; CAVALCANTI; JESUS, 2021). Essa perturbação também se manifesta pelo crescimento, ainda tímido, das pesquisas sobre a temática (RAMOS, 2021), como apontaram os estados do conhecimento realizados por Lima Neto, Cavalcanti e Gleyse (2018), Souza e Lima Neto (2019), Sampaio e Lima Neto (2019), Santos Junior e Cavalcante (2021), Costa e Lima Neto (2020), Costa, Maia e Lima Neto (2021).

O presente texto soma-se às iniciativas precedentes ao objetivar mapear e analisar, introdutoriamente, a produção científica brasileira e francesa acerca das violências de gênero na Educação Profissional, compreendendo o recorte temporal de 20082 a 2021. Tal esforço materializa parte de uma pesquisa de mestrado3 em andamento no Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (PPGEP/IFRN). A investigação de mestrado situa-se, ademais, no interior de um projeto de pesquisa internacional intitulado Corpo, gênero e sexualidade na Educação Profissional: cenários epistemológicos e subjetivos, financiado pela chamada universal 2018 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e desenvolvido em parceria entre instituições brasileiras e francesas por meio do grupo de pesquisa Observatório da Diversidade (IFRN/CNPq).

Isso posto, inicialmente, apresentamos em linhas gerais os conceitos basilares sobre os quais nos fundamentamos teoricamente. Em seguida, explicitamos os procedimentos metodológicos adotados para a realização do estado do conhecimento em repositórios brasileiros e franceses. Após a exposição dos dados encontrados, tecemos algumas considerações, com vistas a proporcionar à Educação Profissional (EP) novas reflexões epistemológicas acerca da construção das pesquisas sobre gênero e dos objetos a elas conectados.

2 Fundamentação Teórica

Em concordância com Alemany (2009, p. 271), chamamos de violência contra as mulheres “todos os atos que, por meio de ameaça, coação ou força, lhes infligem, na vida privada ou pública, sofrimentos físicos, sexuais ou psicológicos com a finalidade de intimidá-las, puni-las, humilhá-las, atingi-las na sua integridade física e na sua subjetividade”. No contexto epistêmico da EP, especificamente na RFEPCT, cuja produção científica é bastante influenciada pelo marxismo (SOUZA; LIMA NETO, 2019), para melhor compreender a violência de gênero se faz necessária uma aproximação com o feminismo marxista. Nesta ocasião, recorreremos sobretudo aos trabalhos de Cisne (2018), Cisne e Santos (2018), Delphy (2005), Federici (2017, 2019) e Saffioti (2004).

Ao apontar o espaço doméstico enquanto lugar de produção material da existência, Delphy (2005) aproxima o materialismo do feminismo. Revela-se a contribuição das relações sociais de sexo, especialmente aquelas elaboradas pelo casamento, para o estabelecimento da base econômica do patriarcado (DEVREUX, 2009). Essa perspectiva alinha-se à de Federici (2017, 2019), que refina a análise da relação intrínseca entre a violência e o desenvolvimento do capitalismo.

Para a filósofa italiana, a violência não só foi essencial no processo de acumulação primitiva a partir da conquista do Novo Mundo por meio de práticas como o cerceamento, a caça às bruxas, as marcações a fogo, a escravização de africanos ou a subalternização de povos originários. Para Federici, a degradação das mulheres é condição sine qua non da existência do capitalismo. E a forma mais sutil dessa violência está disfarçada no trabalho doméstico ou nas ocupações dedicadas ao cuidado.

Saffioti (2004), por sua vez, postula a necessidade de ir além da noção de “gênero” e pensar em termos de “patriarcado”, cujas características ela sintetiza do seguinte modo: trata-se de uma relação civil, não privada, organizada hierarquicamente em todos os espaços sociais; concede direitos sexuais aos homens sobre às mulheres, corporificando-se; tem uma base material e fundamenta-se tanto na ideologia quanto na violência.

Nessa direção, Cisne e Santos (2018) criticam o uso do termo “violência de gênero” e adotam a expressão “violência contra a mulher”. As autoras reforçam ser esse fenômeno o resultado das relações patriarcais que, por sua vez, dialeticamente, são estruturadas pela mesma violência. Cisne e Santos (2018) concordam com Saffioti (2004) ao defenderem o fenômeno em foco concernente à apropriação do corpo e da vida das mulheres em variadas dimensões, com base no controle e no medo.

Assim, compreende-se um movimento epistêmico de aproximação de diversas correntes teóricas do marxismo e do feminismo, sobretudo a partir de meados do século XX. Para Cisne (2018), engendrado na lógica capitalista, o patriarcado não pode ser compreendido sem uma análise da classe trabalhadora enquanto sujeito coletivo. Por isso, conforme a autora, o feminismo marxista ofereceria “o método de análise para desvelar com criticidade e em uma perspectiva de totalidade a construção histórica das opressões e explorações consubstanciada pelas relações sociais de classe, raça e sexo” (CISNE, 2018, p. 227).

Esses conceitos basilares, orientadores da análise empreendida no presente estudo, remetem-nos às transformações epistemológicas em vias de operação no campo da EPT no Brasil e na França. Assim, os dados a serem apresentados posteriormente se somarão àqueles já indicados nos estados do conhecimento supracitados, funcionando enquanto indícios de um campo epistêmico em construção que, por sua vez, se edifica por embates epistemológicos nutridos pelas relações sociais entre os sexos.

3 Metodologia

Recorremos ao estado do conhecimento enquanto estratégia de pesquisa cuja aplicação permite mapear a produção científica já existente e legitimar, numa perspectiva epistemológica, a realização de uma dada investigação ao suprir eventuais lacunas (CRESWELL, 2010). Em nosso caso, os estudos mencionados na introdução deste artigo já evidenciaram a existência de uma certa ausência das investigações sobre gênero na EP. A presente iniciativa, contudo, se diferencia das anteriores de duas formas: primeiramente, por buscar refinar os resultados anteriores ao explorar especificamente as teses relativas à violência de gênero na EP; em segundo lugar, por realizar uma comparação com a produção científica francesa, levando em conta a internacionalização das redes de estudo sobre EP e gênero entre Brasil e França.

Dito isso, para a implementação desse estado do conhecimento, escolhemos as fontes de busca em ambos os países. Foram elas: no Brasil, a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e o Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES. Para esse país, nos utilizamos dos descritores: “Violência de Gênero” e “Educação Profissional”; “Violência” e “Educação Profissional”; “Violência de Gênero” e “Educação” (com uso de aspas nas pesquisas). Na França, fizemos a varredura na plataformas HAL-SHS (Sciences de l'Homme et de la Société4) com os descritores: Violences de genre ET Éducation professionnelle; Violences de genre ; "Violences" ET "genre" ET "lycée" (gostaríamos de sinalizar que dentro da busca francesa somente neste descritor foram utilizadas aspas); Lycée professionnel ET violences sexistes; Lycée ET violences de genre; Violences genrées ET Lycée; Violences ET baccalauréat professionnel ET genre; Violences ET éducation professionnelle. Também nos utilizamos do repositório Theses.fr com as seguintes combinações de descritores: Violences + genre + lycée; Violences + lycée; Violences + enseignement professionnel; Violences + enseignement technologique; Violences + enseignement; Violences + genre + éducation; Violences + école après 2008; Violences de genre, à partir de 2008; Genre + lycée.

Em seguida, identificamos os trabalhos com prováveis associações com os descritores. Posteriormente, lemos os resumos e conferimos os sumários. Foram escolhidos os materiais nos quais foi possível diagnosticar a referência aos descritores de busca, bem como uma relação com a temática da violência de gênero na EP. Vale salientar que encontramos muitas produções relativas à violência de gênero, mas sem vínculo com a Educação ou com a EP. Nesses casos, os achados foram descartados. Por fim, recuperamos as teses selecionadas no passo anterior. Foram extraídos o nome, ano da defesa, área da pesquisa, objetivo e lócus empírico da investigação, que passamos a descrever nas seções seguintes.

4 Busca nos repositórios brasileiros

4.1 Violência de gênero e educação profissional na BDTD

A BDTD integra os sistemas de informação de teses e dissertações existentes nas instituições de ensino e pesquisa do Brasil. Foi desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict). A BDTD permite acesso aos resumos e textos integrais disponibilizados no sítio, o que estimula a publicação e a difusão do conhecimento científico.

Realizamos a procura nessa fonte por meio da opção “busca avançada”. Inicialmente, digitamos os descritores nos respectivos espaços, sem aspas, e com uso do “booleano” AND, o que resultou em um número de achados muito grande. Em seguida, selecionamos a procura por todos os campos, que incluíam título, autor, assunto, resumo em português, resumo em inglês, editor e ano da defesa. Ou seja, a pesquisa iria buscar os descritores levando em conta todos esses aspectos. Nessas buscas finais, também usamos aspas, o “booleano” AND e o filtro de temporalidade de 2008 até 2020. No Quadro 1 indicamos os resultados da varredura feita após a leitura dos resumos.

Quadro 1.
Resultados dos descritores utilizados durante a varredura feita no repositório da BDTD
DESCRITORESRESULTADOS
“Violência de Gênero” e “Educação Profissional”0
“Violência” e “Educação Profissional”3
“Violência de Gênero” e “Educação”1
Fonte: Elaborado pelos autores

Com os descritores “Violência de Gênero” e “Educação Profissional” obtivemos o resultado de 48 materiais. Refinamos a procura filtrando por data e chegamos a 46 produções. Usamos, então, as aspas nos descritores e obtivemos 0 resultados.

Para os descritores “Violência” e “Educação Profissional”, seguimos os mesmos passos aplicados anteriormente. Na primeira procura não usamos aspas, nem filtro de tempo, o que resultou em 285 produções. Refinamos a busca com o emprego do filtro de tempo, sem aspas e com uso de AND, chegando a 269 achados. Por fim, usamos aspas e chegamos a 16 produções, sendo 13 dissertações e 3 teses. Para o presente trabalho, consideramos somente as teses, a fim de podermos realizar uma comparação viável com os achados nos repositórios franceses. Catalogamos esses achados em um quadro com título, tipo, autor, ano de publicação, área do programa de pós-graduação e lócus da pesquisa (Quadro 2).

Quadro 2.
Teses encontradas na BDTD/IBICT com os descritores "Violência” e "Educação Profissional"
TÍTULOTIPOAUTORÁREALÓCUS
Obstáculos materiais e simbólicos da desistência de estudantes do Proeja/IFRN: um estudo à luz da teoria das representações sociais e da Praxiologia de Pierre BourdieuTeseCARDOSO (2018)EducaçãoProeja/IFRN
Pesquisa-ação na gestão da educação e do processo de trabalho em saúde: uma ferramenta estratégica para acolhimento qualificado da violência entre parceiros íntimos na gravidezTeseBERGER (2010)SaúdeHospital Público no Rio de Janeiro
“Só vencem os fortes”: a barbárie do trote na Educação AgrícolaTeseSILVA (2016)EducaçãoColégio Agrícola de Uberlândia
Fonte: Elaborado pelos autores

Cardoso (2018) faz um estudo sobre os obstáculos materiais e simbólicos enfrentados por estudantes do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja), contribuindo para a evasão desses alunos. A palavra “Violência” aparece no resumo e nas palavras-chave, mas no sentido de “Violência simbólica”. No que diz respeito à “Educação Profissional”, embora a autora lide com esse lócus empírico, ela só menciona a expressão no resumo ao especificar o significado da sigla Proeja.

Berger (2010), por sua vez, menciona “Violência” no resumo e nas palavras-chave, mas somente nesse último campo emprega a expressão “Educação Profissional”. O objetivo da pesquisa é “analisar o fenômeno da violência doméstica na gravidez (VDG), com foco na violência entre parceiros íntimos (VPI) e o uso da pesquisa-ação como ferramenta estratégica na qualificação da atenção em saúde para acolhimento dos casos” (BERGER, 2010, p. 28). Por fim, Silva (2016) analisou os tradicionais trotes ocorridos no Colégio Agrícola de Uberlândia no período de 1969 a 1985. Alude-se à “Violência” e à “Educação Profissional” apenas no resumo.

Salientamos que em nenhum desses trabalhos o descritor “Educação Profissional” é empregado no título, ao passo que a palavra “Violência” figura somente no título da pesquisa de Berger (2010). Este último trabalho é o único que, de modo geral, se aproxima da nossa pesquisa, sendo os demais irrelevantes, pois não se conectam à violência tal como a concebemos.

Na primeira busca sem aspas com os descritores “violência de gênero” e “educação”, sem filtro de tempo, obtivemos 350 resultados. Com a inclusão do recorte temporal chegamos a 321 e com o uso das aspas obtivemos 45 produções, das quais apenas 9 são teses. Lemos os resumos e apenas 1 foi considerada, usando como critérios aqueles em que a temática da violência de gênero estivesse relacionada ao campo da Educação. Catalogamos suas informações no Quadro 3.

Quadro 3.
Tese encontrada na BDTD/IBICT com os descritores "Violência de gênero” e "Educação"
TÍTULOTIPOAUTORÁREALÓCUS
Mediações sobre gênero, sexualidade e violências: caminho metodológico para a elaboração de uma proposta de curso EaD no âmbito do Programa Saúde na Escola para o Plano Brasil sem MisériaTeseDANTAS (2018)Ciências Programa Saúde na Escola para o Plano Brasil sem Miséria desenvolvido pelo Governo Federal.
Fonte: Elaborado pelos autores

Dantas (2018) analisa os temas da violência de gênero e orientação sexual sob a mediação e representação cultural do campo da comunicação e saúde. A tese almeja descrever um caminho metodológico para elaborar uma proposta de curso na modalidade Educação a Distância (EaD) no Programa de Saúde na Escola. O descritor “Violência de gênero” é apresentado apenas no resumo, mas a autora coloca as expressões separadamente nas palavras-chave. “Educação” aparece no resumo e nas palavras-chave associada a “à distância”.

4.2 Busca no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES

O mecanismo de busca no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES é bastante diferente do da BDTD. No sítio da CAPES, empregamos o filtro de tempo até 2019, pois ainda não estava disponível o ano de 2020. Não havia uma aba para selecionar em qual campo seria realizada a pesquisa dos descritores, então supomos que na varredura o sistema procura em todos os campos. O resultado dos cruzamentos dos descritores está apresentado no Quadro 4.

Quadro 4.
Resultados dos descritores utilizados durante a varredura feita no Catálogo de Teses e Dissertações da Capes
DESCRITORESRESULTADOS
“Violência de Gênero” e “Educação Profissional”0
“Violência” e “Educação Profissional”1
“Violência de Gênero” e “Educação”2
Fonte: Elaborado pelos autores

Com os descritores “Violência de Gênero” e “Educação Profissional”, fizemos a primeira pesquisa sem aspas, sem filtro de tempo e sem uso de AND, obtendo 1211480 achados. Em seguida, usamos o “booleano” AND e reduzimos o total para 7716 produções. Resolvemos refinar por ano, clicando nos anos correspondentes a 2008 até 2019 e chegamos a 6049, cifra ainda bastante elevada. Quando procuramos com aspas, filtro de tempo e uso de AND chegamos ao surpreendente resultado de apenas quatro dissertações, sem nenhuma tese.

Seguimos o mesmo percurso de busca com os descritores “Violência” e “Educação Profissional”. Na primeira varredura obtivemos 1.207.544 produções, na segunda 3.355, na terceira 2.565 e na quarta 29, sendo 26 dissertações e 3 teses. Das 3 apenas 1 foi selecionada, cujos dados podem ser consultados no Quadro 5.

Quadro 5.
Teses encontradas no Catálogo de Teses e Dissertações da Capes com os descritores "Violência” e "Educação Profissional"
TÍTULOTIPOAUTORÁREALÓCUS
O internato no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia: pensionato ou educandário?TeseESPIT (2014)EducaçãoInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense (IFC) - Campus Concórdia
Fonte: Elaborado pelos autores

Espit (2014) não realiza um trabalho diretamente sobre violência. O tema aparece como uma consequência da organização, da estrutura, do funcionamento e das práticas pedagógicas do IFC, dimensões semelhantes aos adotados pelos patronatos agrícolas, segundo o autor. O objetivo da pesquisa foi identificar os processos formais e informais constitutivos da vida de alunos residentes no internato do IFC e a relação do cotidiano deles com o Projeto Político-Pedagógico institucional. O descritor “Violência” aparece uma vez no resumo, já “Educação Profissional” se mostra um termo importante por conta do lócus em que a pesquisa está sendo inserida e aparece no resumo e nas palavras-chave. Diante do observado, a temática da tese não demonstra ser de relevância para nossa pesquisa.

Nas buscas com os descritores “Violência de Gênero” e “Educação. tivemos uma quantidade maior de resultados do que nos anteriores. Na primeira varredura, foram 1.211.300 produções, na segunda, 8.237 produções, na terceira, 6.570 e na quarta, o número caiu para 66. Delas, 17 são teses. Por fim, consideramos apenas 2 teses, cujas informações estão no Quadro 6.

Quadro 6.
Teses encontradas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES com os descritores "Violência de Gênero” e "Educação"
TÍTULOTIPOAUTORÁREALÓCUS
A juridicização da vida frente à violência doméstica e familiar contra a mulher: um olhar educativo para as Políticas Públicas de prevenção e de erradicação da violência. TeseDIEHL (2016)Educação nas CiênciasCentro de Referência Regional de Atendimento à Mulher Dirce Grösz de Santa Rosa, RS – CRRM.
Violência de gênero no namoro entre adolescentes sob a ótica dos adolescentes, educadores e profissionais da saúdeTeseOLIVEIRA (2014)CiênciasEscolas públicas e particulares e profissionais de saúde das cidades Rio de Janeiro/RJ, Recife/PE, Cuiabá/MT, Porto Alegre/RS e Manaus/AM.
Fonte: Elaborado pelos autores

Diehl (2016) analisa a juridicização da vida de mulheres diante da intervenção do Estado, frente à violência doméstica e familiar, com foco nas práticas educativas que possibilitam a fuga das situações de violência implementadas pelo Centro de Referência Regional de Atendimento à Mulher Dirce Grösz. O descritor “Violência de gênero” só aparece no resumo, no entanto, a expressão “Violência Doméstica e Familiar” é utilizada no resumo e nas palavras-chave. “Educação” aparece em ambos.

Oliveira (2014) estuda a violência no contexto dos namoros entre adolescentes, perguntando-se quais seriam as possibilidades de enfrentamento desse problema sob o enfoque de gênero. O descritor “Violência de gênero” não figura no resumo, apesar de aparecer no título e nas palavras-chave. Contudo, a expressão “violência no namoro entre adolescentes” é utilizada no resumo e palavras-chave. “Educação” só aparece no resumo. A tese não é muito relevante para nossa pesquisa, pois o foco da discussão são os relacionamentos amorosos.

5 Busca nos repositórios franceses

Realizamos a pesquisa em dois repositórios franceses. O primeiro foi o HAL-SHS. Trata-se de um arquivo aberto cujo objetivo é divulgar investigações realizadas em instituições de ensino e pesquisa francesas ou estrangeiras, com foco nas Ciências Humanas e Sociais. O segundo repositório foi o Theses.fr, no qual se pode acessar gratuitamente a teses defendidas ou em preparação.

5.1 Busca no HAL-SHS

Para a varredura no HAL-SHS, clicamos em Rechercher, depois em Travaux universitaires e, por fim, em Thèse5. Realizamos o cruzamento dos seguintes descritores e obtivemos os resultados apontados no Quadro 7.

Quadro 7.
Resultados dos descritores utilizados durante a varredura feita no HAL
DESCRITORESRESULTADOS
Violences de genre ET Éducation professionnelle1
Violences de genre 25
"Violences" ET "genre" ET "lycée"0
Lycée professionnel ET violences sexistes0
Lycée ET violences de genre0
Violences genrées ET Lycée0
Violences ET baccalauréat professionnel ET genre0
Violences ET éducation professionnelle2
Fonte: Elaborado pelos autoresNota: Tradução dos descritores em Língua Portuguesa: Violências de gênero e Educação profissional; Violências de gênero; Violências e Gênero e Liceu; Liceu profissional e violências sexistas; Liceu e violências de gênero; Violências generificadas e Liceu; Violências e bacharelado profissional e gênero; violências e educação profissional.

Com os descritores Violences de genre ET Éducation professionnelle obtivemos 1 resultado, cujos dados podem ser analisados no Quadro 8.

Quadro 8.
Teses encontradas no HAL com os descritores Violences de genre ET Éducation professionnelle
TÍTULOAUTORÁREALÓCUS
Pratiques enseignantes et diversité sexuelle. Analyse des pratiques pédagogiques et d'intervention d'enseignants de l'école secondaire québécoisGabrielle Richard (2014)Ciências Humanas e Sociais; Estudos de Gênero; Educação; Sociologia.Escolas secundárias do Quebec
Fonte: Elaborado pelos autoresNota: Tradução do título: Práticas docentes e diversidade sexual. Análise das práticas pedagógicas e da intervenção de professores da escola secundária quebequense.

A pesquisa de Richard (2014) foi realizada em uma universidade francófona canadense. Seu lócus se situa nas escolas secundárias do Quebec, região francófona do Canadá. Seu objetivo foi compreender as práticas de ensino e de intervenção usadas por professores de todas as orientações sexuais do ensino médio do Quebec. A autora circunda seu debate em torno da diversidade sexual e da homofobia. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 22 professores do ensino secundário e questionário online com 243 professores. A pesquisa tem conexões com nosso campo temático, mas não se detém especificamente à EP e aborda muito pouco o ensino superior. Além disso, foi realizada no Quebec, e não na França.

No que diz respeito à busca com o descritor Violences de genre, o achado inicial contabilizou 25 teses (Quadro 9). Ao ler os resumos e ter contato com as pesquisas, identificamos que apenas 8 tinham relação com a temática da violência de gênero. Alguns trabalhos não possuíam conexão alguma com o tema – o que pode ser consequência do mecanismo de busca do sítio, pois ao realizar a varredura ele buscava os descritores em todos os campos, isto é, tanto no título e no resumo quanto no texto integral.

Quadro 9.
Teses encontradas no HAL com o descritor Violences de genre
TÍTULOAUTORÁREALÓCUS
Les violences de genre en contexte de migrations forcées : les réfugié·e·s rohingyas de Birmanie. Sociologie critique de l’aide humanitaire en Malaisie1 Elodie Voisin 2 (2018)Ciências Humanas e Sociais; Estudos de Gênero; Sociologia.Refugiados da Malásia, Rohingyas
Etude des profils des femmes victimes de violences, de leurs agresseurs et les caractéristiques de la violence subie3 Gethro Borgelyn 4 (2019)Ciências Humanas e Sociedade; Estudos de Gênero; Medicina. Departamento de medicina legal do Hospital Universitário Ibn Sina, em Rabat.
Les violences entre partenaires intimes : de l'indignation politique et morale aux pratiques routinières des institutions pénales : une comparaison entre la France et la Suède5 Delaunay Marine (2019)Ciências Humanas e Sociedade; Sociologia.Instituições penais
Féminisme, travail social et politique publique. Lutter contre les violences conjugales6 Elisa Herman (2012)Ciências Humanas e Sociais; SociologiaAssociações feministas de acolhimento de mulheres vítimas de violência doméstica; Instituições estaduais.
Le refus de la violence. Vies de femmes, entre l'Algérie et la France7 Clotilde Lebas (2013)Ciências Humanas e Sociais; Antropologia Social e Etnologia.Militantes feministas e mulheres refugiadas da Argélia
La dimension spatiale de la violence conjugale8 Evangelina San Martin (2019)Ciências Humanas e Sociais; Geografia.Associação especializada no acolhimento e apoio a mulheres vítimas de violência
Penser les lieux queers : entre domination, violence et bienveillance : Etude à la lumière des milieux parisiens et montréalais9 Cha Prieur (2015)Ciências Humanas e Sociais; Estudos de gênero; Geografia.Espaços queer
Les pratiques enseignantes en faveur de l'égalité des sexes et des sexualités a l'école primaire : vers un nouvel élément du curriculum10 Gaël Pasquier (2013)Ciências Humanas e Sociedade; Estudos de Gênero; Educação; Sociologia. Escolas primárias
Fonte: Elaborado pelos autoresNota: Tradução dos títulos: As violências de gênero em contexto de migrações forçadas: os(as) refugiados(as) rohingyas da Birmânia. Sociologia crítica da ajuda humanitária na Malásia; Estudo dos perfis de mulheres vítimas de violências, de seus agressores e as características das violências sofridas; As violências entre parceiros íntimos: da indignação política e moral às práticas rotineiras das instituições penais: uma comparação entre a França e a Suécia; Feminismo, trabalho social e política pública. Lutar contra as violências conjugais; A recusa da violência. A vida das mulheres, entre a Argélia e a França; A dimensão espacial da violência conjugal; Pensar os lugares queers: entre dominação, violência e benevolência: estudo à luz dos ambientes parisienses e montrealenses; As práticas docentes em favor da igualdade dos sexos e das sexualidades na escola primária: em direção a um novo elemento do currículo.

A tese de Voisin (2018) busca examinar as masculinidades e feminilidades de refugiados da Malásia, os chamados Rohingyas. Mostra um modelo hegemônico baseado em um masculino protetor e feminino vulnerável, uma forma de relações de gênero que termina por ser reapropriada e distanciada pelos refugiados. A migração tem papel fundamental no estudo e nas relações entre os sexos, tendo em vista que a discriminação racial e as desigualdades econômicas vão aumentar mais ainda as tensões de gênero. Isso intensifica a violência doméstica e sexual, o surgimento de outros tipos de violência e a supremacia masculina.

A tese de Borgelyn (2019) foi desenvolvida em uma universidade situada no Marrocos e tem por objetivo fornecer um conjunto de indicadores estatísticos sobre a violência contra a mulher nesse país, além de apresentar dados acerca do ambiente socioeconômico e das características da população-alvo do estudo. O autor faz um estudo transversal para definir o perfil das mulheres vítimas de violência, assim como de seus agressores e das características da violência vivida. Constata-se que 80,4% das mulheres vítimas de violência são casadas, sendo a maioria jovem, instruída e ocupantes de postos de trabalho.

Delaunay (2019) busca compreender as origens do distanciamento entre a indignação política e moral provocada pela violência entre parceiros íntimos na França e na Suécia e as práticas de seu encaminhamento para a instituição penal. Já a pesquisa de Herman (2012) almeja estudar os fundamentos da ação do combate público à violência doméstica, bem como tornar visível as práticas profissionais feministas. A autora realiza uma etnografia em associações feministas de acolhimento a mulheres vítimas de violência e a seus filhos, além de aplicar entrevistas com profissionais de instituições estaduais.

Lebas (2013) também lança mão de uma etnografia junto a militantes feministas e mulheres que fugiram de seu lar por conta da violência na França e na Argélia. A pesquisa traz à tona a reconfiguração de vidas que foram transformadas por conta da recusa da violência e da migração. Por sua vez, San Martin (2019) tem como interesse os efeitos do poder provocado pela violência conjugal e nas formas em que as parceiras habitam os espaços. A autora se apoia em uma abordagem etnográfica e constrói seus dados a partir de grupos focais, oficinas e entrevistas. Ela conclui que a violência se inscreve em todos os espaços da domesticidade, além de reduzir os locais que mulheres devem frequentar, ocorrendo uma privação espacial.

Cha Prieur (2015) estuda a forma como os lugares queer são pensados, realizando uma arqueologia desses espaços e um estudo sobre a violência experimentada por essas pessoas tanto em ambientes públicos quanto em privados. O autor também propõe uma crítica aos lugares queer seguros para que haja uma construção de espaços benevolentes. Pasquier (2013) problematiza as questões envolvendo as escolas mistas e as relações de gênero, assim como a igualdade do tratamento de crianças e adolescentes baseados no gênero e a implementação de uma pedagogia antissexista. A pesquisa concentra-se em professores que abordam tais questões no contexto das escolas primárias. Foram realizadas vinte entrevistas abertas com a tentativa de identificar a natureza específica do trabalho do professor, assim como as possibilidades e as características da educação de gênero e sexualidade na escola primária.

Por fim, salientamos que encontramos duas teses ao empregar os descritores Violences ET Education Professionnelle. Ao consultá-las, identificamos que uma não se relacionava com a nossa temática e a outra era a pesquisa de Gabrielle Richard (2014) já citada anteriormente.

5.2 Busca no Theses.fr

Para a varredura pelo repositório Theses, procedemos da seguinte forma: clicamos na aba “Toutes les thèses6, depois digitamos o descritor e clicamos em “Rechercher7. Realizamos o cruzamento dos seguintes descritores e obtivemos os resultados que podem ser vistos no Quadro 10.

Quadro 10.
Resultados dos descritores utilizados durante a varredura feita no Theses.fr
DESCRITORESRESULTADOS
Violences + genre + lycée0
Violences + lycée0
Violences + enseignement professionnel0
Violences + enseignement technologique0
Violences + enseignement1
Violences + genre + éducation3
Violences + école après 20081
Violences de genre, à partir de 200834
Genre + lycée (Todos os campos)21
Genre + lycée (Título)3
Fonte: Elaborado pelos autoresNota: Tradução dos descritores: Violências + gênero + liceus; violências + liceu; violências + ensino profissional; violências + ensino tecnológico; violências + ensino; violências + gênero + educação; violências + escola depois 2008; violências de gênero, a partir de 2008; gênero + liceu.

A tese encontrada com os descritores Violences+ enseignement não se enquadra dentro de nosso campo de pesquisa, pois busca historicizar a emergência paradoxal de subúrbios negros que são governados por uma minoria branca.

Realizamos a varredura com os descritores Violences+ genre + éducation selecionando os resumos na aba de “Rechercheavancée8 como alvo da busca. Encontramos 3 teses; identificamos que 2 estavam fora do nosso campo de estudo e uma se relacionava aos espaços das escolas, ainda assim distanciando-se de nossa temática. No Quadro 11, podemos consultar as informações sobre tal achado.

Quadro 11.
Tese encontrada no Theses.fr com os descritores Violences + genre + éducation
TÍTULOAUTORÁREALÓCUS
« Avoir une réputation » : étude du (cyber)harcèlement scolaire comme risque réputationnel genréMargot Déage (2020)Educação; Violência nas escolas; Estudos de gênero; Redes sociais digitais; Assédio na Internet.Colégios parisienses; Redes sociais: Snapchat e Instagram.
Fonte: Elaborado pelos autoresNota: Tradução do título: “Ter uma reputação”: estudo do (ciber)assédio escolar como risco generificado da reputação

A tese de Margot Déage (2020) tem como objetivo estudar a construção da reputação dos estudantes vulneráveis ao assédio. Ela empreende uma etnografia em quatro colégios parisienses. Também faz uma netnografia no Snapchat e Instagram, aplica um questionário online com os alunos e traça um exame das pesquisas francesas sobre violência escolar. A autora analisa como os alunos do ensino médio fabricam a reputação dentro da escola e no âmbito da internet, espaço considerado favorável ao assédio. Déage (2020) constata que o sexo e a idade influenciam de modo particular na imagem devolvida aos outros, podendo despertar zombarias e outros tipos de violência. Também percebe que alguns estudantes tentam construir uma reputação de vingança ou obter privilégios de relacionamento. Além disso, Déage (2020) afirma que as redes sociais estimulam tais iniciativas.

Com os descritores Violences + école après 2008, encontramos apenas uma tese concernente ao âmbito escolar. No Quadro 12 podemos analisar os seus dados.

Quadro 12.
Tese encontrada no Theses.fr com os descritores Violences + école après 2008
TÍTULOAUTORÁREALÓCUS
Harcèlement scolaire et cyber-harcèlement : étude des violences scolaires chez les élèves françaisNatacha Hoareau (2018)Assédio escolar; Assédio cibernético; EducaçãoEscolas francesas
Fonte: Elaborado pelos autoresNota: Tradução do título: Assédio escolar e ciberassédio: estudo das violências escolares entre alunos franceses

A tese de Natacha Hoareau (2018) teve como objetivo principal identificar os fatores que levam os alunos a adotarem comportamentos de bullying dentro e fora da escola. A pesquisa foi feita a partir de estudos exploratórios e experimentais. A autora também buscar propor e avaliar uma ação psicoeducativa que reduza o comportamento agressivo de alunos do ensino secundário.

Por meio da busca com os descritores Violencesde genre, à partir de 2008 encontramos 34 teses. Com análise preliminar dos títulos e resumos identificamos que 2 já haviam sido identificadas anteriormente. Somente 1 era de nosso interesse, e embora se aproxime de nossa temática, ainda permanece fora do campo da educação profissional. No Quadro 13 sintetizamos os seus dados principais.

Quadro 13.
Tese encontrada no Theses.fr com os descritores Violences de genre, à partir de 2008
TÍTULOAUTORÁREALÓCUS
Enquête sur la microphysique du pouvoir à l'école : actualisation, imbrication des rapports de domination et modalités d’une pédagogie émancipatriceJoelle Magar-Braeuner (2017)Estudos de gênero; Pedagogia. Escolas da França e Quebec.
Fonte: Elaborado pelos autoresNota: Tradução do título: Pesquisa sobre a microfísica do poder na escola: atualização, imbricação das relações de dominação e modalidades de uma pedagogia emancipatória.

Joelle Magar-Braeuner (2017) evoca a tradicional compreensão foucaultiana acerca da microfísica do poder para investigar o campo escolar e detectar os mecanismos de dominação nele postos em marcha. Ela realizou uma investigação etnográfica em 4 escolas na França e no Quebec, com vistas a identificar os modus operandi nos quais as relações de sexo, raça e classe são construídas de modo entrelaçado.

Com os descritores genre + lycée identificamos 21 teses, mas somente 4 se encaixam em nosso campo de pesquisa (Quadro 14).

Quadro 14.
Teses encontradas no Theses.fr com os descritores genre + lycée
TÍTULOAUTORÁREALÓCUS
L'interaction dans les espaces communs au lycée : étude des modalités de réévaluation de l'ordre sexuéFrédérique Cool (2012)Educação; Estudos de Gênero.Escolas secundárias gerais e tecnológicas
Le mécanisme de la transgression genrée dans un réseau d'éducation à Montpellier : la formation de deux univers scolairesSophie Duteil Deyries (2018)Ciências Humanas e Sociais; Educação.Um liceu, um colégio, uma escola primária e dois colégios suplementares.
L'enseignement professionnel dans l'École massifiée : fonctions, structure et usages d'un ordre d'enseignement dominéUgo Palheta (2010)Educação profissional; Sociologia da educação.Escolas de Educação Profissional
Être une fille et s'engager dans une filière scolaire de garçons : la place des activités physiques et sportives dans la construction de l'atypicité scolaireJulie Thomas (2010)Esporte; Estudos de GêneroCursos profissionalizantes, tecnológicos ou de educação geral
Fonte: Elaborado pelos autoresNota: Tradução dos títulos: A interação nos espaços comuns do liceu: estudo das modalidades de reavaliação da ordem sexuada; O mecanismo da transgressão generificada em uma rede de educação em Montpellier: a formação de dois universos escolares; O ensino profissional na Escola massificada: funções, estrutura e usos de uma ordem dominada de ensino; Ser uma menina e se inserir num curso de meninos: o lugar das atividades físicas e esportivas na construção da atipicidade escolar.

A tese de Frédérique Cool (2012) busca examinar as interações e experiências cotidianas em espaços comuns nas escolas secundárias gerais e tecnológicas. Busca apreender, em uma perspectiva goffmaniana, como as relações de gênero são expressas através de uma observação das encenações e práticas cotidianas.

Sophie Duteil Deyries (2018) desenvolve uma tese com uma abordagem quanti-qualitativa em um lycée9, um collège, uma écoleprimaire e dois outros collèges, com o objetivo de investigar as transgressões escolares a partir do filtro de gênero de alunos e funcionários educacionais. A autora também busca destacar os diferentes fatores que participam do mecanismo de transgressão de gênero na escola. Constata que os meninos são vistos como indivíduos naturalmente transgressores, ao passo que as meninas são identificadas como alunas-modelo capazes de se adaptar às normas educativas. Para Deyries (2018), essa ambiência alimenta ainda mais a discriminação de gênero.

Ugo Palheta (2010), ao tomar como lócus a Educação Profissional em escolas massificadas, questiona as funções, estruturas e usos de uma ordem dominada de ensino. Ele pontua que a Educação Profissional, anteriormente rejeitada por ser uma espécie de parente pobre da história e da sociologia da educação, tem hoje se inserido em grandes debates. Segundo o autor, muitas perguntas sobre esse campo foram esquecidas e negligenciadas, sobretudo aquelas ligadas ao gênero.

Julie Thomas (2010) realiza uma análise da construção do gênero e das socializações que contribuem para reproduzir as relações sociais do sexo conectadas às relações de classe. A autora realiza um estudo de caso com meninas matriculadas em instituições predominantemente masculinas, visando entender as relações entre as escolhas educacionais dos entrevistados e suas relações corporais e com as atividades físicas. A pesquisa teve como técnica de construção de dados a aplicação de questionários com alunas atípicas e típicas, seguidos de entrevistas com meninas atípicas que estavam matriculadas em cursos profissionalizantes, tecnológicos ou de educação geral, além da utilização da observação em escolas secundárias.

A busca com os descritores Genre + lycée a partir do filtro “Título” gerou um resultado de 3 produções, das quais 2 se situam fora de nosso debate de interesse e 1 dentro do escopo. No Quadro 15, apresentamos as informações sobre o achado.

Quadro 15.
Tese encontrada no Theses.fr com os descritores Genre + lycée a partir do filtro título
TÍTULOAUTORÁREALÓCUS
Rapport à l’école et rapport de genre chez les élèves de lycée professionnel : Pour une pensée relationnelle de l’expérience scolaire des filles et des garçons de milieux populairesSéverine Depoilly (2011)Educação profissional; Estudos de Gênero. Escolas de Educação Profissional.
Fonte: Elaborado pelos autoresNota: Tradução do título: Relação com a escola e relação de gênero entre alunos de liceu profissional: por um pensamento relacional da experiência de meninas e de meninos de meios populares.

Séverine Depoilly (2011) questiona o senso comum e os debates da mídia acerca do alto nível de fracasso escolar entre meninos da classe trabalhadora. Para tanto, a autora realizou um estudo etnográfico em uma escola de educação profissional visando apreender os modos diferenciados de ser e de fazer-se menina e menino entre alunos provenientes da classe trabalhadora. A partir de suas análises, Depoilly constatou que as meninas conseguem lidar com as injunções escolares e de gênero, ao passo que os meninos correm o risco de romper com a escola.

6 Considerações finais

No prefácio da coletânea Sexo, sexualidade e gênero na Educação Profissional no Brasil e na França: estudos exploratórios, afirmou Marise Ramos (2021, p. 16) acerca das investigações em torno do gênero e da sexualidade na EP:

Na Educação Profissional e Tecnológica, não se tem uma tradição consolidada de estudos dessa ordem, ainda que estejam crescendo, ao passo que tais questões são concretas e incidem não somente na escola, mas também sobre a dinâmica produtiva e de desenvolvimento científico-tecnológico, associada à divisão sexual do trabalho. Desvelá-las, debatê-las e enfrentá-las é urgente.

Os dados apresentados nas seções precedentes deste artigo indicam a existência de apenas 1 tese, no Brasil, que dialoga com a violência de gênero na EP. Na França, o número aumenta para 4. Essas informações confirmam a continuidade da escassez das pesquisas sobre gênero na Educação Profissional brasileira, como já sinalizaram estados do conhecimento realizados recentemente (LIMA NETO; CAVALCANTI; GLEYSE, 2018; SOUZA; LIMA NETO, 2019; SAMPAIO; LIMA NETO, 2019; SANTOS JUNIOR; CAVALCANTE, 2021; COSTA; LIMA NETO, 2020; COSTA; MAIA; LIMA NETO, 2021). A necessidade de trazê-las à ordem do dia é urgente, conforme menciona Ramos (2021) na citação acima ao diagnosticar a lacuna no interior do campo epistêmico da EP, mas também ao sinalizar para as implicações dessa lacuna na materialidade da vida dos cidadãos, especialmente para os oriundos das classes populares no cenário sociopolítico hodierno.

Por muito tempo, no Brasil, o gênero foi desprezado enquanto categoria estruturante das relações sociais. Esquecia-se de que “o sistema de gênero não é mero ‘apêndice residual’ do modo de produção capitalista, mas participa de sua gênese – e dizê-lo não implica negar a determinação da classe e das relações de trabalho, mas avançar na compreensão de seu conteúdo, suas expressões e decorrências” (PALHA, 2019, p. 42). Gênero – mas também sexualidade e raça – seria uma “dimensão menor da vida social” ou uma “agenda secundária” (QUINALHA, 2019, p. 25) diante do modelo ortodoxo da luta de classes.

Os resultados obtidos nos repositórios franceses também são bastante insignificantes do ponto de vista numérico. Na França, o marxismo se articula ao feminismo materialista desde meados dos anos 1960, nomeadamente a partir dos movimentos de Maio de 1968 (DELPHY, 2005). Trabalhos recentes, como os de Thomas (2018) e Depoilly (2021), nos mostram como a categoria de gênero se associa às de classe e de raça para estudar as relações estabelecidas no interior dos liceus profissionais franceses, não raro eivadas por contextos violentos dentro e fora da instituição.

É bem verdade que os objetos de pesquisa são fabricados (CANGUILHEM, 2012), e que o gênero, especialmente, é um objeto epistêmico em construção desde fins do século XIX e início do século XX (DELPHY, 2005; FEDERICI, 2019; HARAWAY, 2004). Além disso, desde o seu nascimento epistemológico, a categoria “gênero” se associa, de algum modo, à de “violência”, pois a divisão sexual do trabalho baseia-se sobre a exploração do corpo das mulheres, fenômeno intrinsecamente violento. O corpo enquanto lugar de controle da sexualidade, da maternidade e da sexualidade a serviço da manutenção da ordem patriarcal capitalista ocupou desde os anos 1970 as teóricas feministas (FEDERICI, 2017). A violência contra a mulher tanto é resultante do patriarcado quanto, dialeticamente, da estrutura, estendendo-se para as diversas dimensões da vida social, para além da esfera privada (CISNE; SANTOS, 2018).

No interior das investigações sobre gênero na EP, caberia agora iniciar um trabalho paralelo, em duas frentes. Primeiramente, faz-se necessário circunscrever um objeto secundário – não em importância, mas no sentido de estar inserido no campo mais amplo delimitado pela categoria “gênero” – em torno da violência. Sendo a violência de gênero ela mesma ampla, será preciso definir suas peculiaridades no contexto epistêmico da EP e nas manifestações institucionais da EPT. Em segundo lugar, a perspectiva de estudos comparativos em Educação entre o Brasil e a França se faz viável, uma vez que a EP nesses países apresenta similitudes na legislação educacional e nas disputas entre os grupos socioeconômicos ao longo da história (THOMAS; MEDEIROS NETA; LIMA NETO, 2020).

Continuar a investir em estudos comparados como uma estratégia teórico-metodológica em investigações futuras sobre a violência de gênero se constitui numa possibilidade de construção desse objeto de pesquisa. Recorrer à pluralidade dos sentidos, em contextos diversos, e às soluções encontradas para problemas comuns, passa pela dialética conciliativa entre o particular e o universal, o local e o global, o conhecido e o estrangeiro, em um esforço muito mais de compreensão das diferenças que do mapeamento delas (DEVECHI; TAUCHEN; TREVISAN, 2018). Tal empreitada já está consolidada em parcerias franco-brasileiras, como o comprova a coletânea supracitada, prefaciada por Ramos (2021), mas também a coletânea Gênero e trabalho no Brasil e na França: perspectivas interseccionais (ABREU; HIRATA; LOMBARDI, 2016).

Essa ótica coaduna-se com esforços empreendidos pela RFEPCT nos últimos anos na direção de criar outras táticas para suprir uma das lacunas, a saber, a internacionalização (COELHO, 2018). As parcerias franco-brasileiras estabelecidas no grupo de pesquisa Observatório da Diversidade (IFRN/CNPq) mostram-se terreno profícuo para o desenvolvimento de estudos comparativos, ao mesmo tempo em que materializam ações já vislumbradas na análise de Lima (2018) como necessárias para o fortalecimento da internacionalização na instituição, superando uma perspectiva excessivamente centrada na mobilidade (LIMA, 2021) – sem desprezá-la, evidentemente.

À guisa de conclusão, faz-se mister salientar que a EP é um campo recente de pesquisa no Brasil (MEDEIROS NETA, 2016), estando ainda, portanto, em formação. A RFEPCT é criada em 2008, e os programas de pós-graduação stricto sensu – espaços privilegiados, no cenário brasileiro, da pesquisa científica – são posteriores a 201310. Os pesquisadores da EP se encontram justamente no momento de fissurar esse campo com as temáticas e as estratégias – como as anunciadas anteriormente – que o compromisso ético-político da produção do conhecimento científico nas Ciências da Educação exige: pesquisa em rede internacional e coragem de enfrentar tensões de correntes teóricas distintas, com vistas a fazer emergir nessa episteme em que estamos imersos outras condições de possibilidade do conhecimento.

Referências

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Notas

1 Essas produções se originam das pesquisas de mestrado de Shirlene Coelho e Robelânia Gemaque, egressas do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) – Polo IFPA, sob a orientação da Profa. Dra. Natália Cavalcanti. O documentário está disponível no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=C43b5NOa_oY . A revista está disponível no Portal EduCAPES: https://educapes.capes.gov.br/handle/capes/586370 .
2 Consideramos esse recorte em virtude de, em 2008, pela Lei n. 11.892, ter sido instituída a RFEPCT.
3 Registramos nossos agradecimentos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa da qual usufrui a mestranda. Agradecemos, igualmente, à professora Lenina Lopes pela leitura crítica deste texto.
4 Tradução: Ciências do Homem e da Sociedade.
5 Traduções: Buscar (Rechercher), Trabalhos universitários (Travaux universitaires) e Tese (Thèse).
6 Tradução: Todas as teses.
7 Tradução: Buscar.
8 Tradução: Busca avançada.
9 Tradução: o lycée corresponde ao Ensino Médio no Brasil; já o collège equivale ao Ensino Fundamental II, ao passo que a école primaire seria correspondente ao nosso Ensino Fundamental I.
10 Referimo-nos ao Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional (PPGEP) do IFRN, cuja primeira turma de mestrado se inicia em 2013, e ao Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT/RFEPCT), que iniciou suas atividades em 2017.

Notas de autor

1 Mestranda em Educação Profissional do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) Campus Central – Natal/RN – Brasil. E-mail: caroliinaxaviier1@gmail.com.
2 Doutor em Ciências da Educação pela Université Paul Valéry e pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) – Natal/RN – Brasil. E-mail: ave.neto@hotmail.com.
3 Pós-doutora em science education/curriculum & instruction pela University of Nebraska (EUA). Pesquisadora e Professora no Centre Max Weber da Universidade Jean Monnet - Saint Étienne - França. E-mail: julie.thomas@univ-st-etienne.fr.

Información adicional

COMO CITAR (ABNT): COSTA, M. C. X.; LIMA NETO, A. A.; THOMAS, J. Pesquisas sobre violência de gênero na educação profissional brasileira e francesa: um estado do conhecimento. Vértices (Campos dos Goitacazes), v. 24, n. 2, p. 634-658, 2022. DOI: https://doi.org/10.19180/1809-2667.v24n22022p634-658. Disponível em: https://www.essentiaeditora.iff.edu.br/index.php/vertices/article/view/16971.

COMO CITAR (APA): Costa, M. C. X., Lima Neto, A. A., & Thomas J. (2022). Pesquisas sobre violência de gênero na educação profissional brasileira e francesa: um estado do conhecimento. Vértices (Campos dos Goitacazes), 24(2), 634-658. https://doi.org/10.19180/1809-2667.v24n22022p634-658.

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