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Amelia Gomes de Azevedo: uma mulher de letras na Província do Rio de Janeiro em fins do século XIX

Amelia Gomes de Azevedo: a woman of letters in the Province of Rio de Janeiro at the end of the 19th century

Amelia Gomes de Azevedo: una mujer de letras en la Provincia de Rio de Janeiro a fines del siglo XIX

Paula Aparecida Martins Borges Bastos 1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, Brasil

Amelia Gomes de Azevedo: uma mulher de letras na Província do Rio de Janeiro em fins do século XIX

Vértices (Campos dos Goitacazes), vol. 24, núm. 3, 2022

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

Este documento é protegido por Copyright © 2022 pelos autores.

Recepción: 14 Enero 2022

Aprobación: 11 Julio 2022

Resumo: O presente trabalho pretende resgatar o nome de Amelia Gomes de Azevedo, uma mulher de letras do norte da Província do Rio de Janeiro. Publicou em jornais de sua região e da capital, tendo sua fama de escritora e literata se consolidado ao receber prêmios em concursos literários na Europa, com textos escritos em francês. Publicou dois livros: Rumorejos do Monte Himalaya e Mercedes, este último lançado inicialmente como folhetim. Sua atuação literária ocorreu principalmente na década de 1890, período de intensas transformações sociais no país, o que se reflete principalmente na obra Mercedes, atualmente um livro raro.

Palavras-chave: Escritora Fluminense, Século XIX, Literatura feminina, Escritora brasileira.

Abstract: This study intends to rescue the name of Amelia Gomes de Azevedo, a woman of letters from the north of the Province of Rio de Janeiro. She published in newspapers in her region and in the capital. Her reputation as a writer and literate was consolidated when she received prizes in literary contests in Europe, with texts written in French. She published two books: Rumorejos do Monte Himalaya and Mercedes, the latest launched initially as a serial. Her literary performance took place mainly in the 1890s, a period of intense social changes in the country, which is reflected mainly in the work Mercedes, currently a rare book.

Keywords: State of Rio de Janeiro’s female writer, 19th Century, Women’s Literature, Brazilian female writer.

Resumen: El presente trabajo pretende rescatar el nombre de Amelia Gomes de Azevedo, mujer de letras del norte de la Provincia de Rio de Janeiro. Publicó en periódicos de su región y de la capital, y su reputación como escritora y literata se consolidó al recibir premios en certámenes literarios en Europa con textos escritos en francés. Publicó dos libros: Rumorejos do Monte Himalaya y Mercedes, este último publicado inicialmente como folletín. Su desempeño literario se dio principalmente en la década de 1890, período de intensas transformaciones sociales en el país, que se refleja principalmente en la obra Mercedes, actualmente un libro raro.

Palabras clave: Escritora Fluminense, Siglo XIX, Literatura Femenina, Escritora brasileña.

1 Mulheres de letras oitocentistas

A partir das últimas décadas do século XX, deu-se um processo de fortalecimento em pesquisas na área literária com o intuito de retirar da invisibilidade obras de autoria feminina que foram, historicamente, excluídas e marginalizadas em diversos países (EDFELDT, 2006). Esse movimento ocorreu também no Brasil, resultando em um crescente número de estudos que resgatam, com base em consultas a arquivos e acervos, nomes femininos na escrita brasileira do século XIX. Essa busca por vozes silenciadas tem resultado em um enriquecimento da história cultural brasileira, com a produção crescente de antologias e ensaios críticos que possibilitam a divulgação de obras até então desconhecidas (BEZERRA, 2001; PEREIRA, 2015).

Dentro desse amplo trabalho de resgate destacam-se algumas obras referenciais, como as de Maria Thereza Caiuby Crescenti Bernardes, Mulheres de Ontem? Rio de Janeiro – século XIX (1988), e de Constância Lima Duarte, Imprensa feminina e feminista no Brasil: século XIX: dicionário ilustrado (2017). Enquanto a primeira apresenta noventa e nove escritoras e tradutoras que publicaram em jornais no Rio de Janeiro entre 1840-1890, a segunda elenca 143 títulos de revistas e jornais editados por ou para mulheres em todo o país durante o século XIX, contendo ainda breve nota sobre a biografia das mulheres editoras detectadas na pesquisa. Esses estudos e resgates têm aberto caminho para novas reflexões e perspectivas que tendem a apontar para o rompimento de uma concepção amplamente disseminada de que as mulheres daquele século eram, com raras exceções, incultas e passivas em sua inserção social.

O presente trabalho busca contribuir nesse resgate, inserindo, no rol das “mulheres de letras” do Oitocentos, o nome de Amelia Gomes de Azevedo, que publicou em diversos periódicos da Província do Rio de Janeiro e também na capital do país, em fins do século XIX. O termo “mulheres de letras” é utilizado aqui conforme conceituação de Bernardes (1988, p. 10), entendido como mulheres “que escreveram e publicaram obras nos mais diversos gêneros literários ou as deixaram inéditas”.

2 Amelia Gomes de Azevedo

Amelia Gomes de Azevedo nasceu em 1866, na fazenda Monte Himalaia, região norte da Província do Rio de Janeiro, próxima à divisa com o Espírito Santo. Constituída como uma das mais distantes freguesias das amplas terras de Campos, essas terras encontravam-se em franco processo de ocupação das florestas para implantação de uma florescente cultura cafeeira. A fazenda da família de Amelia é um exemplo dessa ocupação, resultante da ação do pai, Jacintho de Azevedo Mattos, imigrante açoriano, casado com Jesuína Gomes de Souza, de família já estabelecida naquele território (BASTOS; CATHARINA, 2019; SOUSA, 2014).

As dificuldades de acesso aos estudos na região eram consideráveis e não era comum o envio de meninas a distantes colégios internos para estudarem. O francês Brèthel (MASSA, 2016), radicado como fazendeiro no vale do Carangola (hoje município de Natividade), conta em carta a parentes na França que suas duas filhas (uma delas nascida no mesmo ano que Amelia) não frequentavam escola porque só havia pensionatos na Corte e nos centros importantes das províncias, a preços consideráveis. Além disso, acrescenta, a mãe se recusava a se afastar das filhas, não aceitando seu envio a internatos em outras localidades. Essa realidade não era exclusiva para mulheres: Caspary (1962) narra, em suas memórias, que frequentou uma escola particular mista recém-criada em Lage do Muriaé, na década de 1880, porque os pais, abastados, não queriam se separar do filho único.

Os exemplos citados ajudam a destacar a importância familiar no apoio recebido por Amelia em sua educação, uma vez que foi enviada pelos pais, junto com a irmã, para estudar em um internato no Rio de Janeiro, quando tinha nove anos de idade, em 1875. O educandário escolhido foi o Colégio Brasileiro, existente desde 1871 e composto por professoras europeias de diversas nacionalidades. Esse é o mesmo educandário por que passou Maria Augusta Generosa Estrella, primeira médica brasileira. Em conto escrito por Amelia, inspirado em seu tempo de estudante nesse colégio, algumas matérias são mencionadas, tais como história, geografia, gramática, aritmética, astronomia, geometria e francês, permitindo uma ideia da dimensão do aprendizado ofertado ali (AZEVEDO, 2019; BASTOS; CATHARINA, 2019; BERNARDES, 1988; SOUSA, 2014).

O fato de Amelia ser proveniente de uma família com posses que permitiu e incentivou sua educação valorizando seus escritos foi motivo de estímulo e condições materiais para sua participação no mundo literário de seu tempo. A jovem fazia parte de um limitado grupo de letrados na sociedade local da época, o que viria a conferir a ela e sua irmã um espaço natural na incipiente imprensa do interior, pois, segundo Costa (2015), em toda a cidade de Campos, em 1890, apenas 20% dos homens eram alfabetizados, caindo o percentual para 13% no caso das mulheres. É de se supor que esse percentual fosse ainda mais reduzido no ambiente cultural do entorno da escritora, conformado no pós-república no novo município de Itaperuna.

2.1 Primeiras publicações

Em 1890, Amelia ganha o primeiro prêmio em um concurso literário em Paris, promovido pela Revista Les Causeries Familières, com o título Impressions d’une jeune Brésilienne à l’époque de ses examens, em que narra seu tempo de estudante no Colégio Brasileiro. A indicação do prêmio a uma estrangeira é explicada por Louise D’Arc, diretora da Revista Ilustrada:

Eis a Senhorita Amelia Gomes de Azevedo, do Rio de Janeiro, que nos envia sua história. Observem que a publicamos tal e qual, e que, não diria, por se tratar de uma estrangeira, mesmo se fosse uma francesa, a senhorita Amélia escreve em francês o que dizemos em inglês fluently; não é preciso pedir nenhuma indulgência para ela. Nossas jovens concorrentes francesas farão de bom grado o favor de conceder o lugar à estrangeira (AZEVEDO, 2019, p. 171).

Em uma época em que no Brasil o francês era a língua da moda e a França a atração eurocêntrica da elite cultural brasileira, o prêmio de Amelia lhe rendeu mais admiração e respeito como mulher de letras. A apreciação do jornalista Stockler de Lima, no jornal Itaperunense, em 1891, bem ilustra essa relação:

Extrait des « Causeries Familières »

Este o título de um interessante folheto (em francês correto) escrito por D. Amelia Gomes de Azevedo, conhecida no mundo das letras por seus apreciados trabalhos e estilo ameno.

Não venho fazer uma critica literária, quero apenas manifestar em linguagem simples as impressões de minha leitura e dirigir à ilustra autora, a quem não tenho a honra de conhecer, as minhas sinceras saudações e os aplausos ao seu talento.

[…]

E por que somente a Gazeta merece seus belos escritos e de sua digna irmã?

O Itaperunense também vive, abre suas colunas às boas inspirações e quer também obsequiar aos leitores com belos escritos.

Oxalá, estas linhas cheguem a quem pode enviar à redação um mimoso escrito, uma faceira poesia ou um espirituoso conto.

Não indago se um motim sai tão caro como uma batalha; o que sei é que os literatos devem emendar a mão, dizendo da graciosa escritora o que não sei dizer em meu estilo, além de tudo nas lutas da vida em que… os amenos rosais são queimados pelo tufão.

(AZEVEDO, 2019, p. 81-85).

Pelo texto de Stocker é possível perceber que Amelia e sua irmã já publicavam em outro periódico local, Gazeta de Itaperuna, antes de outubro de 1891, data da assinatura de seu artigo no Itaperunense. Infelizmente os dois periódicos são hoje documentos raros, tendo sido localizado apenas um exemplar de cada título na Biblioteca Nacional, sem conter, porém, escritos da autora.

Dois dos textos publicados originalmente na Gazeta de Itaperuna, “Voluntários” e “Marujo”, foram incluídos no primeiro livro lançado por Amélia, em 1894, intitulado Rumorejos do Monte Himalaya. Através dessa obra, também é possível conhecer algumas de suas publicações em outro periódico, o Monitor Campista: “Naufrágio”, “Cristóvão Colombo” e “Os dois peregrinos”. Com exceção de “Cristóvão Colombo”, publicado em 1892, nas comemorações dos trezentos anos da chegada do navegante às Américas, não há indicação das datas em que o texto original foi publicado nos periódicos mencionados.

Além das publicações em língua portuguesa, Rumorejos do Monte Himalaya incluiu os textos em francês com que Amelia recebeu prêmios e menção honrosa em concursos literários de países europeus de língua francesa entre os anos de 1890 e 1893. Além do já comentado “Impressions d’une jeune Brésilienne à l’époque de ses examens”, a obra contém “Une page au Brésil”, “Trois jours au Monte Himalaya”, “Christophe Colomb”, “D. Pedro de Alcantara” e “Le Solitaire”.

Sobre o texto “Une page au Brésil”, mais uma vez Louise D’Alc faz seus elogios à escrita estrangeira:

Entre as estrangeiras que concorreram, devemos assinalar duas irmãs brasileiras, as senhoritas Amelia e Altina Gomes de Azevedo que nos enviam seus manuscritos do Monte Himalaia!

Não é curioso receber de um país tão longínquo estas páginas escritas em um francês muito correto e muito cuidadosamente transcritas por duas jovens com uma escrita clara e franca? Seu trabalho cuidadoso é bem elaborado. Nossas leitoras poderão julgá-lo em breve.

[…]

As senhoritas Amelia e Altina souberam, no entanto, encaixar em suas narrativas episódios dos costumes brasileiros muito curiosos; a história da senhorita Amelia, UMA PÁGINA NO BRASIL, nos inicia a certos costumes do selvagem. (AZEVEDO, 2019, p. 191-192).

Amélia em seus escritos em francês buscava sempre incluir aspectos que pudessem atrair pelo pitoresco e exótico o leitor estrangeiro, narrando sobre as florestas, os indígenas e as amplas paisagens da natureza. Um de seus textos, “Três dias no Monte Himalaia”, inclui, em português, os primeiros quatro versos do poema “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, acrescentando, em nota de rodapé, o trecho do poema com sua própria tradução para o francês, além de uma pequena nota biográfica do autor.

A primeira colaboração literária de Amélia encontrada em periódicos publicados na cidade do Rio de Janeiro é “Naufrágio”, publicado em 22/09/1892 no jornal A Família, dirigido por Josephina Álvares de Azevedo. Considerado um dos mais importantes periódicos dirigidos por uma mulher no século XIX, “o jornal destaca-se pelo tom combativo em prol da emancipação, por questionar a tutela masculina e ainda por testemunhar momentos decisivos da luta das mulheres brasileiras por seus direitos” (DUARTE, 2017, p. 313).

Poucos anos depois, outro texto de Amélia será publicado em jornal do Rio de Janeiro e reproduzido em outros periódicos e mesmo em livro, circulando, assim, pelo país (BASTOS, CATHARINA, 2019; LISBOA, 1894). Dessa vez não se trata de literatura, mas sim de uma tomada de posição política, em que Amélia faz um depoimento na defesa da imigração chinesa como alternativa para a mão de obra na agricultura no país, tema que dividia os fazendeiros e políticos na questão da “salvação da lavoura”. Amélia, com a morte do pai, em 1893, passa a auxiliar a mãe na administração da fazenda, que conta com 25 imigrantes chineses trabalhando nos cafezais. Com a polêmica levantada, Henrique Carlos Ribeiro Lisboa demanda o depoimento dos fazendeiros que haviam recebido os primeiros imigrantes chineses do período. O texto de Amélia será apresentado na íntegra no A Gazeta de Notícias, em 1894, encaminhado por destacado fazendeiro da província do Rio de Janeiro, apoiador da imigração chinesa, o Sr. Pedro Cunha, em artigo intitulado “Os chins”:

Convindo tornar conhecida a opinião dos fazendeiros fluminenses sobre a utilização d’estes trabalhadores, peço-vos a gentileza de publicardes a seguinte notícia, escrita por uma senhora de inteligência culta e dotada de espírito eminentemente observador, a Sra. D. Amelia Gomes de Azevedo, que habilmente coadjuva sua mãe na administração da fazenda – Monte Himalaya.

Esta fazenda, notável por seu caprichoso trato, é uma das principais explorações agrícolas do importante município de Itaperuna (OS CHINS, 1894, p. 1).

Amelia, apesar de solteira nessa época, é tratada como D. Amelia, o que indica ter conseguido uma posição de respeito nesse ambiente de proprietários agrícolas, que reconhecem sua “inteligência culta” e “espírito eminentemente observador”. Em seus argumentos, Amelia demonstra conhecer as teorias cientificistas da época, utilizando-se delas ao dar a entender que sua observação é correta, pois se apoia em uma pretensa “imparcialidade” baseada na observação da “produção” de quatro “espécimes” que atuam em um mesmo local, sob as mesmas condições de trabalho:

Não pretendo, por forma alguma, com estas linhas fazer prevalecer minhas ideias, bem longe disso. Quero unicamente relatar minhas impressões produzidas por observação aturada (sic).

Assisti de perto ao trabalho escravo, vi a transição em ocasião de tormentosa luta, observei o trabalhador europeu, o nacional e agora o chinês.

Posso, por conseguinte, pela experiência, estabelecer um paralelo entre os quatro elementos produtores, equiparando as vantagens e prejuízos, sem entretanto, deixar-me levar pelo espírito de parcialidade.

Atualmente minha mãe tem na fazenda o espécime dos quatro elementos, a que me refiro – o liberto, o europeu, o nacional e o chinês.

É fácil a comparação, desde que se apresentam todos na mesma época, nas mesmas circunstâncias, oferecendo somente diferença no resultado da produção. (OS CHINS, 1894, p. 1).

Como sabe que está se envolvendo em uma grande polêmica nacional, Amelia indica não ter intenção de fazer prevalecer suas ideias, mas tão somente relatar suas impressões. Essa ressalva nos leva a pensar se tal posição denota apenas humildade feminina ante o mundo masculino dos proprietários de terra ou, antes, uma construção retórica que lhe permita navegar em águas controversas.

2.2 “Rumorejos do Monte Himalaya”, a primeira obra

No mesmo ano, no segundo semestre de 1894, ocorre o lançamento do primeiro livro de Amelia Gomes de Azevedo, o já citado Rumorejos do Monte Himalaya. Uma recente edição da obra, realizada pela Série Memórias Fluminenses, em 2019, retirou-a da condição de obra rara. Além de um prefácio com informações sobre vida e obra da autora, a nova publicação apresenta uma versão bilíngue da segunda parte, com o texto original em francês e sua tradução para o português, que conta, assim, com “Impressões de uma jovem brasileira na época de seus exames”, “Uma página no Brasil”, “Três dias no Monte Himalaia”, “Cristóvão Colombo”, “D. Pedro de Alcantara” e “O Solitário”.

A obra é prefaciada por Afonso Celso, reconhecido jornalista e escritor, que apresenta e recomenda à benevolência do público o talento da autora:

É uma brasileira distintíssima, que, em qualquer parte do mundo, sobressairia pelos seus notáveis predicados de espírito e coração, determinando a mais elevada ideia do meio social em que foi educada.

Basta dizer-vos que, solteira, em plena mocidade, privada de seu pai, administra com admirável tino e energia um importantíssimo estabelecimento agrícola que dele herdou; conhece tão superiormente como o próprio, vários idiomas estrangeiros; serve-se da palheta com verdadeira perfeição artística, escreve deliciosas composições, em que a correção da forma só é ultrapassada pela elevação do pensamento…

[…]

São tão raras no Brasil as senhoras que se dedicam às letras…

Confessai que uma, como a Sra. D. Amelia Gomes de Azevedo, a qual o faz com criteriosa simplicidade, revelando nobre amor ao estudo, genuíno valor e sólido preparo, tem jus, pelo menos, a calorosas animações.

Não é verdade?!

Generoso e cavalheiro, qual sempre vos manifestais, não recusareis, decerto, indulgente acolhimento à minha esperançosa estreante (AZEVEDO, 2019, p. 25-26).

Bezerra (2001, p. 76) afirma que muitos dos escritos femininos de mulheres abastadas da época acabavam se valendo de intelectuais e literatos que, além de prefaciar muitas de suas obras, acabavam funcionando “como agentes legitimadores de seus trabalhos, facilitando sua publicação e circulação”. Esse parece ser o caso de Amelia, em que Afonso Celso, ao prefaciar seu primeiro livro, faz com que esse acabe recebendo considerável publicidade em jornais do Rio de Janeiro e região (BASTOS; CATHARINA, 2019, p. 12).

Após essa estreia literária, Amelia passa a publicar no periódico Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, do qual Afonso Celso foi fundador e colaborador por décadas, sendo de se supor que esse conhecimento tenha lhe aberto as portas do jornal (FANGUEIRO, 2020). Assim, em 1895 aparecem dois contos de sua autoria no Jornal do Brasil, “Poty” e “A Mendiga” e, em 1896, Amelia faz incursão pelo folhetim, sob o título de “Mercedes” (BASTOS; CATHARINA, 2019). Ao anunciar o lançamento de Mercedes, o jornal o recomenda “especialmente às nossas gentis leitoras, pois é a autora do romance uma das mais distintas escritoras brasileiras” (COMEÇAREMOS…, 1896, p. 2).

2.3 O romance “Mercedes”

Após sua publicação em folhetim, Mercedes será impresso no mesmo ano, em 1896, pela gráfica do Jornal do Brasil. Essa prática foi muito comum no século XIX e Ferreira (2010, p. 12) aponta que, muitas vezes, “a publicação de uma obra sob a forma de livro dependia de seu sucesso como folhetim”.

Mercedes é hoje um livro raro, do qual temos conhecimento de apenas um único exemplar. Por esse motivo, faremos a seguir um sucinto resumo do romance. A história, que abarca principalmente as décadas de 1880 e 1890, gira em torno da família de Mercedes, que vive em Campos dos Goytacazes, entre a fazenda na Barra do Furado e a chácara na cidade. O pai, outrora um filho de lavrador modesto, ao se casar assume as posses da esposa, vindo a tornar-se o Comendador Silva, grande fazendeiro. O padre João, amigo e conselheiro da família, é quem faz o batismo dos dois filhos do casal: Mercedes, a primogênita, e Mario, oito anos mais novo. Quando criança, Mario conhece Mucio, uma criança pobre, órfã de mãe e que trabalha para ajudar a família, pois seu pai é idoso e doente. Apiedado da criança, que tem quase sua idade, Mario intercede por Mucio ao pai, e este passa a acolher o menino em sua casa. Ao ver que Mucio sabe ler e escrever e tem interesse nos estudos, o Comendador decide enviá-lo à escola, inclusive pagando todo o seu estudo até a formação de Bacharel em Direito em São Paulo, sempre como companheiro de seu filho.

Mercedes vive na companhia dos pais, os quais recusam seu primeiro pretendente, um vizinho, por entenderem que a jovem pode aspirar melhor marido. Mercedes sofre resignada. O rapaz morre em uma queda de cavalo. A mãe de Mercedes morre, deixando herança aos filhos e uma menor quantia ao agregado. Tia Joaquina vai morar com o irmão e a sobrinha, passando assim a fazer companhia a Mercedes, que passa a ocupar o papel de dona de casa. Decorrido um tempo, para grande tristeza de Mercedes, o Comendador Silva também morre.

Mario se estabelece em São Paulo, como advogado, porém, após muito esbanjamento, a herança e os valores recebidos na advocacia são desperdiçados, e o jovem decide se mudar para o Rio de Janeiro, onde Mucio já estava estabelecido e advogava de forma modesta. Repleto de ambição, Mario é atraído pelo mundo da alta sociedade carioca. Mucio decide se afastar e segue para Pelotas, no Rio Grande, onde estão ocorrendo intensos conflitos pós-república.

Um bebê é deixado à porta de padre João, e Mercedes passa a criar a pequena Manoela. Entre Mercedes e Alberto, que passou a frequentar a casa da família quando seu pai ficou enfermo, se estabelece uma aproximação e, depois de um tempo, a jovem percebe que os dois possuem muitas afinidades.

Após se envolver em confusões e dívidas no Rio de Janeiro, Mario é preso por criticar o governo. Por intermédio de Mercedes, Alberto consegue soltar o jovem, que retorna à fazenda em Campos. No término do romance, no mesmo dia em que sua irmã se casa, Mario morre vitimado de uma enfermidade cerebral.

Se até então os escritos literários de Amelia poderiam ser lidos como contendo temas “amenos”, considerados propícios para a escritura feminina da época, em Mercedes a escritora vai inserir o romance no universo do seu tumultuado tempo histórico nacional recente. Mais que o enredo, o destaque nesse folhetim está nas tramas da ambientação, das argumentações e das questões nacionais que animam o tempo vivido pelos personagens, como as lutas abolicionistas, o encilhamento e a revolução federalista.

Nascimento (2010, p. 1) destaca que o romance no Brasil na segunda metade do século XIX e nas duas primeiras décadas do século XX constituiu-se, culturalmente,

a partir de obras escritas exclusivamente por homens, deixando, porém, os romances produzidos por mulheres à margem do discurso histórico, que normatiza e define as linhas gerais do fenômeno literário, seja no âmbito de suas características político-sociais, seja no campo estético-literário. Nesse sentido, não se encontra, na historiografia tradicional brasileira, a contribuição feminina para o romance.

Sem ter a pretensão de enquadrar a obra Mercedes em uma escola literária definida, buscar-se-á aqui destacar aspectos que podem indicar as tendências literárias que influenciaram Amelia na composição de seus escritos, e como a autora dialogou com os grandes temas nacionais de sua época na construção literária do folhetim. O romance em questão pode ser uma preciosa fonte de pesquisa para estudiosos que se debruçam nas relações entre literatura e história, pois, como afirmam Pereira e Chalhoub (1998, p. 9),

Autores e obras literárias são acontecimentos datados, historicamente condicionados, valem pelo que expressam aos contemporâneos. O sentido de um autor ou obra literária não se explica ou esgota nas suas apropriações futuras – por ter virado cânone, ou até ícone, ou por ter supostamente “antecipado” práticas narrativas de períodos ou movimentos literários posteriores, ou mesmo por ter sido esquecido, ou caído em desgraça, segundo os parâmetros traçados pelas vozes dominantes na crítica literária. A cada autor e obra o “seu tempo” e o “seu país” […].

É possível dividir o romance em dois momentos da história nacional: o período das lutas abolicionistas da década de 1880 e o período da instalação da república, em seus tensos anos iniciais da década de 1890.

No primeiro período, é reconstruída a tensão vivida em Campos, destacando o embate entre os fazendeiros, os abolicionistas e os escravizados. Os personagens mais envolvidos nessa discussão são o comendador Silva, fazendeiro contrário à abolição, e o padre João, seu contraponto. Enquanto os proprietários escravocratas têm voz na figura do Sr. Silva, não há voz do outro lado da balança, ficando a defesa do fim do trabalho escravo por conta do padre João.

O comendador Silva, um homem de certa idade, “era um desses espíritos aferrados a ideias antigas, não se sujeitando às inovações do progresso; não podendo aceitar o que não se conformava ao seu modo de encarar as coisas” (AZEVEDO, 1896, p. 13-14). Isso explica sua inconformidade com o fim do trabalho escravo que se anuncia, na medida em que vão se ampliando os enfrentamentos na região, pois o fazendeiro “não admitia a igualdade na acepção social, nem jamais a aceitaria como dogma” (p. 58). O contraponto aos argumentos do Comendador, que reivindica o direito à propriedade como lei antiga e institucionalizada, vem do Padre João, seu padrinho, que faz longo discurso defendendo as leis de Deus e a necessidade de aceitar os novos tempos que se aproximam: “terá alguém o poder de privar da liberdade um ser qualquer que, à face de Deus, é igual a nós?” (p. 62) e acrescenta:

[…] Todo o ente privado de liberdade é um infeliz; é um pária excluído da sociedade. Com que direito nos apropriamos dos frutos produzidos pelo escravo?

Com que direito o obrigamos a um trabalho às vezes superior a suas forças?

O escravo trabalha, rega a terra com o suor de seu rosto e, no entanto, qual é o lenitivo que lhe vem de seus esforços, de sua coragem?

Nenhum; pois nem ao menos pode ter o consolo de pensar que isso aproveitará, senão a si, ao menos a seus filhos. Se alguns senhores são humanos, compassivos, nem todos os imitam.

Depois, o escravo, por sua condição baixa, miserável, é às vezes tratado com injustiça por pessoas que pouco estão acima dele, tendo por única diferença a cor. Não é isto um horror? (AZEVEDO, 1896, p. 63-64).

O comendador vai pouco a pouco perdendo sua mão de obra: “já o fundo de emancipação lhe tinha tirado uns dez escravos” (p. 58). Passado um tempo, ao chegar à fazenda “soube com pasmo que uns trinta escravos se tinham retirado sem a menor satisfação” (p. 80). A causa dessa debandada, nos conta o narrador, tinha sido o Ferraz, um fazendeiro inimigo do Senhor Silva, integrante de outro partido político. Foi ele, um verdadeiro vilão, quem havia mandado um emissário à fazenda para instigar o pessoal a se revoltar, “implantando-lhe ideias das mais absurdas, prometendo-lhe retribuições vantajosas, liberdade, mil garantias sedutoras” (p. 80). O comendador, colérico, “dirigiu-se a vizinhos, a autoridades; mas todos ouviram sua queixa com ar distraído, como se o ocorrido fosse a coisa mais natural do mundo” (p. 81). Depois de um período de cheia do rio Paraíba, o comendador consegue retornar à fazenda após oito dias de ausência. Ao chegar, “grande desilusão esperava o comendador Silva em sua fazenda. Os escravos tinham-se retirado todos, tendo-se ido assalariar em uma outra fazenda do município vizinho” (p. 84). A moagem ia se aproximando e o fazendeiro estava sem pessoal. Dias depois seu canavial é incendiado, o que lhe traz grandes prejuízos. Apesar de o comendador Silva se insurgir contra os abolicionistas, atribuindo-lhes a causa do incêndio, acompanhamos, através do narrador, como se deu o incêndio, e assim ficamos sabendo que a motivação era o ódio do Ferraz, quem pessoalmente havia ateado fogo ao canavial.

A tensão vivida ao longo desse período pelo comendador é agravada pela leitura dos periódicos, que tratam constantemente do tema da abolição, atualizando os fazendeiros e a população em geral sobre as discussões e disputas que se travam em vários níveis e locais.

O romance aponta, assim, para um grande destaque no papel da imprensa no debate abolicionista, podendo dar uma dimensão de como o jornal e a formação de opinião iam se manifestando no público leitor, em especial dos fazendeiros. Assim, o comendador

Não tolerava mais certos gracejos, irritava-se com artigos publicados pelos jornais, contrários às suas ideias políticas.

Não podia suportar a leitura de discursos de certos deputados que, dizia ele, atentavam contra as leis do país, contra a sã moral.

Exasperava-se quando lia artigos de abolicionistas, desses malvados desejosos de roubar os bens alheios. (AZEVEDO, 1896, p. 57-58).

Essas leituras alteravam profundamente o comendador, chegando a causar-lhe irritação “após a leitura de um discurso incendiário, como chamava os que tinham por fim apoiar a abolição” (p. 58). Apreensivo com o futuro, o Senhor Silva

Arremessou o jornal longe de si; protestou interiormente que jamais pegaria em uma folha, desde que não trazia uma distração para o espírito.

– De que vale ocupar-se o tempo com leituras incômodas? resmungava ele.

Passaram-se três dias, e os jornais ficaram empilhados sobre a mesa sem ele os abrir. (AZEVEDO, 1896, p. 78)

Quando ocorre a saída dos trabalhadores da sua fazenda, a notícia é publicada no jornal, o que exaspera ainda mais o fazendeiro:

No dia seguinte, ou por hábito ou por desejo de conhecer as novidades da ocasião, abriu o jornal que acabavam de entregar, e qual não foi sua surpresa ao deparar com as seguintes linhas!

« Retirantes. – Retiraram-se ontem dos eitos da fazenda do Sr. comendador 32 trabalhadores, os que, por si mesmo vão tomando a iniciativa da liberdade que o governo não tardará a decretar.

Folgamos em ver que se vão generalizando as retiradas, e oxalá quando vier a promulgação da lei ardentemente desejada por milhares de infelizes, nosso município já não tenha a negra manha da escravidão. »

Ofendeu-se o comendador Silva com aquela noticia que o exasperava. (AZEVEDO, 1896, p. 82)

Inicia-se uma confrontação através dos periódicos. O comendador Silva “lançou mão da imprensa, convidou amigos e interessados para se reunirem e combaterem as opiniões favoráveis à abolição” (p. 87). Logo em seguida ao primeiro artigo receberam a resposta, que foi violentíssima, em um grande brado em favor da liberdade, integralmente apresentado no folhetim, e que termina nos seguintes termos:

Bradais porque vos arrancam o que não vos pertence. Não vos podem caber os lucros auferidos.

Não! mil vezes não! esses lucros não são vossos.

Entregai-os a quem os produziu, ao escravo que tantas vezes chorou e que, hoje, enfim, vae poder secar suas lagrimas com o sol luzente da liberdade próxima.

Viva a liberdade! a confraternização dos brasileiros! Abaixo os escravocratas! » (AZEVEDO, 1896, p. 90).

Ao descobrir que o anônimo autor do artigo “era um antigo comissário de escravos da capital”, que “recebia a consignação aqueles que tinham de ser vendidos a quem mais desse” (AZEVEDO, 1896, p. 90), voltou à imprensa, em tom de denúncia, atacando a hipocrisia dos ex-traficantes: “Injuriai-nos como senhores, mas muitos de vós sois mais culpados do que nós” (p. 91). Sem consciência, esse mercador especulou e tratou barbaramente os escravos e, “quando, ao longe, divisou os prenúncios da liberdade, sôfrego embolsou dinheiro, e outro senhor deu aos cativos” (p. 92). E por fim lança a pergunta: “Se seduzis escravos de nossas propriedades, para que os recebeis nas vossas, prometendo-lhes gratificações que não tomam uma forma palpável? Não será a ambição que vos cega” (p. 96).

Com o avançar do movimento abolicionista, o fazendeiro foi se dando conta da inutilidade da reação. Assim, “acompanhava os telegramas expedidos da capital, e já não se exasperava com os discursos incendiários. Sua cólera tinha chegado a seu paroxismo; começava a diminuir, embora com lentidão” (AZEVEDO, 1896, p. 97).

O narrador nos informa que

O movimento abolicionista ia seguindo sua marcha natural e, em breve, estaria terminada a grande, a magna questão da liberdade.

Os jornais vinham repletos de artigos exaltando o governo, apoiando o projeto apresentado, e o povo pedia a promulgação da lei, ardentemente desejada por milhares de pessoas.

O município de Campos, onde a efervescência abolicionista era mais forte, jubiloso se manifestava com a esperança do venturoso acontecimento.

Discutiam com paixão; comentavam a questão por todas as formas. (AZEVEDO, 1896, p. 101)

E quando se deu a lei abolicionista, foi através da imprensa que a população campista tomou conhecimento do fato: “No dia 13 de Maio de 1888 telegrama afixado à porta do primeiro jornal de Campos transmitia a grande nova à população” (AZEVEDO, 1896, p. 107).

No debate travado pela imprensa local é possível detectar como fonte de inspiração três periódicos existentes em Campos à época do embate abolicionista. A menção ao jornal mais antigo de Campos provavelmente tem como referência o Monitor Campista, que funcionou de 1834 a 2009, sendo esse, na época em que se passa o romance, um jornal de grande circulação local. Os métodos, discursos e ataques aos fazendeiros realizados pelo jornal abertamente abolicionista Vinte e Cinco de Março são muito semelhantes àqueles descritos pelo periódico abolicionista do romance. Outra fonte de inspiração parece ter sido o jornal A Evolução, criado em 1885 para defesa dos senhores escravocratas (COSTA, 2015; SOUSA, 2014).

O comendador Silva sofreu os abalos financeiros com a perda de mão de obra, os gastos com a perseguição aos abolicionistas e os dispêndios com a educação de Mario e Mucio em São Paulo, o que lhe abalou a saúde. Após um período de grande debilidade na produção, o comendador buscou fazer reformas e inovações, conseguindo fazer com que a fazenda entrasse em uma fase de prosperidade.

Nem todos os fazendeiros, porém, encararam e enfrentaram os novos tempos. Alguns acabaram desmoronando, de forma que se entregaram ao total desânimo e, no desespero, “procuraram na morte uma solução a seus males”, e “esses suicídios, mancha sangrenta, foram uma das mais tristes notas do grande acontecimento” (AZEVEDO, 1896, p. 112). Para o narrador, o indivíduo que cometeu tal ato é “digno de compaixão”, e argumenta: “Não temos direito de vida sobre nós mesmos, segundo a lei de Deus; mas temos o dever de nos livrarmos do mal que nos faz sofrer” (AZEVEDO, 1896, p. 112-113).

É possível observar que as críticas e posicionamentos presentes na obra se constroem nos limites da classe social em que a autora se insere. É sob esse prisma que são abordadas as questões do movimento abolicionista e também, como se verá a seguir, muitas das questões que envolvem os primeiros anos da república no país. Isso ocorre porque, como afirmam Zinani e Polesso (2010, p. 99-100), “a literatura carrega marcas do particular cultural de cada autor/a e das posições de sujeito com as quais ele ou ela se identifica e se relaciona”.

Com a abolição e a morte do fazendeiro, tempos depois o romance passa a um segundo momento. Os dois irmãos e o agregado Múcio passam a viver sua juventude sob os ares da República. O prenúncio dos novos tempos que se aproximavam já vinha sendo percebido pelo Sr. Silva que, ao sentir a falta de atenção do filho para com a família, comenta: “– Enfim, são coisas do tempo, creio eu. Hoje tudo é fim de século e por conseguinte, os rapazes da nova geração vão tomando ares novos que não conhecíamos” (AZEVEDO, 1896, p. 170).

A luta abolicionista, vivida a partir do conflito agrário no interior da Província, cede lugar aos conflitos da recém-criada República, deslocando o romance para um olhar sobre os ambientes urbanos do país que estão em franca expansão e modernização. A fazenda é vendida, encerrando o tema agrário do romance. A oposição interior versus capital começa a ser percebida mais claramente. Enquanto Mercedes permanece em Campos passando a viver na chácara da família, Mario começa a sentir tédio, pois “aborrecia-o a monotonia da vida do campo; faziam-lhe falta as emoções da grande capital de S. Paulo, os prazeres oferecidos à mocidade no turbilhão da existência naquela cidade” (AZEVEDO, 1896, p. 150). Mercedes conversa com o irmão, tentando convencê-lo a permanecer perto de si:

– Podes ganhar a vida sem cultivares terras; podes exercer tua profissão aqui mesmo no fôro de Campos. Que necessidade há de te expatriares voluntariamente?

– Campos! seu horizonte é demasiadamente pequeno para minha força, minha vitalidade, para a coragem de que disponho. Que vida inglória eu teria em minha terra! Desejarias que teu irmão fizesse má figura? Não, por certo. Em lugar como este, não me poderei utilizar dos recursos de que disponho. De que me serviriam então meus estudos? Eu seria um advogado de insignificante nomeada, defenderia causas de pequena importância, não teria ocasião de jogar com a lei, desenvolver todas as suas fases, mostrar que a conheço a fundo e não receio adversário por mais abalizado que ele me pareça. (AZEVEDO, 1896, p. 153-154).

Retornando a São Paulo, Mario passou a viver com a herança dos pais. No desfrute do convívio da elite paulistana, tornou-se um dandy da moda e, ao viver acima de suas posses, logo se viu sem recursos, tendo que pedir dinheiro emprestado à irmã e a Mucio.

Após ganhar uma causa em um “processo célebre entre uma companhia e um banco da capital em S. Paulo” (AZEVEDO, 1896, p. 186), recebeu uma boa porcentagem dos lucros. Com o dinheiro envolveu-se em jogos e especulações, obtendo grande retorno. Pagou suas dívidas com juros, e resolveu mudar-se para o Rio, onde passou a frequentar o jogo da bolsa, conseguindo grande fortuna. Vaidoso, passeava pela rua do Ouvidor “irrepreensivelmente trajado, passeando lentamente de uma extremidade para outra, ouvindo com intima satisfação e orgulho os ditos lisonjeiros a respeito de sua pessoa” (AZEVEDO, 1896, p. 187).

Enquanto isso, Mucio fiava-se sempre no trabalho, pois sua origem humilde o fazia ser cauteloso e não correr riscos de queda. Decidiu, porém, mudar-se para Rio Grande, seguindo “a corrente emigratória provocada pelas atuais ideias políticas” (AZEVEDO, 1896, p. 198). Já estabelecido, escreve a Mario, explicando ter saído do Rio para fugir das “tentações dessa cidade pervertida” (AZEVEDO, 1896, p. 195). Em Pelotas, afirma acompanhar os partidos em luta, considerando-se neutro, principalmente após ver “os escândalos, as barbaridades cometidas debaixo da bandeira da legalidade ou da que dizem ser da liberdade” (AZEVEDO, 1896, p. 198), porém acredita que, após “esta guerra fratricida”, quando “vier a paz, quando tudo entrar em seus eixos, tornar-se-á mais suave a existência” (p. 200), deseja, assim, fazer sua vida nessa cidade, vivendo mais tranquilamente do que se morasse na capital. Outro motivo da viagem, inconfesso e que nos conta o narrador, está na desilusão amorosa sofrida ao perceber que Mercedes está correspondendo à afeição de Alberto.

Mario, por sua vez, cansado do trabalho no escritório, decide transformar-se em capitalista: investiu seus recursos na criação de uma companhia de cerâmica no estado de Minas, para a qual estava certo de obter grande fortuna. Em uma construção irônica, o narrador observa que, o jovem, com “sua habilidade de advogado demonstrou até a evidencia as grandes vantagens da empresa” (AZEVEDO, 1896, p. 191). Obteve concessão do governo, lançou ações na praça, ficando ele mesmo com grande número. Em um ano a companhia já havia quebrado, causando grandes prejuízos aos acionistas, realidade comum a várias outras companhias da época. É que

A fraude, a deslealdade, a falta de consciência eram as qualidades predominantes nessa época.

Explorar um meio de roubar habilmente e apoderar-se do alheio eram coisas muito naturais e ninguém se admirava.

Nem se estranhava de um dia para o outro criarem-se fortunas muito grandes, sem se saber de onde vinham sem se poder explicar sua verdadeira procedência.

Era uma chuva fantasmagórica de riquezas, de ouro, de luxo, sob a qual em loucos anseios rodopiava a população fluminense, ébria de gozos, de fausto, de delicias. Mas esses encantos impossíveis deviam fatalmente ter sua queda. (AZEVEDO, 1896, p. 192-193).

Mario não se dá por vencido e, uma vez que havia conseguido salvar seus capitais da quebra da companhia, passou a empregar dinheiro em títulos com boa cotação na praça, oferecendo bons dividendos aos seus possuidores. Chegou a dispor de propriedades imóveis para obter mais títulos, até que, por fim, deu-se conta que o único que possuía eram papéis sem valor. Sem dinheiro, Mario teve que se mudar para um simples quarto de hotel:

Consultou-se a si mesmo, examinou os factos e convenceu-se seriamente de que era o governo o autor de suas desgraças.

Uma administração má, homens sem caráter e sem dignidade com as rédeas do governo do país tinham levado seus negócios para um caminho funesto de consequências terríveis.

Era, portanto, o governo o responsável pelos desmandos presenciados, pelo descalabro geral de tudo e de todos, pela ruina de grandes fortunas.

[…]

Desabafava o coração falando do governo, criticando seus atos, profligando os homens do estado.

Tanto falou que uma tarde, sem esperar, colheu-o a rede da espionagem no Rio.

Não dormiu mais em seu cômodo leito.

Foi conhecer a dura tarimba da enxovia nauseosa, para onde eram remetidos os deliquentes (sic) naquela era de terror. (AZEVEDO, 1896, p. 226-228).

A queda é enfatizada pelo narrador, pois do fausto vivido pelo belo e invejado advogado que flanava pelas ruas do Ouvidor e pela cidade de S. Paulo, Mario passa, agora, a ocupar uma cela suja e fria. Impotente e desamparado, o jovem se desespera e chora, caindo no desalento.

Sem alternativa, Mario escreve à irmã, sua única possibilidade de salvação. Na carta reconhece que foi dominado pela vaidade e que isso lhe valeu a queda em que se encontrava. Alberto, o noivo de Mercedes, que “vivia de transações que lhe davam bons lucros, apesar de não seguir a praxe da época” (AZEVEDO, 1896, p. 207), consegue, após grande empenho, a soltura do futuro cunhado. Mário é recebido com efusão e carinho por Mercedes. Esta percebeu que o rapaz havia mudado, havendo “naquele cérebro uma anormalidade qualquer que se manifestava” (AZEVEDO, 1896, p. 242), com desequilíbrios que ela não sabia avaliar, tais como alterações constantes de humor, esquecimento e descuido na aparência.

Amelia subverte os esquemas comuns da escola literária da época, em que é o personagem feminino quem vive a histeria e os problemas mentais, tão em voga na escola naturalista e também praticado no Brasil (ENGEL, 1989). Nesse romance, Mercedes é uma criança bondosa e caritativa, uma jovem prendada, educada e trabalhadora, obediente aos pais, crente a Deus, sem anseios maiores que viver dignamente o dia a dia. O irmão, inicialmente uma criança boa e meiga, sobrevive a uma grave enfermidade quando jovem. Após essa passagem, o personagem reaparece vivendo em grandes e importantes cidades do país, apresentando um perfil afetado, ambicioso, cheio de si. Após várias peripécias envolvendo luxo, ambição e vaidade, recebe o golpe fatal com a prisão, e, solto, retorna a Campos. Não há mais a possibilidade para Mario de se adaptar a esse ambiente. Os estudos de temperamento e os desequilíbrios mentais são, assim, deslocados para o homem que, atraído pelo luxo, ambição e vaidade, se corrompe no mundanismo. Ao retornar à província, em sua cidade natal, a adequação é impossível, o desequilíbrio se manifesta fortemente e a morte é a única saída. Esta ocorre no fechamento do romance, logo após o casamento de Mercedes e Alberto:

A brisa embalsamada dessa linda tarde de Julho, levando além os sons de uma ventura imensa, confundia-os com um riso estridente em uma alcova fechada.

Era Mario; a fulgurante inteligência de outrora tinha perecido, cedendo seu lugar ao desequilíbrio de um cérebro doente. (AZEVEDO, 1896, p. 249).

A oposição entre a cidade e o campo, que já se insinua em escritos anteriores da autora, é constantemente realçada em Mercedes, com a crítica ao aspecto malsão da primeira. A cidade, a capital, os grandes centros estimulam a ilusão e a ambição. A tese romântica de superioridade da vida rural sobre a vida urbana não é exclusividade da autora em sua época: segundo Sodré (1992), autores como Adolfo Caminha, Coelho Neto e Artur Azevedo trilharam nessa seara em algumas de suas obras. Além disso, convém lembrar que essa tese se encaixa perfeitamente com o meio do qual Amélia provém, de uma classe agrária da província.

O papel feminino de centralidade como esteio e fortaleza em um mundo predominantemente patriarcal pode ser visto na personagem Mercedes, que representa um modelo de mulher que Amelia provavelmente busca apresentar para sua classe social: sem ousadia, sem anseios revolucionários ou de desafios, Mercedes foi exemplar desde criança. Aceitou a recusa dos pais ao primeiro pretendente, um vizinho por quem tinha desenvolvido reciprocidade. Tornou-se “mãe de família” ao assumir as responsabilidades da casa com o falecimento da mãe, passou a criar a pequena Manoela, um bebê abandonado, além de preocupar-se com as desventuras do irmão. Sofreu com a morte do pai. Inteligente, só era expansiva com as pessoas mais próximas. Nada sabemos sobre como se deu sua educação nas letras, porém tudo indica que foi realizada em casa, talvez pela mãe. Essa continuidade na transmissão do conhecimento se demonstra na pequena Manoela, a quem Mercedes inicia “a ensinar as letras e as orações” (AZEVEDO, 1896, p. 223). Ao mesmo tempo, Mercedes não se apresenta como um ser frágil e, uma vez que os pais são falecidos, passa a viver da herança recebida, assumindo também a prerrogativa de escolher o próprio marido, o que faz apenas ao encontrar uma pessoa por quem sente afinidade e compartilha gostos e aspirações comuns, sendo ambos de “forças iguais” (AZEVEDO, 1896, p. 223).

A ambiguidade e complexidade do discurso feminino de mulheres de letras do século XIX foram detectadas por Bernardes (1988). Sob esse prisma, a construção da condição feminina na produção literária de Amelia pode fornecer importantes pistas para detecção da realidade social das mulheres de seu tempo, condição e lugar, o que enseja novas e atentas leituras sobre sua obra.

Infelizmente, não foram localizadas notas que possam indicar a recepção do folhetim e do romance Mercedes no período de seu lançamento. A autora, porém, permaneceu presente, ainda que de forma esporádica, no imaginário da região, nas décadas seguintes. Dez anos após o lançamento de seu segundo livro, o jornal Itabapoana indica que “D. Amelia é um dos mais radiosos talentos femininos no Brasil, o que há manifestado exuberantemente na ‘Mercedes’, trabalho de um estilo leve e harmonioso em que transparece também a sua alma feita de lírios, olorando as outras almas submissas dos escravizados de outrora” (BASTOS, 2009, p. 38). Em 1935, nove anos após a morte da escritora, Sousa (2014, p. 419) em sua obra sobre Campos, insere Amelia entre os grandes nomes da literatura local, indicando ser o romance Mercedes “de bem cuidado enredo, cujos episódios ela fez se desenrolassem nas nossas praias do ‘Furado’, naqueles vargedos que ela bem conheceu, pois os descreveu com precisão e minudencias”. Observa-se que o destaque dado à obra em questão reside principalmente nos aspectos considerados propícios para a escritura feminina da época, já que “o lugar da mulher de letras seria a esfera ‘perfumada de sentimento e singeleza’” (TELLES, 2018, p. 422).

3 E as buscas continuam…

Em artigo escrito em 1935 sobre Rumorejos do Monte Himalaya, José Façanha comenta suas impressões sobre a obra, confessando ter sido a autora completamente desconhecida para ele, até então. Lamenta o injusto esquecimento de Amelia Gomes de Azevedo, destacando que “não fossem as circunstâncias em que decorreu a sua vida, teria sido, talvez, a primeira de sua geração” (FAÇANHA, 1935, p. 4).

As obras de ficção escritas por mulheres no século XIX ainda carecem de atentas pesquisas que possibilitem tirar do limbo obras esquecidas, dormitando em folhetins, ou mesmo livros empoeirados em prateleiras ou baús, obras raras, e como tal, quase inacessíveis aos leitores de hoje. No trabalho já comentado de Bernardes (1988, p. 101), das 99 mulheres de letras pesquisadas em um período de 50 anos do século XIX, foram encontradas apenas 29 delas escrevendo ficção. Como o universo pesquisado se restringia àquelas que publicaram no Rio de Janeiro, o número de autoria feminina no Brasil oitocentista tende a crescer, com o avanço das pesquisas que vêm se desenvolvendo nas últimas décadas.

A participação de mulheres na vida cultural brasileira no Oitocentos, em especial no campo literário, era muitas vezes facilitada por sua condição econômica, que permitia o compartilhamento com literatos já consagrados. Amelia, porém, viveu no Rio de Janeiro apenas em seu período escolar, em um internato feminino, o que provavelmente não lhe deixaria muito tempo para atividades externas. Ao retornar à fazenda, no interior da Província do Rio de Janeiro, esses contatos passam a ser mais esporádicos, mantendo-se provavelmente através de cartas, o que certamente representaria uma dificuldade no contato mais estreito com os círculos literários; ainda que seu acesso às publicações fosse permanente, sua presença nesses ambientes seria escassa. Essas dificuldades não devem ter sido sentidas apenas pela escritora aqui estudada, tendo em vista que, na pesquisa realizada por Bernardes (1988, p. 99), das 99 mulheres de letras que publicaram no Rio de Janeiro, entre 1840 e 1890, apenas sete eram oriundas da Província do Rio de Janeiro, sendo que, desse total, apenas duas não moravam na capital. Essa realidade pode ter contribuído para que o nome de Amelia fosse eclipsado como o de tantas outras mulheres de letras, pois como aponta Bezerra (2001, p. 76) “no momento em que deixavam de participar desses círculos, seus nomes/obras iam se apagando da memória cultural do país”.

A exclusão das mulheres como produtoras de capital cultural foi um processo reiterado ao longo do século XIX, o que permitiu que, “por muitas décadas, a produção dessas mulheres fosse completamente apagada de nosso patrimônio cultural, criando uma falsa visão, ou pelo menos uma visão parcial, de nossa sociedade e de nosso sistema literário” (ALÓS, 2008, p. 692). No presente estudo, buscou-se resgatar a produção intelectual e literária de uma escritora de letras do norte da província do Rio de Janeiro no século XIX, contribuindo para a desconstrução dessa exclusão. Soffiati (2019) destaca o pioneirismo de Amelia, considerando-a a primeira escritora regional conhecida. Mais estudos em acervos pouco pesquisados podem contribuir para ampliar o conhecimento sobre o ambiente intelectual das mulheres letradas da região, auxiliando na resposta à pergunta de Falci (2018, p. 251), ao referir-se à Amélia de Freitas, primeira mulher brasileira a concorrer à Academia Brasileira de Letras: “Quantas outras Amélias, cultas ou ricas, não ficaram esquecidas pela história por jamais terem saído do interior?”.

Referências

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Notas de autor

1 Doutora em Medicina Veterinária (UFF). Médica Veterinária no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense Campus Bom Jesus do Itabapoana – Bom Jesus do Itabapoana/RJ – Brasil. E-mail: pabastos@iff.edu.br.

Información adicional

COMO CITAR (ABNT): BASTOS, P. M. B. Amélia Gomes de Azevedo: uma mulher de letras na Província do Rio de Janeiro em fins do século XIX. Vértices (Campos dos Goitacazes), v. 24, n. 3, p. 882-899, 2022. DOI: https://doi.org/10.19180/1809-2667.v24n32022p882-899. Disponível em: https://www.essentiaeditora.iff.edu.br/index.php/vertices/article/view/16972.

COMO CITAR (APA): Bastos, P. M. B. (2022). Amélia Gomes de Azevedo: uma mulher de letras na Província do Rio de Janeiro em fins do século XIX. Vértices (Campos dos Goitacazes), 24(3), 882-899. https://doi.org/10.19180/1809-2667.v24n32022p882-899.

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