Dossiê Temático: “A pesquisa em Educação Profissional e Tecnológica: temas, abordagens e fontes”

Arte na Educação Profissional e Tecnológica: um panorama das dissertações e produtos educacionais defendidos no ProfEPT do IFPR

Art in Technical and Vocational Education and Training: an overview of dissertations and educational products defended in the IFPR's ProfEPT

El arte en la Educación Profesional y Tecnológica: una visión general de las disertaciones y productos educativos defendidos en el ProfEPT del IFPR

Wilson Lemos 1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR), Brasil
Bruno Amaral da Costa 2
Prefeitura de Pontal do Paraná/PR, Brasil
Raina Costa Santos 3
Brasil
Daniel Silva Rodrigues 4
Brasil

Arte na Educação Profissional e Tecnológica: um panorama das dissertações e produtos educacionais defendidos no ProfEPT do IFPR

Vértices (Campos dos Goitacazes), vol. 24, núm. 2, 2022

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

Este documento é protegido por Copyright © 2022 pelos autores.

Recepción: 03 Febrero 2022

Aprobación: 11 Julio 2022

Resumo: A Arte possui um papel humanizador e, portanto, indispensável na formação integral na perspectiva da Educação Profissional e Tecnológica. Utilizando como metodologia o estudo de caso, este artigo objetiva investigar as dissertações e produtos educacionais relacionados à área da Arte, defendidos no Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica em rede nacional (ProfEPT) ofertado na instituição associada IFPR, a partir da análise de três categorias: I) sobre o referencial teórico e epistemológico utilizado pelos autores e sua relação com o ProfEPT; II) sobre a análise do público-alvo a que se dedica o produto educacional; III) sobre a análise das possibilidades/requisitos para a replicação do produto educacional. São apresentadas quatro dissertações com seus respectivos produtos educacionais, sendo uma da área das Artes Visuais, uma do Cinema, uma do Teatro e uma da Música. Todas as pesquisas estão vinculadas à linha de pesquisa de Práticas Educativas em Educação Profissional e Tecnológica do ProfEPT. As pesquisas, assim como os produtos defendidos, abrangem grandes possibilidades pedagógicas para aplicação em cursos técnicos de nível médio, tanto na modalidade integrada, como também para a subsequente.

Palavras-chave: Arte/Educação na EPT, Ensino Técnico, IFPR, ProfEPT.

Abstract: Art has a humanizing role and, therefore, is essential in the integral formation from the perspective of Technical and Vocational Education and Training. Using the case study as methodology, this article aims to investigate the dissertations and educational products related to the Art area, defended in the Professional Master's Degree in Professional and Technological Education in national network (ProfEPT) offered at the associated institution IFPR, from the analysis of three categories: I) on the theoretical and epistemological framework used by the authors and their relationship with ProfEPT; II) on the analysis of the target audience to which the educational product is dedicated; III) on the analysis by the possibilities/requirements for the replication of the educational product. Four dissertations are presented with their respective educational products, one in the area of Visual Arts, one in Cinema, one in Theater and one in Music. All researches are linked to the research line of Educational Practices in Professional and Technological Education of ProfEPT. The researches, as well as the defended products, cover great pedagogical possibilities for application in technical courses of high school, both in the integrated modality, and also for the subsequent one.

Keywords: Art Education, Technical and Vocational Education and Training (TVET), IFPR, ProfEPT.

Resumen: El Arte tiene un papel humanizador y, por lo tanto, indispensable en la formación integral en la perspectiva de la Educación Profesional y Tecnológica. Utilizando la metodología de estudio de caso, este artículo tiene como objetivo investigar las disertaciones y productos educativos relacionados con el área del Arte, defendidos en la Maestría Profesional en Educación Profesional y Tecnológica en red nacional (ProfEPT) ofrecida en la institución asociada IFPR, a partir del análisis de tres categorías: I) sobre el marco teórico y epistemológico utilizado por los autores y su relación con la ProfEPT; II) sobre el análisis del público objetivo al que se dedica el producto educativo; III) sobre el análisis de posibilidades/requisitos para replicar el producto educativo. Se presentan cuatro disertaciones con sus respectivos productos educativos, una en Artes Visuales, una en Cine, una en Teatro y una en Música. Toda la investigación está vinculada a la línea de investigación ProfEPT sobre Prácticas Educativas en Educación Profesional y Tecnológica. Las investigaciones, así como los productos defendidos, abarcan grandes posibilidades pedagógicas de aplicación en cursos técnicos de bachillerato, tanto en la modalidad integrada, como para la posterior.

Palabras clave: Educación Artística, Educación Técnica, IFPR, ProfEPT.

1 Introdução

O ProfEPT é um programa de pós-graduação em Educação Profissional e Tecnológica, que oferta um mestrado profissional em Educação Profissional e Tecnológica em rede nacional. A Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT) é composta pelos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IF), Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET), a Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR) e o Colégio Pedro II. O programa é coordenado nacionalmente pelo Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). O ProfEPT é ofertado na modalidade semipresencial, pertence à área de Ensino e é reconhecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) do Ministério da Educação (INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, 2018a).

O objetivo do ProfEPT é o de proporcionar formação em Educação Profissional e Tecnológica, visando tanto à produção de conhecimentos como ao desenvolvimento de produtos educacionais (INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, 2018a). Sendo assim, cada estudante, além de realizar pesquisas que integrem os saberes inerentes ao mundo do trabalho e ao conhecimento sistematizado, propõe e aplica um produto educacional.

O ProfEPT possui natureza interdisciplinar e interinstitucional, que busca traduzir o perfil de atuação das instituições que compõe a RFEPCT que, desde a sua criação no ano de 2008, tem experimentado um grande crescimento, não apenas em número de unidades (institutos e campi), como também de estudantes, servidores docentes e técnicos administrativos. O ProfEPT iniciou suas atividades no ano de 2017 contando com a instituição sede, o IFES e mais 17 instituições credenciadas, entre elas, o IFPR. Em 2018, em uma nova etapa de credenciamento, mais 18 instituições associadas passaram a integrar o ProfEPT. Em 2019, mais 4 se credenciaram ao programa. Atualmente, o ProfEPT possui 39 instituições associadas, além da sede, o IFES (ESCOTT, 2021).

O ProfEPT tem como Área de Concentração a Educação Profissional e Tecnológica, e possui 2 Linhas de Pesquisa: Práticas Educativas em Educação Profissional e Tecnológica e; Organização e Memórias de Espaços Pedagógicos na Educação Profissional e Tecnológica (INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, 2018b).

O ProfEPT do IFPR iniciou suas atividades na primeira oferta do Programa no ano de 2017. De lá para cá, houve o ingresso de 4 turmas. Nesta pesquisa, abrange-se o universo de estudantes egressos das 3 primeiras turmas, compostas por ingressantes dos anos de 2017, 2018 e 2019 e que defenderam dissertações que envolvem estudos sobre as diferentes linguagens artísticas. Até o final do ano de 2021, foram realizadas 63 defesas de dissertações e produtos educacionais no ProfEPT do IFPR.

A partir da Lei n.º 5.692 (BRASIL, 1971), que incluiu a Educação Artística no currículo escolar, o ensino da Arte ocorre por meio da polivalência, ou seja, abrangendo várias linguagens artísticas dentro de uma mesma disciplina. A partir da promulgação da LDB n.º 9.394 (BRASIL, 1996) e, consequentemente, com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)1 a partir do ano de 1997, a disciplina de Arte na educação básica buscou trabalhar com 4 linguagens: Artes Visuais, Música, Teatro e Dança, perspectiva que foi confirmada após a promulgação da Lei n.º 13.278 (BRASIL, 2016). Sendo assim, levanta-se a seguinte problemática: Quais as características (tema, referencial teórico, público-alvo) das dissertações e produtos educacionais, relacionados a área de Arte, defendidos no Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica em rede nacional (ProfEPT) ofertado na instituição associada IFPR? Para responder a essa questão, buscou-se inicialmente identificar pesquisas que abrangem as 4 linguagens contempladas pelos PCN: Artes Visuais, Música, Teatro e Dança. Porém, durante a catalogação das dissertações, foi encontrada e somada a esta pesquisa uma dissertação sobre Cinema.

As dissertações abordadas neste artigo são: Rearte: oficina transformadora de resíduos sólidos em peças artísticas na modalidade da Educação Profissional e Tecnológica, de autoria de Bruno Amaral Costa; A Formação, o Livro Didático e o Cinema Novo: uma proposta de guia instrucional para o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, de Nilson dos Santos Morais; Como se Formam Artistas? Uma Webcartografia para a Profissionalização em Teatro na Educação Profissional e Tecnológica, de Raina Costa Santos e; Educação Sonora na Educação Profissional e Tecnológica: Prática Criativa no Ensino Médio Integrado, de Daniel Silva Rodrigues. Todos os trabalhos investigados são pertencentes à linha de pesquisa de Práticas Educativas em Educação Profissional e Tecnológica.

Utilizando como método o estudo de caso, o artigo objetiva investigar o conteúdo das dissertações e dos produtos educacionais defendidos no ProfEPT do IFPR, a partir da análise de 3 categorias: I) sobre o referencial teórico e epistemológico utilizado pelos autores e sua relação com o ProfEPT; II) sobre a análise do público-alvo a que se dedica o produto educacional; III) análise das possibilidades/ requisitos para a replicação do produto educacional apresentado pelos autores.

2 Metodologia

Utiliza-se neste artigo a metodologia do estudo de caso, que é uma “[…] pesquisa que se concentra no estudo de um caso particular, considerado representativo de um conjunto de casos análogos, por ele significativamente representativo” (SEVERINO, 2007, p. 121). O estudo de caso se aplica a situações específicas, podendo ser utilizado em várias áreas do conhecimento, tornando assim uma “[…] metodologia apropriada para os dias atuais, principalmente, em relação a estudos qualitativos e pesquisa aplicada para programas acadêmicos e profissionais” (FREITAS; JABBOUR, 2011, p. 17). Sendo assim,

O caso escolhido para a pesquisa deve ser significativo e bem representativo, de modo a ser apto a fundamentar uma generalização para situações análogas, autorizando interferências. Os dados devem ser coletados e registrados com o necessário rigor e seguindo todos os procedimentos da pesquisa de campo. Devem ser trabalhados, mediante análise se dão da mesma forma que nas pesquisas de campo, em geral (SEVERINO, 2007, p. 121).

Neste estudo de caso, busca-se realizar uma análise de conteúdo presente nas dissertações e nos produtos educacionais que abordam as linguagens artísticas no âmbito do ProfEPT do IFPR. Segundo Severino (2007, p. 121), a análise de conteúdo:

[…] é uma metodologia de tratamento e análise de informações constantes de um documento, sob forma de discursos pronunciados em diferentes linguagens: escritos, orais, linguagens, gestos. Um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Trata-se de compreender criticamente o sentido manifesto ou oculto das comunicações.

Na análise de conteúdo, buscou-se investigar três categorias analisadas no texto dos autores: I) sobre o referencial teórico e epistemológico utilizado nas dissertações, assim como suas relações com o ProfEPT; II) sobre a análise do público-alvo a quem se dedicou a aplicação do produto educacional e; III) sobre as possibilidades/ requisitos para a replicação dos produtos educacionais apresentado pelos autores.

3 Referencial Teórico

Segundo artigo n.º 26 da LDB n.º 9.394 (BRASIL, 1996), a Arte é um componente curricular obrigatório na educação básica. Sendo assim, torna-se natural compreender a importância do ensino da Arte também na Educação Profissional e Tecnológica, especialmente, daquela de nível médio. De acordo com Faraco (2002, p. 128):

[…] é importante que um programa de Artes na Educação Média trabalhe a diversidade da produção artístico-cultural, criando condições para os alunos captarem as múltiplas facetas que constituem o fazer artístico numa sociedade complexa como a nossa, ampliando-lhes quantitativamente e qualitativamente os meios de acesso às Artes.

Para Faraco (2002), no Ensino Médio, a Arte deveria ser integrada à vida dos estudantes de modo significativo, cumprindo assim seu papel humanizador e, portanto, indispensável à formação integral do cidadão.

Em relação à Arte na Educação Profissional, destacam-se os relatos de Eliezer Pacheco, que foi titular da Secretaria Nacional de Educação Profissional e Tecnológica do MEC entre os anos de 2005 até 2012, tendo participado do processo de criação dos Institutos Federais por meio da Lei n.º 11.892 (BRASIL, 2008b). Pacheco (2015, p. 11), ao tratar da fundamentação dos institutos federais, relata que:

Nosso objetivo central não é formar um profissional para o mercado, mas sim um cidadão para o mundo do trabalho – um cidadão que tanto poderia ser um técnico quanto um filósofo, um escritor. Significa superar o preconceito de classe de que um trabalhador não pode ser um intelectual, um artista. A música deve ser incentivada e fazer parte da formação de nossos alunos, assim como as artes plásticas, o teatro e a literatura. Novas formas de inserção no mundo do trabalho e novas formas de organização produtiva como a economia solidária e o cooperativismo devem ser objeto de estudo na Rede Federal.

Pacheco (2015) também destaca a importância de assegurar um lugar para a Arte e a cultura nos Institutos Federais, já que, em sua essência, os institutos propõem um trabalho coletivo, de diversidade sociocultural e que convergem “[…] para fazer valer uma concepção de educação em sintonia com os valores universais do ser humano a valorização do ensino das artes” (PACHECO, 2015, p. 18).

Dentro desse cenário, apresentam-se a seguir as 4 dissertações e seus respectivos produtos educacionais defendidos no âmbito do ProfEPT do IFPR entre os anos de 2018 e 2021. Todas as pesquisas ocorreram no contexto da Educação Profissional Técnica de Nível Médio, seja na modalidade integrada (no qual o estudante cursa o ensino técnico de forma integrada ao ensino médio), seja na modalidade subsequente (curso pós-médio, ou seja, voltados para egressos do ensino médio).

4 Resultados

Os resultados estão divididos em 4 partes, sendo cada uma das partes dedicadas à apresentação dos objetivos de cada uma das dissertações, assim como de seus produtos educacionais.

4.1 Rearte: Oficina transformadora de resíduos sólidos em peças artísticas na modalidade da Educação Profissional e Tecnológica

Construídos como pré-requisitos para certificação no curso de Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica pertencente ao Programa de Pós-Graduação em Rede (ProfEPT) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná Campus Curitiba, a dissertação ReArte: Oficina Transformadora de Resíduos Sólidos em Peças Artísticas na Modalidade da Educação Profissional e Tecnológica, bem como o produto educacional, nomeado Oficina ReArte, consolidam uma experiência no campo das Artes Visuais desenvolvidos e aplicados pelo autor, egresso do referido programa, Bruno Amaral da Costa.

O trabalho teve por objetivo desenvolver e aplicar uma oficina de Artes Visuais aos discentes do curso técnico subsequente de Processos Fotográficos do IFPR Campus Curitiba, com a prerrogativa de transformar este processo em uma práxis. A dissertação trata de uma revisão bibliográfica alicerçada substancialmente em Paulo Freire (2016), principalmente no que diz respeito à Filosofia da Práxis. Segundo essa filosofia, uma prática educativa deveria unir dialeticamente reflexão e ação sobre o mundo com a finalidade de transformá-lo, tornando possível o “inédito viável” sonho da superação das contradições existentes na relação exploratória opressor-oprimidos. Para que essa superação se torne factível, faz-se necessário elucidar essa realidade exploratória que impede aos oprimidos a possibilidade de atingirem o estado de ser mais. Tal estado, definido pelo patrono da educação brasileira, diz respeito à possibilidade do sujeito, por meio da práxis, transformar a si mesmo e a sua realidade, podendo assim superar a relação opressora existente no tecido social, efetivando o estado de liberdade; tudo isso, em um processo contínuo (FREIRE, 2016).

No intuito de esmiuçar a realidade existente a fim de corroborar com os pressupostos da práxis freiriana, o início da argumentação se esmera em oferecer ponderações que provoquem reflexões diante as estruturas políticas e culturais alienantes oriundas da sociedade capitalista. As análises feitas sobre a influência do capital, alçadas na pesquisa, incidem principalmente sobre três campos: arte, trabalho e educação profissional. Costa (2019) defende a tese de que a lógica capitalista agiria depauperando, cada qual a sua maneira peculiar, as potencialidades tidas em cada um dos elementos da referida tríade, no que diz respeito aos seus reais potenciais para o engrandecimento holístico da sociedade humana.

O processo de cooptação ideológica surge como uma das ferramentas mais eficazes para a perpetuação do capital como sistema econômico vigente, no qual os detentores do poder capitalista continuamente reelaboram suas estratégias a fim de manter sua hegemonia (ENGELS; MARX, 2012). O modus operandi do capital agiria reificando as relações humanas, massificando os gostos e os gestos, destruindo as alteridades das personalidades e alçando a competitividade como meio de sobrevivência em derrocada da cooperação (BRANDÃO, 2006).

A arte imersa na realidade capitalista teria sofrido um processo paulatino de mercadização de suas produções materiais e imateriais. Desta forma, a arte que antes era usufruída, a fim de exaltar uma comunicação subliminar das emoções humanas, passou a ser consumida como mero formato de artigo de luxo, para obtenção de status; uma ruptura, parcial, de paradigma.

No que diz respeito à educação sobre os cuidados do capital, a pesquisa se referendou em Edgar Morin (2012). O pensador francês sinaliza para uma crise do pensamento, que jaz em constante progresso. Acarretada pela lógica tecnocrática, a crise tem na crescente fragmentação do conhecimento e sua condensação cada vez maior em hiperespecializações um de seus principais sintomas. Conhecimentos de cunho reflexivo estariam sendo renegados em favor de uma educação majoritariamente técnica, que, apesar de eficaz na sua investigação científica, ficaria empobrecida em refletir sobre si e sobre as conexões existentes entre os distintos campos do saber. Em face dos problemas de ordens mundiais cada vez mais emaranhados, devido à crescente globalização, cada vez que a crise do pensamento acarreta a impossibilidade de pensar no todo se agrava, menos apto se estará para compreendê-la; logo, mais distante de rompê-la.

Perante as relações de trabalho na sociedade regida pela ordem de acúmulo do capital, o proletariado foi paulatinamente sendo destituído da autonomia dos meios produtivos. Problema esse acarretado pelos históricos processos da divisão do trabalho, do avanço tecnológico substituindo mão de obra, na perda dos direitos trabalhistas em face da agenda neoliberal (ANTUNES, 2018). Entendendo a classe trabalhadora como a que “Compreende a totalidade dos assalariados, homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho e que são despossuídos dos meios de produção” (ANTUNES, 2018, p. 88).

Em derivação direta dos conceitos de omnilateralidade, que requerem a integração do trabalho, da ciência e da cultura nas propostas pedagógicas, sendo o trabalho a força humana atrelada à prática econômica vinculados aos meios de produção necessários a existência; entendendo por ciência os saberes angariados pelo processo de desenvolvimento produtivo; por cultura, os valores éticos e estéticos que orientam a sociedade (RAMOS, 2008a). Costa (2019) defende a arte como atividade de real necessidade da psique. Defende também que satisfazendo essa necessidade atávica de erigir formas, a humanidade recria sua realidade material em dialética ao seu universo subjetivo, fazendo visível o invisível das relações. Dessa forma, defende-se a criação artística como legítimo processo de trabalho pelo qual, homens e mulheres, constroem seus conhecimentos; logo, uma atividade ontológica (OSTROWER, 2014).

Sob a concepção omnilateral, o trabalho transcende a mera condição de atividade mantenedora econômica para ser concebida como tarefa que produz conhecimento, que forma cidadãos, concebe cultura e possibilita o arrojo das lutas históricas pelos direitos em mediação do conhecimento (RAMOS, 2008a).

Por fim, a educação profissional, destituída dos estratagemas neoliberais que a transformam em mero instrumento de adestramento estratégico para pontuais postos de trabalho, tende a se focar, muito mais que na apreensão de conteúdos técnicos, no desenvolvimento da capacidade em aprender a aprender. Competência essa passível quando a razão de ser do objeto de estudo faz a mediação do processo educativo, possibilitando o vislumbre do conteúdo ao meio de vida do estudante, desta forma, atrelando interesse afetivo ao processo; o que por si só supera a imposição do mesmo (FREIRE, 2016).

O produto educacional, como material educacional, pertencente à Área de Ensino, tem seu formato e sua aplicação entendidos como uma Oficina que, por sua vez, situa-se na grande área da Atividade de Extensão (BRASIL, 2017). O público-alvo para a aplicação da oficina artística foram os discentes da disciplina de Composição Artística do curso de Processos Fotográficos do Instituto Federal do Paraná Campus Curitiba. A aplicação se realizou durante o período letivo das aulas curriculares dos vinte e três (23) discentes. Dividida em duas aulas, uma por semana, no período matutino, das 08h05min às 11h40min, com intervalo das 9h40min às 10h00min, totalizando 3h20min/aula por dia, sendo que cada aula possui 50 minutos. Manteve o intuito de ser consoante com a linha de pesquisa que sustentou o escopo da dissertação. Desta forma, para contemplar os objetivos apresentados, a oficina foi dividida em três momentos, sendo os dois primeiros aplicados no primeiro dia e o último dia reservado inteiramente para o terceiro momento: Diálogo; Vivência das Técnicas; Construção (COSTA, 2019).

A etapa do Diálogo, foi desenvolvida em três momentos: I) Definições de arte: Uma breve provocação aos participantes para extrair os conceitos trazidos por eles sobre a arte. Após as explanações, foram oferecidas algumas das variadas definições levantadas pela pesquisa. II) A influência tecnocrática sobre a industrialização da cultura e os processos alienantes: O ponto principal objetivado nesse item é a mercadização dos bens culturais e a influência desse processo nos processos criativos. Reflexões sobre a relatividade de nossa autonomia na sociedade fundamentada no capital. III). Os processos criativos na perspectiva de uma ferramenta educativa atuando para a práxis no curso de Processos Fotográficos, por conseguinte, na educação profissional. Nesse ponto foi indagado se o os estudantes encaravam o caráter do curso como uma forma artística, como uma forma de ingressar ao mundo do trabalho, assim como as intenções de cada um quanto ao curso. Após as opiniões, foram expostas algumas das muitas contribuições da Arte para a educação, como: a estreita relação defendida pela pesquisa entre o fazer artístico aos pressupostos da práxis; como elemento que tende a humanizar espaços educativos que padecem de uma cultura tecnocrática que tende a enrijecer as relações humanas; a criatividade e seus processos (COSTA, 2019).

Segundo Costa (2019), a fase Vivência das técnicas foi destinada aos exercícios práticos, com a explicação e demonstração sendo feitas pelo facilitador. Com os oficineiros dispostos em semicírculo voltados para o facilitador, junto ao cavalete, onde os percursos foram construídos. Ao todo foram realizados oito exercícios alternando materiais como grafite, carvão, isogravura2, materiais descartados e tinta a óleo.

A segunda aula foi destinada a elaboração e construção da peça, ocasião derradeira da práxis artística. Toda liberdade de escolha foi dada aos oficineiros perante a escolha do material e da forma de sua construção, inclusive a liberdade de nada fazer. A última tarefa proposta aos participantes foi a redação de um texto a ser construído de forma livre e entregue posteriormente. Neste texto, houve o convite para que os integrantes da oficina relatassem o que vivenciaram durante o período em que o processo de criação se desenvolveu. Os conteúdos dos textos junto às obras realizadas fizeram parte da análise sobre os resultados da pesquisa. Esta análise de conclusão foi feita por meio de um diário de bordo. Neste diário, o autor se utiliza da primeira pessoa para narrar os acontecimentos que preencheram a aplicação do produto educacional. Emaranhada em meio à narração, o autor realiza a avaliação dos objetivos alçados pela pesquisa por meio da avaliação dos comportamentos dos estudantes, das produções por eles feitas e da análise dos textos redigidos pelos participantes com as sensações que tiveram durante a oficina (COSTA, 2019).

4.2 A formação, o livro didático e o Cinema Novo: uma proposta de guia instrucional para o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha

A dissertação A Formação, o Livro Didático e o Cinema Novo: uma proposta de guia instrucional para o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, de Nilson dos Santos Morais, e o produto educacional: Guia para projeção do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol em espaços formais e não formais de educação, foram defendidos no dia 31 de agosto de 2020.

No ano de 2014, foi promulgada a Lei n.º 13.006 (BRASIL, 2014), que acrescentou o § 8º no artigo 26 da LDB n.º 9.394 (BRASIL, 1996). Segundo o § 8º, “a exibição de filmes de produção nacional constituirá componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 horas mensais" (BRASIL, 2014). Partindo dessa justificativa, o autor apresentou a seguinte problemática: “De que maneira o Cinema Novo pode contribuir para aplicação da Lei n.º 13.006/2014 no Instituto Federal do Paraná, Campus Curitiba?” (MORAIS, 2020, p. 17). O objetivo geral da pesquisa foi:

Desenvolver um estudo sobre o Cinema Novo e a formação política, cultural e artística do cineasta Glauber Rocha (1960 – 1970), e formular uma proposta de guia instrucional para utilização do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de modo a cumprir e reforçar a formação de docentes e estudantes no âmbito do Instituto Federal do Paraná, Campus Curitiba (MORAIS, 2020, p. 18).

Já como objetivos específicos, Morais (2020, p. 18) listou:

Estudar as principais referências culturais, políticas e artísticas do cineasta Glauber Rocha no período de 1960 e 1970; Verificar de que maneira o cinema nacional brasileiro aparece nas páginas dos livros didáticos - PNLD-2018 - selecionados pelo Instituto Federal do Paraná, Campus Curitiba; Identificar as percepções dos professores do IFPR, Campus Curitiba quanto à utilização de filmes em sala de aula e conhecimento sobre o Cinema Novo; Propor um guia instrucional para utilização do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, nos cursos técnicos do IFPR, Campus Curitiba.

No primeiro objetivo específico, Morais (2020) traz todo o contexto do Cinema Novo. O cinema é visto pelo autor como uma instância de reflexão crítica, das representações sociais, culturais e políticas. Neste sentido, Glauber Rocha desenvolve na crítica o didatismo no cinema. A opção pelo Cinema Novo passa pelo pensamento de “[…] Glauber Rocha, Roberto Schwarz, Paulo Emílio Sales Gomes, Marcelo Ridenti, Ismail Xavier e Renato Ortiz e outros intelectuais que viam no cinema uma forma de construir um projeto político e estético de nação” (MORAIS, 2020, p. 20).

Portanto, mesmo assumindo as limitadas contribuições do guia instrucional do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol para docentes e estudantes da Educação Profissional e Tecnológica, a pesquisa dialoga com uma concepção de arte e cultura como ferramenta da transformação social, e com as concepções de Educação integral do campo de intelectuais marxistas, buscando para além da sociedade capitalista uma educação integral do sujeito. (MORAIS; PEREIRA, 2021, p. 358).

No segundo objetivo específico, Morais (2020) faz a análise dos livros didáticos presentes no Programa Nacional do Livro Didático do ano de 2018, no qual revela dados intrigantes, já que 54% de filmes indicados nos três volumes dos livros didáticos de Língua Portuguesa e Literatura são de produção norte-americana. Na categoria indicação de filmes por nacionalidade, apenas 34% são provenientes do Brasil.

Em relação ao terceiro objetivo específico, o autor enviou um questionário para os 211 docentes do IFPR Campus Curitiba, obtendo 53 respostas. De acordo com Morais (2020, p. 42):

O questionário abordou grau de escolaridade, área de atuação profissional, área de conhecimento e/ou eixo tecnológico, grau de conhecimento sobre a publicação da Lei 13.006/2014, a percepção dos docentes sobre a relação do filme de produção nacional e a atividade pedagógica em sala de aula, o conhecimento dos docentes sobre o Cinema Novo e a atualização de filmes de cinema nacional em sala de aula.

Em relação às respostas evidenciadas, Morais (2020) verificou que 70% dos professores conheciam a Lei n.º 13.006 (BRASIL, 2014). Dos participantes do estudo, 94,33% responderam positivamente em relação à aplicação de filmes de produção nacional em sala de aula, apesar de muitos alegarem conhecimento parcial da produção do cinema brasileiro. No mais, 60,38% dos docentes responderam que já utilizam filmes para auxiliar na explicação de um determinado conteúdo, enquanto 18,87% usam para formação de público em cinema nacional. Do total, 83,02% dos participantes demonstraram interesse parcial em exibir os filmes pertencentes ao Cinema Novo.

Como último objetivo específico surge o produto educacional, caracterizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) como guia instrucional (BRASIL, 2017). O público-alvo são prioritariamente docentes e técnicos do IFPR, além dos que objetivam formação de público em cinema nacional. O guia, segundo Morais (2020), é um convite para assistir e debater o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. Neste sentido, o autor enfatiza que o guia não deve substituir o filme, pois assim perderia seu valor, já que o grande objetivo do guia é a formação de público em cinema nacional: “O guia instrucional apresenta algumas categorias teóricas, como a música, a fome, a seca, o fenômeno religioso, a alienação, a violência, o papel da mulher, o poder local, a justiça, a morte com redenção e a reforma agrária. Tais categorias são discutidas na linguagem.” (MORAIS, 2020, p. 44).

A avaliação do guia instrucional foi desenvolvida por meio de um questionário com 4 questões. O questionário foi enviado para os 53 docentes que já haviam participado da primeira fase da pesquisa. Na segunda etapa, foram obtidas 13 respostas, das quais 3 foram descartadas por estarem em desacordo com os critérios da pesquisa. A avaliação demonstrou a percepção docente sobre o guia do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol e como ele contribui para a formação cultural e social. Dos respondentes, 77% concordaram totalmente com o guia. A partir dos resultados, inferiu-se que o guia instrucional é um instrumento com potencial para atividades formativas de docentes e estudantes no IFPR Campus Curitiba (MORAIS, 2020).

4.3 Como se formam artistas? Uma webcartografia para a profissionalização em Teatro na Educação Profissional e Tecnológica

A consolidação da formação profissional em Arte e, neste caso, em Teatro, é o que se entende da Arte como um trabalho e um campo profissional que tem a condição humana como matéria-prima e ferramenta de trabalho. Pensar o Teatro na Educação Profissional e Tecnológica é adentrar em um caminho desconhecido, no qual existe uma dificuldade de encontrar referências específicas que relacionem a formação técnica com a formação de artistas. Sendo assim, a pesquisa de Santos (2021) se torna relevante, além de instigar futuros pesquisadores sobre a temática. Por outro lado, o trabalho oferta uma ferramenta para a melhoria das relações de ensino e a organização do processo formativo do Teatro na EPT. Com isso, o problema da pesquisa absorveu a principal dificuldade, que foi a falta de acesso a informações relevantes sobre o processo de formação profissional técnica do Teatro. O problema desenvolvido foi: como contribuir com a divulgação e discussão de uma formação integral sensível e criativa na construção profissional dos artistas de Teatro na Educação Profissional e Tecnológica? Os objetivos foram delineados no sentido de compreender essa relação entre a formação profissional, o saber sensível e o trabalho em Arte com o mapeamento de percursos individuais dos egressos de cursos técnicos de Teatro do estado do Paraná, assim como compreender os processos coletivos relacionados às regulamentações profissionais e educativas para o Teatro na Educação Profissional e Tecnológica (SANTOS, 2021).

O método de pesquisa utilizado foi o da cartografia, organizado por Kastrup e Passos (2013) e Passos, Kastrup e Escóssia (2015), a partir dos conceitos de rizoma de Deleuze e Guattari (2011). Para desenvolver o produto educacional, utilizou-se o conceito de webcartografia desenvolvido por Lima (2014), a partir do método dos autores mencionados anteriormente, que consideram que, para iniciar a construção de uma cartografia online, deve-se haver a compreensão de que os acontecimentos são costurados considerando o próprio processo de pesquisa como uma intervenção, sendo um processo ativo e aberto às transformações para a construção de soluções ancoradas no real. E como uma etapa para esse processo, foi desenvolvido com 6 egressos dos cursos técnicos de Teatro do estado do Paraná, uma oficina no formato de um encontro online coletivo para estabelecer as bases das cartografias afetadas pelo processo formativo profissional em Teatro. Com isso, o processo de pesquisa na totalidade se tornou uma webcartografia configurando como produto educacional: "Cartografias Afetadas"3, como uma plataforma multimídia reunindo buscas e descobertas da pesquisa para traçar as primeiras rotas da formação do artista de Teatro no contexto da EPT (SANTOS, 2021).

Ser artista no Teatro implica em trabalhar o corpo para aprender a realizar específicas ações. Aprender gestos, externalizar as ações do corpo que signifiquem emoções ou situações, em uma experiência dialógica com outros corpos e com o ambiente tendo plena consciência das ações e dos signos atribuídos a elas. São neles (corpo e experiência no mundo) que nascem as criações, a criatividade para transformar a natureza por meio do trabalho. A teoria pelo processo de apreensão dos signos e a prática ligada a uma ação do corpo no mundo material, corresponde com a ação que o homem faz perante a natureza, na qual Marx entende este processo como lugar do trabalho, e é a partir disto que ocorre o intercâmbio do homem com a natureza como fonte natural da realização do ser social a partir de uma perspectiva omnilateral, em direção a uma emancipação para a construção de um ser múltiplo. O desenvolvimento do Teatro entra nesse amplo conceito de trabalho, como uma forma de modificar a natureza, entendida não apenas como um conceito de ambiente, mas abrangendo a própria natureza humana (SANTOS, 2021).

As camadas de conflito do trabalho artístico fazem com que esse corpo se entenda como um trabalhador, enfrentando uma falta de separação e demarcação das fronteiras entre vida e trabalho, que acarreta também na forma de entendimento dessa identidade de trabalhador para os artistas, confundindo-se como parte da construção da própria percepção como indivíduo. Sendo assim, na busca de compreender esse lugar de trabalhador na visão dos próprios artistas, Santos (2021) realizou 2 caminhos: uma oficina intitulada Como se fazem artistas? Cartografias afetadas pelo corpo-artista, que contou com a participação de 6 egressos e ocorreu por meio do diálogo e da construção coletiva de uma cartografia de diferentes percursos no Teatro, que possibilitaram a concretização da formação profissional e suas principais dificuldades em conseguir se sustentar e exercer, de fato, a profissão. A oficina ocorreu nos dias 24/03 e 26/03 de 2021, com 3 participantes em cada dia. A maior parte dos egressos era do curso técnico em Teatro do Colégio Estadual do Paraná.

O outro caminho, e que indica um devir4, foi a construção de uma plataforma intitulada Cartografias Afetadas. Inicialmente, construiu-se um protótipo para a avaliação dos participantes da oficina, para analisar a viabilidade da proposta. A avaliação foi positiva, pois, além do site, os participantes sugeriram a construção de perfis em rede social para uma maior aproximação da temática com os possíveis públicos-alvo. Os dois caminhos se configuraram como parte de um mesmo processo e pensar em um produto educacional que relaciona o Teatro com as mídias digitais. Foi uma forma de aproximação, que se tornou inevitável após o contexto da pandemia, mas o ponto principal, que norteou a escolha de um produto digital, foi a dificuldade em encontrar as mínimas informações sobre o ensino técnico de Teatro e as questões de emprego após o curso. Transformar a principal dificuldade do processo de investigação científica em uma solução palpável para facilitar a circulação da informação foi um caminho natural nesta pesquisa (SANTOS, 2021).

4.4 Educação sonora na Educação Profissional e Tecnológica: prática criativa no ensino médio integrado

No contexto do ensino de Música, Daniel Silva Rodrigues desenvolveu a dissertação e o produto educacional Educação Sonora na Educação Profissional e Tecnológica: Prática Criativa no Ensino Médio Integrado.

A temática desse trabalho teve como foco a criação musical no Ensino Médio Integrado (EMI), articulada com 3 preceitos: a dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM) para o ensino de Música na disciplina de Arte; a dos objetivos pretendidos pela Educação Musical na Educação Básica, bem como com a perspectiva filosófico-educacional da Educação Profissional e Tecnológica (EPT), valorizando uma formação integral, não condicionada aos interesses do mercado (RODRIGUES, 2021).

O autor base da proposta pedagógica é Raymond Murray Schafer, compositor e educador musical canadense. Usando a Educação Sonora, Schafer defende uma prática musical criativa por meio de um processo de escuta ativa e reflexão crítica sonora do espaço, condizente aos interesses tanto da EPT, pois dialogam com a ideia de formação integral, assim como da Educação Básica, ao ser compreendido como uma pedagogia musicalizadora. Porém, os PCNEM não incluem, das práticas Schaferianas, a criação musical, sendo sua abordagem restrita ao campo da apreciação. Portanto, a pesquisa valoriza o aspecto criativo da pedagogia Schaferiana e sua inclusão no âmbito da EPT (RODRIGUES, 2021).

Nesta perspectiva, o problema levantado por Rodrigues (2021, p. 24) foi: “[…] Tendo como fundamento a formação integral do indivíduo, de que maneira a proposta e postura de Murray Schafer poderia contribuir para valorização dos conhecimentos artístico-musicais na Educação Profissional e Tecnológica?”

Os objetivos estabelecidos foram:

O trabalho desenvolvido tem como objetivo geral verificar de que maneira a proposta e a postura de Murray Schafer poderia contribuir para valorização dos conhecimentos artístico-musicais na Educação Profissional e Tecnológica. Busca também, por meio dos objetivos específicos: promover a prática de criação musical na Educação Profissional e Tecnológica, possibilitando aos estudantes o desenvolvimento de sua sensibilidade, expressividade e senso crítico musical; mostrar a relevância dos processos criativos musicais, advindos da importância da linguagem artística, fortalecendo a dimensão da formação plena; investigar a proposta de Murray Schafer e empreendê-la como alternativa de prática artística musical no Ensino Médio Integrado, respondendo a perspectiva da formação humana integral, desvinculada dos interesses do mercado; elaborar uma sequência didática para o ensino de Prática de Criação Musical Schaferiana na Educação Profissional e Tecnológica, colaborando com a formação omnilateral do estudante, corroborando, também, com a atuação dos professores de Artes do Ensino Médio Integrado. (RODRIGUES, 2021, p. 26).

Para a fundamentação epistemológica, amparou-se em Ramos (2008b), que defende a escola como direito de todos os cidadãos e local para apropriação dos conhecimentos produzidos, acesso aà toda gama de cultura indistintamente da classe social do indivíduo, revogando o caráter intelectual à classe dominante e o manual aos menos favorecidos. Também se destaca a concepção de escola unitária, sua imprescindível atuação na aquisição cultural, promoção de condições para o trabalho, produção de riqueza e existência da sociedade. A essa escola é atribuída também o caráter politécnico que concilia a formação básica com a profissional.

Araújo e Frigotto (2015) defendem um ensino integrado vinculado à formação integral. Neste sentido, esta integração perpassa a formação básica de crianças, jovens e adultos, prosseguindo para a profissional (incluindo o Ensino Médio Integrado). Trata-se, portanto, de um amplo projeto político-pedagógico visando à transformação social por meio de medidas integradoras e emancipatórias.

A Arte na educação deve ser compreendida para além do seu aspecto lúdico ou de embelezamento (ornamentação). Para Faraco (2002), apenas estas condições são limitantes. Esse autor qualifica a Arte como síntese superior do trabalho humano, colaborando com os indivíduos na superação de sua utilização imediata ou meios de sobrevivência.

A função musicalizadora da educação musical é defendida como base da prática pedagógica do ensino básico (PENNA, 2018) e converge na pesquisa de Rodrigues (2021) com a abordagem educativa de Murray Schafer. O educador musical canadense pertence à Segunda Geração de Métodos Ativos de Educação Musical, na qual figuram compositores e educadores musicais contemporâneos (FONTERRADA, 2008). Salienta-se, também, a característica integradora da pedagogia educacional contemporânea em que não opõe a pedagogia tradicional à de vanguarda, estabelecendo um espaço de múltiplas possibilidades (GAINZA, 1988). Nessa perspectiva, Rodrigues (2021), tendo como referência a sistemática de Tendências em Educação Musical de Fernandes (2013), advoga pela interação harmoniosa entre a Tendência Contextualista (que privilegiava em primeiro plano a formação global do indivíduo), hoje mais difundida pela afinidade com a Pedagogia Histórico-Crítica.

O produto educacional Prática Criativa Schaferiana no Ensino Médio Integrado é uma Sequência Didática (SD) de um bimestre, sugestiva para adoção no componente de Música da disciplina de Arte no EMI. A aplicação do produto Educacional se deu pela avaliação de quatro professores de Arte do IFPR Campus Curitiba. A SD foi dividida em três partes com 8 aulas: a primeira parte se refere à apresentação da vida e obra do compositor; a segunda parte contempla exercícios práticos, predominantemente da biografia do educador canadense, promovendo a limpeza de ouvidos, escuta ativa e apreciação da Paisagem Sonora. A terceira parte se destina à prática sobre a Paisagem Sonora do espaço escolar (RODRIGUES, 2021).

A coleta de dados, junto aos professores, foi por meio de um questionário de 15 perguntas objetivas e dissertativas, nas quais foram avaliadas a correspondência da SD com a proposta de Educação Sonora do educador canadense, a viabilidade de aplicação no espaço do IFPR Campus Curitiba, o cumprimento dos objetivos propostos, a escolha dos exercícios, a utilização de recursos tecnológicos (dispositivos móveis e software de edição de áudio), e a proposta de avaliação por parte do docente-aplicador da SD. Também responderam sobre suas respectivas formações, emprego da proposta de Murray Schafer em suas práticas docentes, bem como o conforto em relação à utilização do software de áudio (RODRIGUES, 2021).

Dentre as contribuições dos professores avaliadores da SD, destaca-se a contribuição quanto à necessidade de mensurar os instrumentos avaliativos na SD, assim como a devolutiva positiva da proposição do produto:

Por fim, registramos que para estes educadores o material apresentado pode ampliar suas práticas, enriquecendo sua atuação, seja pela utilização de novos exercícios, propostas, recursos e ideais dispostas no Produto Educacional. Ficou evidente a aceitação da Sequência Didática pelos professores de Artes do IFPR Campus Curitiba, sua compatibilidade com a sala de aula do Ensino Médio Integrado indicando possibilidades diversas de aplicação para além da linguagem musical, mas colaborando também com o Teatro (RODRIGUES, 2021, p. 144).

A pesquisa desenvolvida, conforme as considerações finais do autor, propõe uma formação para além do fazer musical, tornando conhecido auditivamente o espaço em que os indivíduos estão inseridos, promovendo o senso crítico autônomo e colaborando com a formação integral dos educandos.

5 Discussão

Antes de analisar o referencial teórico e epistemológico utilizado pelos autores das dissertações, vale destacar que o ProfEPT, epistemologicamente, defende o trabalho como princípio educativo. De acordo com Ciavatta (2009, p. 1), amparada pelo pensamento de Marx:

Princípios são leis ou fundamentos gerais de uma determinada racionalidade, dos quais derivam leis ou questões mais específicas. No caso do trabalho como princípio educativo, a afirmação remete à relação entre o trabalho e a educação, no qual se afirma o caráter formativo do trabalho e da educação como ação humanizadora por meio do desenvolvimento de todas as potencialidades do ser humano. Seu campo específico de discussão teórica é o materialismo histórico em que se parte do trabalho como produtor dos meios de vida, tanto nos aspectos materiais como culturais, ou seja, de conhecimento, de criação material e simbólica, e de formas de sociabilidade.

Já em relação do ponto de vista político-pedagógico, a autora destaca que:

[…] tanto a conceituação do trabalho como princípio educativo quanto a defesa da educação politécnica e da formação integrada, formulada por educadores brasileiros, pesquisadores da área trabalho e educação, têm por base algumas fontes básicas teórico-conceituais. Em um primeiro momento, a vertente marxista e gramsciana (Marx, op. cit.; Gramsci, 1981; Manacorda, 1975 e 1990; Frigotto, 1985; Kuenzer, 1988; Machado, 1989; Saviani, 1989 e 1994; Nosella, 1992; Rodrigues, 1998), em um segundo, sem abrir mão da vertente gramsciana, a ontologia do ser social desenvolvida por Lukács (1978 e 1979; Konder, 1980; Chasin,1982; Ciavatta Franco, 1990; Antunes, 2000; Lessa, 1996) (CIAVATTA, 2009, p. 3).

Diante desse referencial epistemológico utilizado no ProfEPT, verificou-se um alinhamento com as 4 dissertações avaliadas. Na dissertação Rearte: oficina transformadora de resíduos sólidos em peças artísticas na modalidade da Educação Profissional e Tecnológica, defendida por Costa (2019), Engels e Marx (2012) surgem como referencial epistemológico, subsidiando uma discussão de uma predominante visão mercadológica da Arte. Costa (2019) traz também autores como Antunes (2018), Ramos (2008a; 2008b), Freire (2016), Morin (2012) e Ostrower (2014). Isso também ocorre na dissertação A Formação, o Livro Didático e o Cinema Novo: uma proposta de guia instrucional para o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, de autoria de Morais (2020), que destaca a impossibilidade de analisar a realidade, quando o modelo econômico de produção capitalista é desconsiderado: “E neste sentido, o método de análise tem como base a economia política. A apresentação dos conceitos, como a dialética marxista, funda-se na necessidade de demarcar as categorias de análise: a práxis, a totalidade, a contradição e a mediação” (MORAIS, 2020, p. 35).

Da mesma forma, a concepção marxista embasa a dissertação Como se Formam Artistas? Uma Webcartografia para a Profissionalização em Teatro na Educação Profissional e Tecnológica de autoria de Santos (2021, p. 23), que relata que:

A teoria pelo processo de apreensão dos signos e a prática ligada a uma ação do corpo no mundo material, corresponde com a ação que o homem faz perante a natureza, onde Marx entende este processo como lugar do trabalho, e é a partir disto que ocorre o ‘intercâmbio do homem com a natureza’ como fonte natural da realização do ser social a partir de uma perspectiva omnilateral, em direção a uma emancipação para a construção de um ser.

E, na dissertação Educação Sonora na Educação Profissional e Tecnológica: Prática Criativa no Ensino Médio Integrado, defendida por Rodrigues (2021), tem-se como ponto de partida as raízes gramscianas, sobre a Escola Unitária, Omnilateral e Politécnica. Para o autor, parafraseando Marise Ramos, a Escola Unitária “[…] prevê o princípio da educação como direito de todos, na qual haja uma apropriação dos conhecimentos produzidos pela humanidade, acesso à cultura, que não se resuma ao trabalho manual, aos menos favorecidos em antítese ao conhecimento intelectual da classe regente” (RODRIGUES, 2021, p. 43).

Constatou-se que há nos 4 trabalhos um alinhamento epistemológico e que é convergente com as bases conceituais do ProfEPT. Neste sentido, entende-se que as dissertações contribuem de forma relevante para o campo da Educação Profissional e Tecnológica, amparadas em suas bases conceituais e ancoradas no trabalho como princípio educativo.

A segunda categoria a ser aqui analisada diz respeito ao público-alvo ao qual cada produto educacional se direciona. Dois produtos educacionais foram voltados ao público do Ensino Médio Integrado, ou seja, são produtos criados para a formação geral, sendo uma possibilidade para ser trabalhada na disciplina de Arte, como é o caso da Prática Criativa Schaferiana no Ensino Médio Integrado, de autoria de Rodrigues (2021), que apresentou como produto educacional uma sequência didática de um bimestre, voltada para a disciplina de Arte, com viés no educador musical Murray Schafer, principal referência do trabalho. Já no produto Guia para projeção do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol em espaços formais e não formais de educação, de autoria de Morais (2020), há uma proposta de um guia como recurso didático para o filme de Deus e o Diabo na Terra do Sol, dirigido pelo diretor Glauber Rocha. O guia não é voltado diretamente à disciplina de Arte, e é justificado na Lei n.º 13.006 (BRASIL, 2014), que prevê a carga horária mínima de 2 horas mensais destinada a exibição de filmes de produção nacional. A atividade é apresentada como parte de um componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola, o que faz com que Morais (2020) defenda a ideia de que o guia não deva substituir a apreciação completa do filme, favorecendo a prática proposta como uma possibilidade de atividade extracurricular e de caráter interdisciplinar. O guia, neste sentido, poderia ser amplamente utilizado nas aulas de Arte, História, Sociologia, Português, após a projeção da película, promovendo um trabalho interdisciplinar.

Dois produtos educacionais foram voltados para a modalidade subsequente, ou seja, direcionado a estudantes de áreas técnicas. A Oficina ReArte, defendida por Costa (2019), foi voltado ao curso técnico de Processos Fotográficos, pois se tratou de um trabalho focado nas Artes Visuais, no formato de uma oficina de extensão, que, inspirada nos ideais de criatividade, objetivou um exercício de liberdade no qual os estudantes poderiam escolher dentre determinadas técnicas de pintura e/ou desenho, previamente apresentadas, aquela que julgassem ser a mais interessante para vivenciar. Já o produto educacional Cartografias Afetadas, defendido por Santos (2021), foi voltado para egressos dos cursos técnicos de Teatro. Trata-se de uma oficina, que, por meio de diálogo e da construção coletiva de uma cartografia de diferentes percursos no Teatro, possibilitou a concretização da formação profissional e suas principais dificuldades em conseguir se sustentar e exercer, de fato, a profissão.

Torna-se importante destacar que há espaço tanto para o desenvolvimento de produtos que abranjam tanto as áreas técnicas quanto para aqueles voltados a uma formação geral de nível integrado. Com isso, afirma-se aqui que, mesmo que um produto seja formulado para trabalhar em um determinado curso técnico, isso não significa um impacto menor. Entende-se que há diferentes espaços e diferentes possibilidades para os produtos e que este ainda é um campo incipiente no Brasil.

No que diz respeito à possibilidade de replicação dos produtos educacionais apresentados pelos 4 autores, constataram-se diferentes realidades que, evidentemente, variaram de acordo com a proposta e o público-alvo priorizado nos produtos educacionais de cada trabalho aqui pesquisado.

No caso do produto educacional intitulado Oficina ReArte, defendido por Costa (2019), nota-se que para a replicação do produto educacional, é necessário um domínio das técnicas por parte do professor aplicador. Na segunda etapa da Oficina, intitulada Vivência das Atividades, há diversas demonstrações de uso de diferentes técnicas de Artes Visuais. Sendo assim, há a necessidade de que o professor (ou oficineiro) tenha domínio de tais técnicas e materiais. Além disso, o domínio do professor será extremamente necessário no processo de acompanhamento e orientação de todo o processo de criação. No entanto, a possibilidade de replicação do produto é viável não apenas para o curso de Processos Fotográficos, mas também para os vários espaços de educação formal e não formal.

O produto educacional intitulado Cartografias Afetadas, defendido por Santos (2021), é o trabalho mais experimental do grupo, pois não é voltado para uma disciplina específica ou mesmo para o curso técnico de Teatro, mas sim direcionado aos egressos dos cursos técnicos de Teatro do Paraná. Já por considerar os egressos como público-alvo da proposta, nota-se, a princípio, uma limitação na replicação do produto em ambientes formais de ensino, porém, defende-se aqui que o produto é passível de ser reestruturado e adaptado para a realidade do professor que fará a replicação. Além disso, entende-se que a percepção e o mapeamento da trajetória profissional a partir dos egressos podem ser de grande contribuição para as demais áreas do conhecimento, o que torna o produto apresentado como um excelente exemplo de como pensar nas questões relacionadas à profissionalização em nível técnico.

No caso do produto educacional Prática Criativa Schaferiana no Ensino Médio Integrado, defendido porRodrigues (2021), há como proposta uma sequência didática voltada para o Ensino Médio Integrado, utilizando como referência principal Murray Schafer, um educador musical que nega a educação formal tradicional de Música. Ligado ao movimento contemporâneo e às experimentações musicais, Schafer propõe uma educação sonora, pois se preocupa muito mais em educar os ouvidos do que ensinar Música de forma tradicional. Por essas características específicas, a sequência didática se adapta para as aulas de Arte voltadas para o Ensino Médio Integrado. A sequência é possível de ser utilizada tanto de forma integral (com duração de um bimestre) como parcial. Destaca-se que, apesar de serem atividades voltadas para a educação musical, acabam por serem possíveis de serem aplicadas por professores da área de Artes, mesmo que sejam especialistas em outras linguagens. Isso é verificado no próprio trabalho que foi submetido para a avaliação, tanto de professores especialistas em educação musical como também de professores com formação em outras áreas artísticas, sendo considerado como uma possibilidade real de aplicação nas aulas de Arte.

No que diz respeito ao produto educacional: Guia para projeção do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol em espaços formais e não formais de educação, defendido por Morais (2020), destaca-se um produto com maior flexibilidade de aplicação, uma vez que se trata de um guia de apoio para um filme. Como o guia não busca substituir o filme, torna-se um excelente recurso educacional, desde que a escola dedique um espaço e disponibilidade de tempo para a projeção prévia da película.

Destaca-se que todos os produtos educacionais apresentados possuem um grande potencial de replicação na Educação Profissional e Tecnológica. Defende-se, aqui, a ideia de que os produtos possam ser replicados tanto em sua integralidade, mas também sejam consideradas aplicações parciais, em prol de uma construção e de um método a ser apropriado pelo professor.

6 Considerações finais

Dentro do contexto educacional da Educação Profissional e Tecnológica, a Arte tem desenvolvido um papel central ao privilegiar o aspecto humanitário da sociedade, tornando-se, assim, uma poderosa aliada em prol de uma formação integral do indivíduo.

A partir do estudo de caso e da problemática apresentada neste artigo, pode-se verificar que as pesquisas defendidas no âmbito do ProfEPT do IFPR apresentam densas produções para os pesquisadores e os professores da Educação Profissional e Tecnológica. Trata-se de pesquisas com amplo embasamento teórico que proporcionaram produtos educacionais de livre acesso, disponibilizados na plataforma eduCAPES5. Como resultados, notou-se, nas dissertações, um alinhamento epistemológico convergente com as bases conceituais do ProfEPT, ancoradas no trabalho como princípio educativo. No que diz respeito aos produtos educacionais, constataram-se diferentes realidades, porém concluiu-se que ambos possuem um grande potencial de replicação na Educação Profissional e Tecnológica.

Alguns resultados secundários puderam ser verificados, como o fato de que todas as pesquisas se vincularam à linha de pesquisa de Práticas Educativas da Educação Profissional e Tecnológica, não havendo até o momento nenhuma pesquisa do campo da Arte na linha de Organização e Memórias de Espaços Pedagógicos na Educação Profissional e Tecnológica. Outro dado foi a ausência da área de Dança entre as linguagens artísticas, o que, de certa forma, mostra uma carência maior da Dança em relação às outras linguagens artísticas abordadas no campo da Arte. No próprio corpo docente do IFPR, que possui 26 campi espalhados pelo estado do Paraná, não há nenhum professor de Arte atuando na área de Dança, caso que reflete a realidade de outras regiões do país.

Atualmente, há mais pesquisas em andamento voltadas para o campo da Arte no ProfEPT do IFPR, propiciadas devido ao fato do corpo docente ter 3 professores permanentes com formação na área. Sendo assim, o ProfEPT do IFPR tem a garantia de continuar a desenvolver pesquisas e produtos educacionais voltados para o ensino da Arte na Educação Profissional e Tecnológica.

Há um grande campo a ser mapeado no que diz respeito às pesquisas, enfatizando as diferentes linguagens artísticas na Educação Profissional e Tecnológica, tanto em relação as produções desenvolvidas em outras instituições associadas do ProfEPT como das produções a respeito de cada uma das linguagens artísticas, seja no âmbito regional, seja no nacional.

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Notas

1 Os PCN são diretrizes elaboradas pelo Governo Federal para cada disciplina/ área ou nível de ensino da educação básica com o objetivo de auxiliar os educadores na reflexão e discussão de suas práticas pedagógicas.
2 Isogravura é uma forma de produzir uma gravura utilizando o isopor, ou seja, é uma forma de produzir um carimbo em uma placa de isopor (matriz), permitindo a reprodução de várias cópias da obra.
4 Devir é uma palavra proveniente do latim devenire. Trata-se de um conceito filosófico que indica as mudanças pelas quais passam as coisas.
5 eduCAPES é um portal de produtos educacionais. Engloba em seu acervo milhares de objetos de aprendizagem (textos, livros didáticos, artigos de pesquisa, teses, dissertações, videoaulas, áudios, imagens, etc.), sendo todos de livre acesso.

Notas de autor

1 Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR) e Professor permanente do Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica em Rede Nacional (ProfEPT) pelo IFPR Campus Curitiba/PR - Brasil. E-mail: wilson.lemos@ifpr.edu.br.
2 Mestre em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) pelo Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR) Campus Curitiba. Professor da Prefeitura de Pontal do Paraná/PR - Brasil. E-mail: brunoamaraldacosta@gmail.com.
3 Mestre em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) pelo de Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR) Campus Curitiba/PR - Brasil. E-mail: raina.costa.santos@gmail.com.
4 Mestre em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) pelo de Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR) Campus Curitiba/PR - Brasil. E-mail: danielsr.musico@gmail.com.

Información adicional

COMO CITAR (ABNT): LEMOS JUNIOR, W. et al. Arte na Educação Profissional e Tecnológica: um panorama das dissertações e produtos educacionais defendidos no ProfEPT do IFPR. Vértices (Campos dos Goitacazes), v. 24, n. 2, p. 397-417, 2022. DOI: https://doi.org/10.19180/1809-2667.v24n22022p397-417. Disponível em: https://www.essentiaeditora.iff.edu.br/index.php/vertices/article/view/16981.

COMO CITAR (APA): Lemos Junior, W., Costa B. A., Santos, R. C., & Rodrigues, D. S. (2022). Arte na Educação Profissional e Tecnológica: um panorama das dissertações e produtos educacionais defendidos no ProfEPT do IFPR. Vértices (Campos dos Goitacazes), 24(2), 397-417. https://doi.org/10.19180/1809-2667.v24n22022p397-417.

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