Artigos Originais
Economia doméstica: origem, desenvolvimento e campo de atuação profissional
Home economics: origin, development and professional working field
Economia doméstica: origem, desenvolvimento e campo de atuação profissional
Vértices (Campos dos Goitacazes), vol. 8, núm. 1-3, pp. 77-87, 2006
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense
Resumo: A Economia Doméstica não é apenas um conjunto de conhecimentos de ordem prática, os quais as donas de casa devem possuir para executarem, empiricamente, as tarefas caseiras. O objetivo desse trabalho é discutir o ramo da Economia definido como Economia Doméstica, destacando-se sua origem, evolução, o campo de atuação do Economista Doméstico e suas perspectivas para o século XXI. Os dados apresentados revelam a necessidade do conhecimento científico e profissional em Economia Doméstica para a escola, família e sociedade. O estudo da Economia Doméstica é de grande importância porque os fenômenos que se verificam na sociedade são muito complexos, e para sua solução adequada é necessário o conhecimento de noções científicas especializadas.
Palavras-chave: Economia Doméstica, Conhecimento, Profissão.
Abstract: Home Economics is not only a set of practical knowledge housewives must possess to prepare food empirically, make and repair clothes, take care of their children and do domestic chores. The objective of this article is to discuss the area of Economics defined as Home Economics, focusing on its origin, evolution, the working field of its specialists and its prospects for the st century. Results show the need for scientific and professional knowledge of Home Economics in schools, families and society. The study of Home Economics is of great importance because both school and family are part of society and present very complex phenomena, therefore an adequate and efficient solution for those phenomena demand the knowledge of specialized scientific notions of Home Economics.
Keywords: Home Economics, Knowledge, Profession.
1 Introdução
Ao longo dos séculos XVIII e XXI a história da educação, em sua dimensão educativa, cria uma sociedade que educa cada um ao seu tempo: homens, mulheres, crianças, jovens e adultos (LOPES, 2001; GALVÃO, 2001). O campo científico tem uma importância muito grande no mundo social que os envolve dando contribuições para o progresso da ciência (BOURDIEU, 2004).
A educação, que se pretendia ser igual para os dois sexos, na realidade diferenciavase nos seus objetivos.“A intenção da educação era preparar o homem para as tarefas relacionadas à produção e à mulher para o serviço doméstico e o cuidado com marido e os filhos” (SAVIANI, 2004).
Assim surge a “[...] cadeira de Economia Doméstica que vem do grego Oikonomia que quer dizer “aquela que administra o lar”, com o intuito de atender aos anseios da mulher” (CAMARGO, 2000). A Economia Doméstica formalmente veio a existir em 1909 como resultado de mudanças sociais que tiveram lugar com o advento da revolução industrial. Era um campo de conhecimento referente às funções da família, buscando eficácia científica nas tarefas cotidianas da casa objetivando melhoria da qualidade de vida das famílias.
A Economia Doméstica lida com conhecimentos científicos teóricos-práticos que se relacionam ao que se concebe como esfera reprodutiva, aquela esfera onde se dá a reprodução social dos seres humanos, por meio da socialização, cuidados com higiene, saúde, habitação, alimentação.
Historicamente, a Economia Doméstica tem sido uma profissão cujos fenômenos de interesse são originados nas ciências naturais e sociais, seus profissionais são influenciados por conhecimentos das duas ciências e extraem conceitos das disciplinas de Química, Sociologia, Arte, Biologia, Filosofia, Antropologia, Física e Economia.
O estudo do desenvolvimento da Economia Doméstica remete-nos à história do pensamento econômico como área de pesquisa e de atuação profissional do economista. O artigo será estruturado partindo inicialmente dos fundamentos da Economia Doméstica, dos conceitos e teorias econômicas, chegando à sua origem tanto como ciência quanto como profissão, destacando o campo de atuação do profissional de Economia Doméstica, buscando assim conhecer e examinar se o campo do conhecimento e da formação profissional da Economia Doméstica acompanhava o cotidiano familiar no que diz respeito às necessidades de alimentação, habitação, higiene e saúde. Por fim apresentarei as considerações finais que achar necessárias.
2 Fundamentos da economia doméstica
O funcionamento de uma economia está presente em todos os instantes na vida dos seres humanos: desde as grandes multinacionais, como os pequenos agentes econômicos. Como exemplo, pode-se citar o provedor de uma família ou a “dona de casa” por participarem com o trabalho para adquirir recursos para o sustento da família ou por meio da administração destes recursos. A partir deste prisma, procurase entender o real conceito de economia, a origem do termo, a sua vinculação com as outras ciências, e todo o processo que envolve os seus diversos fragmentos. Assim sendo, verifica-se que a Economia é uma ciência de fundamental importância para a humanidade, ao se considerar a sua interligação com todos os elementos de um sistema geral, que envolve a política e a economia.
Ao se estudar em detalhes a Economia Universal, ou simplesmente Economia, parte-se das origens reais do conceito, ou melhor, dos primeiros filósofos que investigaram a alocação dos recursos da época, o nível de pobreza em que viviam algumas pessoas e as riquezas possuídas por alguns outros, por vezes obtidas sem nenhum esforço. Normalmente, diz-se que o termo Economia provém de Xenofonte (XENOFONTE apud GOMES, 1977), quando mostra em suas anotações, que economia designa ciência das leis da Economia Doméstica. O termo economia vem do grego oikos que quer dizer casa; e, nomos significa lei. Numa conjugação dessas duas palavras, tem-se, desta forma, a lei que uma casa, ou nação, ou estado adota na utilização dos recursos da sociedade.
Assim, segundo Malanos a Economia “[...] é a ciência que examina as instituições relacionadas e os fenômenos emanados dos processos sociais de produção, distribuição e, principalmente, a distribuição dos bens escassos para a satisfação dos desejos” (MALANOS, 1967).
Noutra visão, mais administrativa, o professor Barre, mostra com muita sapiência que “A Economia é a ciência voltada para o estudo das formas assumidas pelo comportamento humano na disposição onerosa do mundo exterior em decorrência da tensão existente entre os desejos ilimitados e os meios limitados aos agentes da atividade econômica” (BARRE, 1963).
Neste contexto, chegamos à Economia Doméstica que surgiu em 1909 com o advento da revolução industrial e no momento em que as famílias mudaram para cidades e, assim, membros da família puderam trabalhar em fábricas e mudar o seu modo de vida.
De fato, durante este período de mudanças sociais, a taxa de divórcio disparou. Há muitas semelhanças entre as mudanças do século XIX e as mudanças observadas hoje. Mudanças sociais, suas causas e efeitos, tornaram-se uma área de interesse para estudantes e para a população em geral. A maior preocupação da sociedade era que o lar e as famílias estavam deteriorando-se.
Esta instituição era vista como provedora do cuidado, criação e formação necessários ao bem-estar das pessoas na sociedade. Muitas acreditaram que, se as famílias falissem, a sociedade poderia também falir, uma vez que lares e famílias foram, não muito distante, os provedores de tipos de habilidades e influências éticas. A responsabilidade por tais instituições, inevitavelmente, recaiu sobre as escolas. Entretanto, as escolas não pareciam ser capazes de remediar a situação. Assim, desde 1925, por dez anos consecutivos, pessoas de vários campos educacionais participaram de conferências para discutir a criação de uma nova profissão que eles chamaram Home Economics –Economia Doméstica. Os participantes dessa conferência acreditavam que a Economia Doméstica tinha um importante papel na sociedade. Em seu ponto de vista, os conferencistas dizem que a profissão poderia ajudar lares e famílias a desenvolver a ética e tornar o ser humano livre, eram participantes conscientes da melhoria da sociedade.
3 A origem e evolução da economia doméstica
A “cadeira de Economia Doméstica” surgira no panorama de ensino como“trabalhos manuais”. Colocada no currículo secundário pela Reforma Capanema, até então era vista como um Curso de Economia Doméstica, fazendo parte do ensino técnico-profissional, que fora regulamentado pelo Ministério de Agricultura, Indústria e Comércio em dezembro de 1909. A Superintendência da Educação Profissional e Doméstica-criada pelo Decreto n. 1604, de 13 de agosto de 1934, subordinada à Secretaria da Educação e Saúde Pública, com sede no Instituto Profissional Feminino da Capital de São Paulo – possuía um número relativamente alto de matrículas de alunas distribuídas por várias seções, porém, a de Economia Doméstica começou a funcionar somente em 1912 sendo logo esquecida. Reapareceu, em 1930, graças à reforma geral dos cursos profissionalizantes em São Paulo. A partir daí, uma série de entraves impediu uma boa imagem do Curso de Economia Doméstica, que só a consegue quando decretos do governo estadual paulista aplicam mudanças, em 1930, na legislação do ramo de ensino profissional.
O grande salto para valorizar a Educação Doméstica deu-se a partir do que consagrara o Código de Educação, em 1933, que levou o curso a se estender às escolas profissionais secundárias femininas com o intuito da formação das “futuras donas-de-casa”.
O Plano Nacional de Educação de 1937, do Ministério da Educação e Saúde, em 1934, previa a existência de um ensino doméstico reservado para meninas entre 12 e 18 anos. Tratava-se de um ensino feminino, contendo em um dos ciclos, o preparo das mulheres para a vida no lar e, em outro, a formação de professores pela Escola Normal Doméstica (COSTA, 1984). No tempo de Capanema, a partir da promulgação da Lei Orgânica do Ensino Secundário, em 1942, foi incluído o ensino de Economia Doméstica em todas as séries dos cursos ginasial, clássico e científico.
A Economia Doméstica pode ser entendida como uma Ciência e uma Arte cujo domínio envolve o cuidado da casa e da família (MARTINS, 1981). É ciência porque supõe conhecimento de nutrição racional, higiene da família e da casa, noções de administração e finanças do lar. Utiliza-se de muitos princípios básicos da Economia Geral, tais como, a divisão do trabalho e do consumo coletivo. Como arte inclui idéias artísticas, estéticas, como o gosto no decorar e aparelhar a casa e também a apresentação cuidadosa das mais simples tarefas da vida cotidiana.
Na antigüidade, a família se encarregava da confecção de sua própria roupa sendo que as atividades de fiar, tecer e tingir tecidos constituíam as funções mais importantes dentro de uma casa. Na Idade Média, o artesanato imperava e as pessoas produziam para o seu próprio consumo. Com o desenvolvimento do comércio e da indústria, a maior parte daquelas atividades, tipicamente caseiras, são hoje realizadas nas fábricas: a conservação de frutas e verduras, a confecção de roupas, a fabricação do pão, do sabão e de muitos outros produtos. Os serviços que são oferecidos em hotéis, restaurantes, salões de beleza, lavanderias etc..., contribuem para simplificar o trabalho de casa. O progresso da indústria de artefatos domésticos, da alimentação e vestuário, impuseram uma revisão de valores e contribuíram para o desenvolvimento das Ciências Domésticas.
A preocupação com a família, a solução racional de seus problemas e a preocupação com a educação do indivíduo para uma vida melhor, constituem o objetivo da Economia Doméstica. Outra de suas finalidades é o melhoramento das comunidades e, conseqüentemente, a evolução da sociedade. Em sentido amplo, as Ciências Domésticas abrangem o estudo das leis, princípios e idéias relacionadas com as condições físicas do homem e de seu habitat. De outro lado, estuda também a natureza do homem como ser social em relação aos fatos ecológicos e estéticos. Para atenuar os problemas econômicos e sociais que envolvem as famílias modernas e para ajudá-las a acompanhar o desenvolvimento, em todos os setores de conhecimento humano, surgiu a necessidade de se criarem escolas especializadas em Economia Doméstica.
Em nível universitário, a Economia Doméstica visa a educar, orientar, pesquisar e entender conhecimentos aplicáveis a uma vida mais saudável, mais conveniente e mais agradável, aumentando os potenciais de conhecimento humano, melhorando as condições de vida no âmbito da família e da comunidade, em prol de uma sociedade mais evoluída e mais feliz.
A evolução da Economia Doméstica em outros países, como Espanha, Portugal e França está num estágio muito avançado e, muitas vezes, o ensino é ministrado em nível universitário e os cursos ultrapassam os quatro anos superiores. Oferecem, na maioria das vezes, cursos de pós-graduação em nível de mestrado. Nos Estados Unidos, o profissional é bastante considerado e as escolas de Economia Doméstica atraem grande número de pessoas. Os cursos existem há quase um século, possibilitando e incentivando as pesquisas que se baseiam em princípios científicos, humanísticos e artísticos. Países como Espanha, Portugal e França também consideravam importante a Economia Doméstica, dando-lhe além de valor prático, caráter científico peculiar de área de estudo que merece atividade de pesquisa. Existem Escolas de Economia Doméstica em Portugal, na Índia, Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda, nos quais, antes, esses cursos eram vistos com desprezo, até mesmo por pessoas com maior nível de instrução. A Economia Doméstica alastrou-se pelo mundo inteiro, tornando-se conhecida na sua propagação do aperfeiçoamento humano e na atualização da família.
4 O profissional de economia doméstica e o campo de atuação
O Economista Doméstico não é um profissional voltado só para as atividades domésticas da casa. É um profissional que tem funções no comércio, na indústria, em escolas, creches e até no setor de habitação familiar (MARTINS, 1981). Sua formação está voltada para o cotidiano familiar no que diz respeito às necessidades de alimentação, habitação, higiene e saúde, consumo e vestuário (BARSA, 1981). Para tanto, aprende como administrar e organizar este cotidiano e a orientar as famílias no sentido de lhes propiciar melhores condições de vida.
Cabe ao Economista Doméstico informar sobre aspectos relativos à natureza técnica e científica dos princípios de alimentação, higiene e saúde, vestuário e habitação assim como despertar a consciência crítica dessas famílias sobre os aspectos políticos, econômicos e sociais embutidos na forma como esses conteúdos são tratados no contexto da sociedade moderna globalizada.
O Economista Doméstico é o responsável por planejar e supervisionar programas sociais nas áreas da saúde, alimentação, vestuário, economia familiar e direitos do consumidor (MARTINS, 1981). Há, inclusive, uma grande procura por especialistas em Economia Doméstica com boa visão administrativa em empresas de médio e grande porte.
O Técnico em Economia Doméstica desempenha, geralmente, sob direção e supervisão de profissional de nível superior, tarefas de caráter técnico no sentido de planejar, orientar, supervisionar, executar e avaliar trabalhos de sua especialidade, relativos à Administração do Lar e Habitação, Alimentação, Vestuário, Saúde e Educação. Colabora no desenvolvimento de planos, programas, pesquisas e experimentação das atividades que visam melhorar ou modificar hábitos de caráter econômico, social, educativo e de saúde, da vida individual e familiar. Colabora no desenvolvimento de cooperativas, orientando quanto às aquisições que servem às famílias, visando o planejamento de gastos e poupanças.
Junto à Indústria e ao Comércio, suas atividades técnicas visam a comercialização de produtos domésticos, utilizando os recursos da região. É o Técnico que orienta, principalmente nos meios rurais ou menos favorecidos, a organização racional do lar. Trabalha nos projetos de vida da comunidade.
O Técnico em Economia Doméstica exerce suas atividades junto a entidades que estejam ligadas à comunidade.
Na Administração do Lar e Habitação, seu trabalho envolve orientação, no sentido de se racionalizar a limpeza de casa, hospital e restaurante; de se organizar um almoxarifado, cooperativas de trabalho, transportes, hotelaria, cozinhas experimentais, lavanderias, refeitórios coletivos, decoração e utilidades domésticas.
Na área da Alimentação, o profissional pode se dedicar a restaurantes, cozinhas experimentais, merenda escolar e serviços de “buffet”.
Dentro do aspecto Vestuário, também o Técnico pode colaborar na indústria da moda, do vestuário, artesanato, lavanderia e tinturaria.
O trabalho do Técnico também é importante na área da Saúde, onde pode exercer suas atividades junto a creches como “baby-sister”, jardim da infância, escola maternal, hospitais geriátricos, postos de puericultura e centros de reabilitação.
Na Educação, além do magistério, suas atividades desenvolvem-se junto às Instituições do SESI, centros de Economia Doméstica, cozinhas experimentais, cooperativas de trabalho, programas de extensão urbanos e rurais, comércio de utilidades domésticas, meios de comunicação e outros. Neste aspecto, a Economia Doméstica visa atender às necessidades básicas do homem, na casa, sua roupa, alimentação e administração do lar.
As atividades do profissional, neste campo, dependerão de certas qualidades que o mesmo deve possuir. É importante que todo Técnico em Economia Doméstica possua raciocínio abstrato bem desenvolvido, isto é, a capacidade para estabelecer relações e compreender símbolos, a partir de estímulos verbais, pois suas atividades abrangem pesquisas e experimentações dentro de situações familiares e junto à comunidade. Ao planejar e orientar programas de educação do consumidor, irá precisar de atenção concentrada e memória. Quando trabalhar na área de moda, vestuário, decoração, o profissional deverá ser bastante criativo e o sucesso dependerá de sua capacidade de imaginação.
O Economista Doméstico de nível superior é o profissional que vai preocupar-se com a vida integral do indivíduo e sua família, ou seja, com a elevação do homem e da sociedade. Como os indivíduos vivem dentro de uma família, o trabalho deste profissional abrangerá o lar em toda a sua dinâmica com as inter-relações que existem dentro e fora dele. Nesse aspecto, suas atividades estarão ligadas à arte culinária, artes da agulha e artes decorativas.As informações a respeito da dietética na cozinha, preparo de doces, preparo dos alimentos são de alçada deste profissional.
Este profissional leva até às famílias conhecimentos a respeito do vestuário, sua confecção e conservação, informando qual o meio mais econômico para a utilização e aquisição dos mesmos. Na artes decorativas, o Economista Doméstico preocupa-se com arranjos de interiores, confecção de adornos e a própria montagem do lar. Assim, o profissional orienta as famílias na aplicação de princípios concernentes a aspectos funcionais e estéticos da habitação, objetivando atender suas necessidades básicas.
A atuação do Economista Doméstico é maior no meio rural onde as famílias são mais carentes de orientação e onde as atividades do profissional se desenvolvem no sentido de levar até eles noções de higiene, administração do lar, utilização dos recursos agrícolas disponíveis.
O Economista Doméstico constitui-se também elemento de consulta em assuntos de Economia Doméstica em Bancos, Caixas Econômicas, prestando os devidos esclarecimentos para a aquisição da casa própria, compra de móveis e equipamentos domésticos. Pode, ainda, dedicar-se ao magistério, tanto no ensino secundário como no universitário. E é aqui que a maioria dos formados se dedica, pois é no ensino que encontram maior campo de trabalho. Este profissional pode atuar em todos os ramos onde exista um serviço que se preocupe, especificamente, com a promoção do indivíduo. Atua na área de Extensão Rural e Urbana, Desenvolvimento de Comunidades, Instituições de Assistência Social e de Difusão Cultural e Estabelecimentos de Ensino. Suas atividades poderão ser exercidas em:
- indústrias de equipamentos e utilidades domésticas, onde colabora no planejamento de manufaturas de produtos funcionais que melhor atendam às necessidades do consumidor e também educando o consumidor no uso eficiente do equipamento e outras utilidades domésticas. Sua orientação estende-se na arte de comprar, preparar e servir alimentos;
- em instituições bancárias ou outras que oferecem financiamento para compra de imóveis e equipamentos domésticos;
- em jornais e revistas, programas de rádio e televisão, em seções ou programas de interesse da família e relacionados com as disciplinas de Ciências Domésticas;
- no ensino secundário e superior.
No setor de alimentação no Brasil, o Economista Doméstico irá planejar os cardápios para os trabalhadores e cuidar das condições de higiene em que são mantidos os alimentos e os refeitórios. Além disso, é ele quem orienta sobre a melhor maneira de aproveitar os alimentos, reduzindo desperdícios e garantindo a qualidade do que é consumido. Já nas indústrias, o papel do Economista Doméstico é interpretar as necessidades do consumidor e contribuir para o aperfeiçoamento de produtos. Para dar conta das tarefas, o profissional precisa ter formação multidisciplinar.
Pode controlar a qualidade dos produtos antes e depois de seu lançamento; informa as famílias e comunidades sobre alimentação, habitação, higiene e saúde; dá orientação na compra de bens e na contratação de serviços, de acordo com o orçamento e as necessidades da família; implanta e acompanha os processos de corte, modelagem e lavagem de roupas, zelando pelo melhor aproveitamento e pela conservação dos tecidos, podendo trabalhar em confecção, hospitais e em grandes lavanderias; ajuda a desenvolver produtos alimentícios, definindo métodos de manipulação, armazenamento e conserva, conferindo critérios nutritivos e de higiene, a validade e o peso. E cria cardápios nutritivos e balanceados e de custo mínimo.
No magistério, sua formação superior com Licenciatura Plena permite-lhe lecionar no 1º e 2º graus, pois possui habilitação para esse fim. Poderá, ainda, lecionar em faculdades, desde que possua curso de pós-graduação. Entre as qualidades psicofísicas desenvolvidas pelo Economista Doméstico, devemos ressaltar o raciocínio abstrato, pois muitas vezes o trabalho deste profissional será intelectual; a habilidade numérica será necessária quando o Economista Doméstico desenvolver suas atividades junto a Bancos e Caixas Econômicas. Considerando-se que suas atividades são desenvolvidas no sentido de interpretar as necessidades do consumidor, é importante que o profissional tenha facilidade no uso da linguagem, sendo que a fluência verbal, o desembaraço e sociabilidade são indispensáveis pois comunicar-se bem faz parte da própria profissão.
Na área da especialização profissional, as Ciências Domésticas incluem os aspectos de nutrir, vestir, evitar ou curar enfermidades e o próprio habitar do homem, do ponto de vista individual e coletivo. Atuando dentro desse campo, o profissional pode especializar-se num determinado setor desde que se dedique mais a ele. A área de Administração do Lar visa o emprego racional dos recursos domésticos, melhorando o nível de vida, condicionando-o a cada orçamento.
A área de Educação tem por objetivo oferecer recursos para trabalhos de extensão e educação, ao passo que a área de Habitação prepara Economistas Domésticos para trabalhar junto a engenheiros e arquitetos, no planejamento de casas, na decoração de interiores.
No setor da Nutrição aprende as técnicas da preservação do valor nutritivo de cada alimento e a preparação dos cardápios balanceados. Na área de Saúde ensina técnicas de enfermagem, socorros de urgência e noções de educação sanitária, enquanto que na área de Têxteis e Vestuário destina-se a orientar o consumidor na seleção de tecidos e sua utilização em vestuário e roupas.
5 Comentários finais
Entendemos que o que foi apresentado sobre a Economia Doméstica serviu para verificar que a Economia Doméstica no campo do conhecimento e no campo profissional não deveria ser empregada apenas em função dos afazeres do lar, mas, sobretudo, deveria ser desenvolvida dentro da comunidade não só familiar, mas em sentido lato. Durante a organização desse trabalho, notamos, por meio dos dados coletados e conversas com pessoas envolvidas com a Economia Doméstica, que as pessoas ligadas a essa área devem receber conhecimentos associados à teoria e à prática, precisam estar envolvidas com a comunidade e o mercado de trabalho.
Assim verificamos também que o profissional de Economia Doméstica era preparado “para prestar assistência técnica em órgãos públicos e privados, orientando programas ligados à área de saúde, vestuário e têxteis, alimentação e nutrição, arte e habitação e extensão”. Esse profissional deve ser preparado para atender à família , à Escola e à comunidade, a fim de que possa propor alternativas para transformar a realidade comunitária. Será necessário prepará-lo para realizar todas as outras funções, seja na área de extensão, prestação de serviços ou como autônomo. Estas tarefas iniciais desenvolverão nos profissionais de Economia Doméstica hábitos, habilidades e atitudes, aspectos indispensáveis para o desempenho da profissão.
Concluímos que, apesar de algumas escolas não mais formarem profissionais nessa área, os já existentes entenderam que essa profissão é muito rica e que as pessoas envolvidas com esse conhecimento souberam ler nas entrelinhas e descobrir o real valor do Economista Doméstico para a comunidade e para as famílias que souberam valorizar as funções desempenhadas por esse profissional dentro do mercado de trabalho.
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Notas de autor