Artigos Originais

Abordagem linguística das escritas criativas: um passeio pelos lugares onde a criatividade se manifesta

Linguistic approach to creative writing: a walk through the places where creativity manifests itself

Enfoque lingüístico a la escritura creativa: un paseo por los lugares donde se manifiesta la creatividad

Washington Elias Paes 1
Instituto Federal Fluminense, Brasil

Abordagem linguística das escritas criativas: um passeio pelos lugares onde a criatividade se manifesta

Vértices (Campos dos Goitacazes), vol. 25, núm. 2, e25219124, 2023

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

Este documento é protegido por Copyright © 2023 pelos autores.

Recepción: 09 Marzo 2023

Aprobación: 05 Mayo 2023

Publicación: 06 Junio 2023

Resumo: O presente artigo descreve o fenômeno da criatividade por meio de uma abordagem que privilegia os aspectos linguísticos para além do nível narrativo da descrição linguístico-literária, embasando-se nas principais teorias da Linguística. O conceito de criatividade linguística, fenômeno que só se manifesta na linguagem humana, é pouco explorado e conhecido dentro do campo das Letras, embora seja extremamente produtivo para as práticas de escrita, dentro e fora de sala de aula. Na primeira parte do artigo, discutem-se os conceitos de escrita, escrita criativa, criatividade e criatividade linguística; na segunda, discutem-se as relações entre as teorias linguísticas e a criatividade a partir dos conceitos de sintagma, paradigma, recursividade, mudança, variação e gramaticalização; na terceira parte, trazemos alguns apontamentos a partir das obras de Guimarães Rosa. Nas considerações finais, enfatizamos a ampliação do sentido de “criatividade” de modo a abarcar todas as produções textuais como meio de tornar mais expressivas essas produções. Este trabalho adotou a revisão de tipo bibliográfica como metodologia de pesquisa.

Palavras-chave: criatividade linguística, escrita criativa, produção de texto.

Abstract: This article describes the phenomenon of creativity through an approach that focuses on linguistic aspects, beyond the narrative level of linguistic-literary description, based on the main theories of Linguistics. The concept of linguistic creativity, a phenomenon that only manifests itself in human language, is little explored and known in Languages and Literature, although it is extremely productive for writing practices, inside and outside the classroom. In the first part of the article, the concepts of writing, creative writing, creativity and linguistic creativity are discussed; in the second one, the relations between linguistic theories and creativity are discussed based on the concepts of phrase, paradigm, recursion, change, variation and grammaticalization; in the third part, we bring some points from the works of Guimarães Rosa. In the final considerations, we emphasize the expansion of the sense of “creativity”, in order to encompass all textual productions, as a means of making these productions more expressive. This work adopted a bibliographic review as a research methodology.

Keywords: linguistic creativity, creative writing, text production.

Resumen: Este artículo describe el fenómeno de la creatividad a través de un enfoque que se centra en los aspectos lingüísticos, más allá del nivel narrativo de la descripción lingüístico-literaria, a partir de las principales teorías de la Lingüística. El concepto de creatividad lingüística, un fenómeno que solo se manifiesta en el lenguaje humano, es poco explorado y conocido dentro del campo de las Letras, aunque es sumamente productivo para las prácticas de escritura, dentro y fuera del aula. En la primera parte del artículo se abordan los conceptos de escritura, escritura creativa, creatividad y creatividad lingüística; en la segunda, se discuten las relaciones entre las teorías lingüísticas y la creatividad a partir de los conceptos de sintagma, paradigma, recursividad, cambio, variación y gramaticalización; en la tercera parte traemos algunos puntos de la obra de Guimarães Rosa. En las consideraciones finales, destacamos la ampliación del sentido de “creatividad”, para abarcar todas las producciones textuales, como medio para hacer más expresivas estas producciones. Este trabajo adoptó una revisión bibliográfica como metodología de investigación.

Palabras clave: creatividad lingüística, escritura creativa, producción de texto.

1 Introdução

A criatividade é hoje socialmente reconhecida e valorizada muito em razão da conjuntura da vida contemporânea, caracterizada pela instabilidade e pela complexidade, o que resultou em reconhecimento, ao menos discursivo, das pessoas ditas criativas em praticamente todas as esferas da sociedade. É reconhecida pelo relatório The Future of Jobs 2020, do Fórum Econômico Mundial, como uma das mais importantes competências do mercado de trabalho atual e futuro (WEF, 2020). Contudo, a criatividade no contexto escolar é um tema ainda pouco explorado academicamente e frequentemente entendido de maneira equivocada por alunos e por agentes educativos. Ao adentrarmos na aula de Língua Portuguesa, encontramos práticas textuais que inibem a criatividade. Como nos apontam Moraes e Alencar (2015), a redação de textos nas escolas costuma ser usada para castigar alunos e turmas inquietas ou para preencher um tempo ocioso, e não para trabalhar a produção criativa. Logo, os alunos até escrevem textos corretos, mas sem personalidade. Quando se trata da produção textual em prosa, o próprio conceito de criatividade parece ser reduzido à escrita de textos ficcionais e, mais especificamente, aos elementos inventivos do nível narrativo – enredo, personagens, espaço, tempo e narrador. Mas, como tentaremos demonstrar, é de maior proveito entendermos esse fenômeno como uma capacidade humana abstrata que se materializa em todos os níveis da linguagem. Essa criatividade, que só se manifesta na linguagem humana e a qual chamamos de criatividade linguística, é pouco explorada e conhecida dentro do campo das Letras, apesar de ser extremamente produtiva para as práticas de escrita, dentro e fora de sala de aula.

O que se pretende demonstrar é que a capacidade de se deslocar do lugar-comum e construir “produtos” tidos como “inovadores” atravessa todos os níveis da linguagem. A partir dessa ideia, o presente artigo busca descrever em quais aspectos da escrita a criatividade se manifesta para além do nível narrativo da descrição linguístico-literária, isto é, enfatizando os níveis que se afastam do narrativo. O fenômeno da criatividade se manifesta, em sentido amplo, por exemplo, na construção da narrativa, na seleção e organização do texto, nas formas de apresentação das ideias e nas próprias ideias retratadas; em sentido estrito, manifesta-se em todos os níveis da análise linguística: fonético-fonológico, morfológico, sintático, semântico-pragmático e narrativo-discursivo.

A despeito de muito se falar desse conceito, a criatividade é quase sempre tratada de modo assistemático, com apelo ao senso comum. Os alunos e demais sujeitos que usam a língua em suas modalidades oral e escrita geralmente são levados a testar e a jogar com os recursos da língua, além de refletir sobre possíveis construções criativas, quando escrevem ou leem textos em versos (poemas). Entretanto, todos precisam compreender que qualquer uso da língua pode ser construído para ser mais expressivo, explorando a plasticidade e a adaptabilidade inerentes ao sistema linguístico. Esse enfoque potencializa os usos da linguagem humana e reforça a importância dos conhecimentos linguísticos e gramaticais na produção não só de textos concisos e coerentes como de textos mais assertivos e expressivos.

Este artigo discute a criatividade por meio de uma abordagem que privilegia os aspectos linguísticos do texto, sem desconsiderar o nível narrativo e o âmbito extratextual. Para isso, realizamos uma revisão bibliográfica sobre a criatividade e a Escrita Criativa, visando construir um continuum descritivo do fenômeno inserido na construção textual. O presente trabalho está dividido em três partes: na primeira, discutem-se os conceitos de escrita, escrita criativa, criatividade e criatividade linguística; na segunda, discutem-se as relações entre as teorias linguísticas e a criatividade a partir dos conceitos de sintagma, paradigma, recursividade, mudança, variação e gramaticalização; na terceira parte, serão feitos alguns apontamentos a partir das obras de Guimarães Rosa. Nas considerações finais, buscamos defender a importância da ampliação do sentido de “criatividade” de modo a abarcar todas as produções textuais, como meio de tornar mais expressivas essas produções.

2 As Faces da Criatividade: da Criatividade Lato Sensu à Criatividade (Linguística) Stricto Sensu

Neste trabalho, o conceito de criatividade será ancorado no uso da língua, especialmente em sua modalidade escrita. Coulmas (2014), no prefácio de Escrita e sociedade, afirma ser a escrita nossa mais importante invenção. Com Higounet (2003, p. 10), entendemos a escrita como “o fato social que está na própria base de nossa civilização” por nos permitir acessar o mundo das ideias, reproduzir nossa linguagem articulada, apreender o pensamento e estendê-lo no tempo e no espaço. Desse modo, a escrita não se restringe a um simples instrumento de comunicação, ainda que essa função seja fundamental. Justamente por não se limitar a uma simples “codificação”, ela corporifica de diversos modos a criatividade humana.

Considerada por muitos uma técnica, a escrita criativa é a “arte de expressar ideias de maneira original” (MARCHIONI, 2021, p. 9), fugindo do lugar-comum ou retratando temas banais de modo inovador1. Rodrigues (2015), ao defender a Escrita Criativa como perspectiva para a produção de textos, descreve a escrita criativa como “um termo usado para distinguir diferentes tipos de escrita – particularmente os que usam o domínio da imaginação – da escrita em geral” (BUCHHOLZ, 2013, p. 2 apudRODRIGUES, 2015, p. 7). Em sua argumentação, acrescenta que a Escrita Criativa é um artefato que permite a muitas pessoas terem “acesso a um contacto original e novo com a língua e com a literatura” (SENA-LINO, 2008, p. 12 apudRODRIGUES, 2015, p. 7).

Existe certa problemática em torno da expressão “escrita criativa”, pois ela presume, em uma leitura leiga, que há escrita não criativa. Como se buscará provar no decorrer deste trabalho, todo uso da língua é criativo, seja ele oral ou escrito, mesmo que se possam observar usos lidos socialmente como mais criativos que outros. Quando Marchioni (2021, p. 59) afirma que, para “escrever com criatividade, é preciso um intenso investimento no desenvolvimento da técnica, por meio do trabalho duro, que inclui pesquisar e escrever”, está entendendo a criatividade como produto de um trabalho, mas sem se aproximar de qualquer concepção linguística do termo. De fato, o trabalho consciente sobre a escrita pode alterar sua força expressiva e potencializar a leitura social do texto como um produto criativo, mas, numa perspectiva linguística, a criatividade é uma característica intrínseca ao funcionamento das línguas naturais e, portanto, está pressuposta em toda comunicação verbal.

O fenômeno em debate é frequentemente caracterizado como complexo, plural, plurideterminado, multifatorial, multidimensional, transdisciplinar, entre outros termos que destacam a possibilidade de ele ser encarado sob diversos ângulos teóricos. Por essa razão, não existe uma definição única ou consenso entre os autores sobre as possíveis definições para “criatividade”. Entretanto, para que possamos abordá-la cientificamente e de modo adequado, é necessário precisá-la em termos conceituais, justamente por haver na literatura especializada uma série de conceitos em competição.

Marchioni (2021, p. 15) define criatividade como “a arte de pensar de maneira diferente para encontrar caminhos inesperados”. Embora se depreenda que o “pensar diferente” na escrita possa se referir aos vários fatores da produção textual e aos múltiplos níveis gramaticais, Marchioni (2021) concentra-se no mundo das ideias, nos fatores de bloqueio e desbloqueio da criatividade, nas rotinas do escritor e nas formas de “transformar ideias criativas em textos eficientes” (MARCHIONI, 2021, p. 72). Definição similar encontramos em O Design da Escrita, de Antônio Suárez Abreu (2008), em que criatividade é a habilidade de ver algo sob outro ponto de vista, fugindo do senso comum.

Para Celso Antunes (2009), criatividade é a “capacidade inerente a todo ser humano em criar, inventar coisas novas. Para alguns significa também a capacidade das pessoas em divergirem dos padrões consagrados com vistas à criação do novo ou de novas formas de pensar” (ANTUNES, 2009, p. 12). De forma similar, Ken Robinson (2019) define a criatividade como “o processo de desenvolver ideias originais que tenham valor” (ROBINSON, 2019, p. 18) e defende ser um equívoco pensar “que a criatividade só se desenvolve em certas áreas, como as artes”, pois “é possível ser criativo em qualquer atividade que envolva inteligência” (ROBINSON, 2019, p. 19). Esses conceitos vão ao encontro do proposto pelo professor e linguista Carlos Franchi (1991), na obra Criatividade e gramática, segundo a qual a criatividade

não tem, enquanto processo, um domínio privilegiado: está nas artes, nas ciências, nas várias formas de representação e organização das experiências, na seleção dos materiais ou dos instrumentos adequados ao trabalho e aos propósitos que lhe atribuímos. Está onde se dão possibilidades de opção, mesmo a de optar pela opção dos outros. (FRANCHI, 1991, p. 12, grifos nossos).

No Grande Dicionário Houaiss encontramos os seguintes verbetes para “criatividade”:

1. Qualidade ou característica de quem ou do que é criativo.

2. Inventividade, inteligência e talento, natos ou adquiridos, para criar, inventar, inovar, quer no campo artístico, quer no científico, esportivo etc.

3. Ling. Capacidade que tem o falante de produzir e compreender um número imenso de enunciados, mesmo aqueles que não tinham sido por ele ouvidos ou pronunciados anteriormente [Decorre da competência linguística, que é o conhecimento intuitivo que todo falante possui dos princípios e regras da sua língua.]. (CRIATIVIDADE, 2022).

Os conceitos dos autores citados até o momento se enquadram nas duas primeiras definições do Grande Dicionário Houaiss. O fenômeno é apresentado de modo costumeiro e comum, sendo seus sentidos bastante intuitivos – o que não significa se tratar de um problema ou equívoco conceitual. De fato, embora definam o fenômeno da criatividade como complexo, multifacetado e plurideterminado e afirmem que não há consenso entre os estudiosos sobre o que seria a criatividade, Eunice de Alencar e Denise de Souza Fleith (2003) declaram que, recorrentemente, encontramos nas conceituações do fenômeno a ideia de que ele “implica a emergência de um produto novo, seja uma ideia ou uma invenção original, seja a reelaboração e o aperfeiçoamento de produtos ou ideias já existentes” (ALENCAR; FLEITH, 2003, p. 13-14). Sendo assim, a criatividade é a capacidade de um sujeito, dentro de um contexto definido, de um espaço e um momento histórico dado, deslocar-se do banal ou recorrente rumo ao que não é ordinário, ou seja, rumo ao que é socialmente percebido como diferente em algum grau (PAES; SILVA, 2021a, p. 431).

O sentido basilar da criatividade como a capacidade humana de criar, de inovar, de inventar, será entendido neste trabalho como um dos pontos de partida para se alcançar um outro conceito de criatividade, específico para a análise linguística e restrito aos usos da língua. Esse conceito é o de criatividade linguística, que está expresso na terceira definição de criatividade do Grande Dicionário Houaiss. No Dicionário de Linguística (2014), a criatividade também é compreendida como “a aptidão do falante para produzir espontaneamente e para compreender um número infinito de frases que nunca pronunciou ou ouviu antes” (DUBOIS et al., 2014, p. 151). Esse verbete se apoia na concepção chomskiana/gerativista, que distingue a criatividade a partir da dicotomia competência-desempenho, como se observa no trecho abaixo:

Podem-se distinguir dois tipos de criatividade: a primeira consiste em variações individuais, cujo acúmulo pode modificar o sistema de regras (criatividade que muda as regras); a segunda consiste em produzir frases novas por meio de regras recursivas da gramática (criatividade provocada pelas regras). A primeira depende da performância (ou fala), a segunda da competência (ou língua). (DUBOIS et al. 2014, p. 151-152, grifos do autor).

Com os gerativistas, entendemos a criatividade como a capacidade do falante de criar produtos inéditos e, a partir de recursos finitos da língua, executar um uso infinito. Para Duarte (2000, p. 109), a linguagem humana é composta por um “sistema combinatório discreto”, ou seja, sua “gramática dispõe de um conjunto finito de elementos distintos que se combinam para formar unidades mais vastas, cujas propriedades são diferentes das dos elementos que as constituem”. Com a gramática gerativa, vemos a criatividade como a principal propriedade das línguas humanas e, sendo um elemento da engenharia da língua (DUARTE, 2000), não há uso linguístico isento de criatividade.

Carlos Franchi (1991) amplia o conceito de criatividade linguística, distanciando-se da criatividade chomskiana, formal e recursiva. Com ele, refletir sobre a criatividade das variações individuais, apoiada na performance (ou fala), parece-nos mais produtivo para as práticas textuais, em decorrência da relevância que o linguista atribuiu às ações dos sujeitos por meio das escolhas linguísticas. Para Franchi (1991), a criatividade linguística se relaciona ao ato de seleção dentro de um feixe de opções gramaticais possíveis no sistema linguístico. Quando se opta por um elemento linguístico (morfológico, sintático, semântico etc.) dentro de um campo de possibilidades dispostas pelo sistema, opta-se também por um caminho de sentidos, intenções e efeitos que realizam a criatividade humana (PAES; SILVA, 2021b). Franchi (1991) é incisivo ao afirmar que a criatividade é sempre um atributo do comportamento verbal humano:

A criatividade se manifesta ainda ao nível da construção das expressões. De um modo mais radical, no fato de que é o sujeito que constrói, do modo que lhe convém, as múltiplas formas que vai compondo linearmente (…) pelo modo próprio com que cada um se coloca em relação a seu tema: nos diferentes pontos de vista e perspectivas em que representa os eventos ou processos, organiza os aspectos da realidade que descreve, orienta a argumentação, expressa suas atitudes (…) nos processos pelos quais o falante estende, por analogia ou pela metonímia, esquemas relacionais, sintáticos e semânticos, constituídos para a representação de situações específicas a outras situações (…) No limite, a criatividade se manifesta quando o falante ultrapassa os limites do ‘codificado’ e manipula o próprio material da linguagem, investindo-o de significação própria. (FRANCHI, 1991, p. 12-13).

Essa perspectiva, que será a principal base deste trabalho, amplia o conceito de criatividade, deslocando os sentidos comuns, advindos da psicologia, para acepções que abarcam os usos linguísticos em sua especificidade. Observamos que a conceituação de Franchi (1991) não exclui as demais concepções mencionadas neste artigo, mas destaca a criatividade presente nos usos da língua. Segundo Franchi, “acreditou-se que a criatividade estava só em outro lugar que não na linguagem verbal. Nas manifestações gestuais, na expressão corporal, no desenho livre etc. Aceitou-se por comodismo e muito sem refletir que a língua e a gramática fossem mesmo um lugar de opressão e regra” (FRANCHI, 1991, p. 7, grifo nosso).

Nessa linha analítica, Inês Duarte (2000, p. 107) entende a criatividade como “uma propriedade do uso da língua ancorada no desenho da linguagem humana”, sendo um elemento constitutivo das línguas naturais. Sua concepção de criatividade linguística dialoga com a de Franchi (1991). Ao falar de criatividade, a linguista menciona os níveis sintático e morfológico, além do processo de formação de palavras, a metáfora, a metonímia e a sinédoque. Para ela, a criatividade está em jogo ao selecionarmos um dado registro ou estilo em função da situação e da nossa relação com os outros na interação, assim como ao escolhermos o vocabulário que melhor se adapta ao assunto da interação verbal (DUARTE, 2000, p. 118). Como Franchi, Duarte (2000) vincula a criatividade linguística às “escolhas e seleções” que o falante efetua ao usar a língua.

O conceito de criatividade se especifica ao adentrarmos nos estudos linguísticos, preservando o caráter gerador/criador, mas incluindo novas acepções. De modo geral, há uma criatividade facilmente identificada no campo das artes, do marketing, da moda, da indústria criativa etc., e que chamaremos de criatividade lato sensu. Há também uma outra criatividade que, embora não pareça prescindir da primeira, só se manifesta na língua, na interação verbal oral ou escrita, e que designamos como criatividade stricto sensu. Essas nomenclaturas inspiram-se na análise feita por Coutinho (1994) da obra de Guimarães Rosa, conforme abordaremos adiante. Na Figura 1, visualizamos os níveis da criatividade em um continuum que parte de categorias mais abertas ao mundo biopsicossocial e se afunila rumo às categorias que só existem na materialidade do texto.

Criatividade linguística
Figura 1.
Criatividade linguística
Fonte: Elaboração própria (2023)

Está exposta na Figura 1 uma proposta preliminar de visualização da relação criatividade-texto. O círculo cinza representa a criatividade lato sensu, no qual obrigatoriamente se insere toda materialidade textual, isto é, todo texto oral ou escrito é produto da criatividade humana em sentido amplo, conforme atribuído pelos teóricos da psicologia, como Alencar e Fleith (2003). O círculo branco é o processo-produto do uso dessa capacidade humana abstrata, que potencialmente poderia ser realizada em linguagem diferente da verbal, como os gestuais, na expressão corporal, no desenho etc. O círculo branco é, portanto, o texto construído. O triângulo laranja – ou “funil” – simboliza a penetração da criatividade lato sensu na língua, atravessando os níveis linguísticos e atingindo a superfície textual, lugar em que se realiza a criatividade (linguística) stricto sensu.

O nível narrativo-discursivo, por se aproximar mais nitidamente do campo das ideias, reside no limiar entre o texto e o mundo. O nível fonético-fonológico, por outro lado, lida com as unidades mínimas da linguagem verbal: as sílabas e os fonemas, que são “a menor unidade destituída de sentido, passível de delimitação na cadeira da fala” (DUBOIS et al., 2014, p. 260), e os fones, “cada uma das realizações concretas de um fonema” (DUBOIS et al., 2014, p. 260). Os níveis gramaticais da língua se ampliam a partir do fonético-fonológico. O morfema, unidade de análise por excelência da morfologia, é o “menor elemento significativo individualizado num enunciado, que não se pode dividir em unidades menores sem passar ao nível fonológico” (DUBOIS et al., 2014, p. 389). O nível sintático, responsável pela “combinação na cadeira da fala” (DUBOIS et al., 2014, p. 520), lida com sintagmas, frases e períodos. O nível semântico-pragmático, por lidar com os significados, avança sobre o uso da língua, a cultura e caminha rumo ao contexto extratextual. Na Figura 1 está demonstrada uma percepção de estruturação da língua que não é nova e se encontra, por exemplo, na Linguística Sistêmico-Funcional, conforme observamos ao compará-la com a Figura 2.

Estratos do sistema da linguagem
Figura 2.
Estratos do sistema da linguagem
Fonte: Extraído de Fuzer (2018, p. 278)

Esse modo de perceber a linguagem, separando-a em níveis de análise, não é, portanto, uma novidade teórica deste trabalho. Perspectiva similar é adotada também pela gramática gerativa e sua hipótese de modularidade da mente e da linguagem, em que a mente humana possuiria um compartimento específico para a linguagem e, dentro desse módulo, submódulos: fonológico, morfológico, léxico, sintaxe, semântica e pragmática (KENEDY, 2013, p. 43).

O processo de elaboração textual, portanto, realiza-se sempre dentro de um contexto de uso da língua, que envolve cultura e interação, mas cuja análise pode “afunilar-se” rumo a níveis gramaticais mais restritos. Conclui-se que não existe produção textual sem criatividade, embora seja evidente que a percepção ou “efeito de criatividade” seja diferente em cada texto e contexto. Isso ocorre por causa do aspecto sociocultural e histórico da criatividade, apresentada por Alencar (2007) nos seguintes termos:

A sua expressão resulta de uma rede complexa de interações entre fatores do indivíduo e variáveis do contexto sócio-histórico-cultural que interfere na produção criativa, com impacto nas expressões criativas, nas oportunidades oferecidas para o desenvolvimento do talento criativo e ainda nas modalidades de expressão criativa, reconhecidas e valorizadas. (ALENCAR, 2007, p. 48, grifo nosso).

Por conseguinte, não se deve entender o conceito de criatividade restrito à capacidade cognitiva, pois suas manifestações se dão em contextos sociais, históricos, culturais, políticos, ideológicos muito bem definidos. Esses contextos reconhecem o “valor criativo” de uma produção e/ou possibilitam o efeito de criatividade de determinada ideia. Como discutido anteriormente nesse tópico, para Robinson (2019), criatividade é “o processo de desenvolver ideias originais que tenham valor” (2019, p. 18). Esse valor é contextual e relativo.

Em psicologia, a teoria da “Perspectiva de sistema” aborda a criatividade como um fenômeno social, mediado por um produto que está entre o sujeito criador e a audiência. Essa perspectiva, adotada em certa medida neste trabalho, interessa-se pela expressão ou produto da criatividade e pela interação entre o sujeito e o contexto sociocultural. Segundo Cropley, a criatividade “não só é determinada por critérios sociais, mas também os determina. O produto é a face pública da criatividade e precisa ser examinado pela sociedade e receber ou não o aval dela” (CROPLEY, 2006 apudOLIVEIRA, 2022, p. 88). Isto é, a sociedade determina, por exemplo, se um texto é criativo ou apenas estranho ou desajustado e define quais inovações são valorizadas. Esse aspecto social da criatividade nos importa porque o texto pode exigir bastante esforço cognitivo por parte do escritor e mesmo assim ser pouquíssimo valorizado em sua recepção, sendo inclusive lido socialmente não como um produto criativo e sim como um clichê.

3 Teorias Linguísticas e Criatividade

Como a criatividade é elemento constitutivo da linguagem humana, qualquer teoria que tenha o sistema linguístico e a interação verbal como objetos de estudo, explícita ou implicitamente, esbarrará em conceitos e descrições que podem ser relacionados ao aspecto criativo da linguagem. Sendo assim, abordaremos, enfatizando seu caráter criativo, alguns conceitos das principais teorias linguísticas existentes, a saber: Estruturalismo, Gerativismo, Sociolinguística e Funcionalismo.

3.1 Estruturalismo

No Curso de linguística geral, Ferdinand de Saussure estabeleceu a dicotomia entre os eixos sintagmático e associativo da linguagem. Considerando que a língua é um sistema cuja estrutura precisa ser analisada e descrita, o linguista estruturalista defendeu que as unidades da língua se relacionavam por oposição e que o signo linguístico é executado e percebido em sequência, de modo linear, i. e., os signos se apresentam “em linha, no tempo, um após o outro” (COSTA, 2020, p. 120). Quando observamos a disposição/distribuição caraterística dos constituintes, estamos tratando das relações sintagmáticas, as quais ocorrem na presença simultânea de dois termos ou mais em uma série (SAUSSURE, 2006), pois o eixo sintagmático é o lugar das combinações e das escolhas efetivamente realizadas. Quando nos atentamos à produção textual, podemos evidenciar o caráter criativo do texto ou focalizar seus efeitos de sentido a partir da ordenação sintagmática, conforme o exemplo a seguir:

Em nosso idioma, a sintaxe preferencial é sujeito (S) + verbo (V) + complemento (C), de modo que alterações na ordem canônica estimulam novas interpretações. Em (b), o deslocamento do adjunto temporal para a posição inicial enfatiza a duração do amor de João, o que não se percebe em (a), em que o ato de amar fica em primeiro plano.

Para Saussure (2006), o eixo associativo2 da linguagem se refere às associações mnemônicas possíveis de serem realizadas, evocando, em uma relação de ausência material, elementos que compartilham algum traço associável, como a sonoridade, a estrutura morfológica e o sentido. Logo, o eixo associativo ou paradigmático é o espaço das substituições e das escolhas possíveis. Em Criatividade e Gramática, Carlos Franchi (1991) demonstra como poderia ocorrer um trabalho gramatical a partir da criatividade. O linguista aborda as escolhas lexicais possíveis na língua com os seguintes exemplos: (…) “[ruas pequenas e / ruazinhas / ruelas] estreitas” (FRANCHI, 1991, p. 29), e “Todas as ruelas estreitas da vila (saíam de / partiam de/ chegavam a/ levavam a/ convergiam para) um jardim central, sombreado e fresco” (FRANCHI, 1991, p. 29-30).

De todas as possibilidades da língua, o sujeito pode dizer ou escrever “saíam de” ou “partiam de”, sendo que cada escolha efetivamente realizada afasta as possibilidades não selecionadas. No primeiro exemplo, os termos e expressões entre colchetes associam-se pela morfologia, de modo que há uma articulação semântica entre as opções que se colocam à disposição do escritor. Os conceitos estruturalistas de sintagma e paradigma podem ser recuperados nas discussões sobre Escrita Criativa, de modo a levar o escritor a refletir sobre suas construções. Franchi (1991), partindo de sua acepção de criatividade, define a gramática como o estudo das condições linguísticas que explicam “por que e como (e para quem e quando…) as expressões das línguas naturais significam tudo aquilo que significam” (FRANCHI, 1991, p. 32). Logo, a Escrita Criativa pode levar o sujeito a refletir sobre (e criticar) suas próprias escolhas textuais, partindo da organização da linguagem em eixo sintagmático e paradigmático.

3.2 Gerativismo

Parte da análise gerativa sobre a criatividade já foi mencionada no tópico anterior deste artigo. Contudo, é importante retomarmos alguns elementos, pois foi a Linguística Gerativa a maior divulgadora da expressão “criatividade linguística” e a teoria que maior importância atribuiu ao conceito de “criatividade”. Em seu livro intitulado Estruturas sintáticas, Noam Chomsky chamou a atenção para o fato de um humano sempre agir criativamente no uso da linguagem, pois constrói frases inéditas, jamais ditas antes pelo próprio falante ou qualquer outro (KENEDY, 2020, p. 128). Segundo Kenedy (2020), Chomsky, fundador da corrente gerativa, “chegou a afirmar, inclusive, que a criatividade é o principal aspecto caracterizador do comportamento linguístico humano, aquilo que mais fundamentalmente distingue a linguagem humana dos sistemas de comunicação animal” (KENEDY, 2020, p. 128).

Embora a criatividade linguística da gramática gerativa não se restrinja ao conceito de recursividade, esse é um dos principais conceitos dessa teoria, sendo considerada uma propriedade essencial à linguagem por permitir a repetição de modo infinito de elementos linguísticos finitos em novas construções. Observamos a seguir um exemplo de recursividade, em que construções coordenadas em sequência de sintagmas nominais (SN) mostram-se virtualmente infinitas: “Pedro e Jorge (partiram), Pedro e Jorge e André (partiram), Pedro e Jorge e André e Paulo (partiram)” (DUBOIS et al., 2014, p. 471).

O princípio da recursividade, que permite a engenharia da língua criar sempre novos sintagmas a partir dos recursos disponíveis nas línguas naturais, funciona da seguinte maneira: à concatenação de um dado sintagma podem-se inserir outros sintagmas, criando novos sintagmas, ao infinito, como vemos abaixo:

Sintagma A + Sintagma B = Sintagma C

Sintagma C + Sintagma D = Sintagma E

Sintagma E + Sintagma F = Sintagma G

Observa-se novamente a capacidade plástica das línguas naturais, que, a partir das “regras recursivas da gramática (criatividade provocada pelas regras)” (DUBOIS et al., 2014, p. 152, grifos do autor), permite que a língua crie encadeamentos de sintagmas e insira sintagmas dentro de sintagmas. Um exemplo disso é a sentença “João ama a menina de fita verde no cabelo”, em que o SN objeto contém outros SNs em seu interior. Em termos sintáticos, é possível ampliar a construção do SN indefinidamente. Chomsky se interessava justamente por essas regras da língua que apontam para uma capacidade criativa e diferenciam nossa linguagem da comunicação animal.

3.3 Sociolinguística

Entre as teorias linguísticas, a sociolinguística é a que mais ênfase dá aos aspectos extralinguísticos, desde seu surgimento na década de 1960, a partir dos estudos de William Labov. Estuda-se a língua em seu uso real, dentro de uma comunidade de fala, considerando os aspectos socioculturais, o contexto situacional, a cultura e a história das pessoas que usam essa língua (CEZARIO; VOTRE, 2020, p. 141). Entendendo a língua como uma instituição social, um sistema vivo que se modifica com a sociedade; a diversidade, a variação e a mudança são encaradas como princípios da análise sociolinguística.

Existem variantes em qualquer idioma, ou seja, diferentes modos de falar e de escrever uma mesma coisa, fazendo com que haja duas ou mais formas linguísticas em coocorrência, existindo sincronicamente no sistema linguístico e assumindo o mesmo valor semântico. Conforme Cezário e Votre (2020, p. 144-145), embora existam vários fatores ou variáveis linguísticas, é possível estabelecer três tipos básicos de variação:

O processo de mudança linguística resulta do processo de variação, pois é preciso que a variação progrida para a consolidação de uma das formas variantes que coexistiam. Segundo Cezario e Votre (2020, p. 151), a “mudança ocorre quando, após um período de variação de duas ou mais formas, a forma mais nova e de menor prestígio se espalha e substitui a forma mais usada”. Esses autores exemplificam a mudança consolidada com a pronúncia brasileira do /l/ pós-vocálico, que em quase todo o território passou a ser pronunciado como semivogal: sal > sa[w] (CEZARIO; VOTRE, 2020, p. 151).

Esses conceitos fundamentais ilustram “o caráter adaptativo da língua como código de comunicação” (CEZARIO; VOTRE, 2020, p. 141), provam que “a língua é uma estrutura maleável” (CEZARIO; VOTRE, 2020, p. 146) e são aqui compreendidos como mecanismos internos de (re)construção linguística, manifestando o caráter criativo da linguagem humana.

Marcos Bagno, um dos mais importantes sociolinguistas brasileiros, analisa as relações entre falante e língua, demonstrando que cada sujeito reanalisa, reinterpreta “as regras de funcionamento de sua língua, conferindo a elas novo alcance, descartando as regras que se mostram insuficientes, ampliando os limites de aplicação de regras até então restritas a determinados contextos” (BAGNO, 2009, p. 48). O que está em jogo é a defesa de um uso natural e, portanto, criativo da língua por parte dos falantes, sobretudo daqueles que, por se distanciarem da gramática normativa, sofrem preconceito linguístico.

Existem diversas maneiras de se dizer alguma coisa, como já demonstramos no decorrer deste trabalho, e todas elas correspondem a usos diferenciados e eficazes dos recursos linguísticos (BAGNO, 2009). No contexto do ensino de Língua Portuguesa, esse autor defende a importância da reflexão linguística, inclusive o “estudo explícito da gramática, desde que ele não seja visto como um fim em si mesmo nem como o aprendizado de um conjunto de dogmas, de verdades absolutas e imutáveis” (BAGNO, 2009, p. 40). Essa postura dialoga com o caráter social de seus trabalhos, que se opõem às relações opressivas que se realizam por meio da linguagem. Acrescentamos que o dogmatismo inibe práticas textuais inovadoras por criar um ambiente de controle avesso às “variações individuais, cujo acúmulo pode modificar o sistema de regras (criatividade que muda as regras)” (DUBOIS et al., 2014, p. 151, grifo do autor).

3.4 Funcionalismo

O funcionalismo é uma corrente linguística que se opõe ao estruturalismo e ao gerativismo (concepções formalistas) e estuda a língua a partir de sua dinamicidade e de seus usos reais, isto é, a partir dos múltiplos fenômenos interacionais e de seus diferentes contextos. Conforme Cunha (2020, p. 158), o funcionalismo defende que “as funções externas influenciam a organização interna do sistema linguístico”. De modo geral, estamos falando de certo caráter maleável das formas gramaticais, que permitem à língua transformar-se, (re)criar-se, de acordo com as pressões das diferentes situações comunicativas.

O conceito de gramaticalização retrata a plasticidade da língua e demonstra uma “necessidade de se refazer que toda gramática apresenta” (CUNHA, 2020, p. 173, grifo do autor). Segundo Cunha (2020, p. 173), entende-se o termo “gramaticalização” como “um processo unidirecional, segundo o qual itens lexicais e construções sintáticas, em determinados contextos, passam a assumir funções gramaticais e, uma vez gramaticalizados, continuam a desenvolver novas funções gramaticais”.

Vejamos alguns exemplos de gramaticalização:

Em (a), o verbo “ir” mudou de categoria sintática. Em “Eu vou à praia”, ele tem sentido de deslocamento espacial, o que poderíamos chamar de sentido original. Em “Eu vou correr na praia”, no entanto, o verbo “ir” se torna mais gramatical e assume a função de verbo auxiliar na locução verbal, assumindo sentido de futuro e não mais de deslocamento espacial. Em (b), a forma verbal “querer” se transmuta em uma conjunção, passando a ser usada como conjunção alternativa em “Quer queira quer não queira”. Em (c), observamos na palavra “taí” uma aglutinação fonológica e morfológica do verbo “Está” e do pronome adverbial locativo “aí”, o que resulta em alterações semânticas e fonológicas. O elemento “Taí” é um marcador discursivo de constatação.

O conceito de gramaticalização reflete a passagem do discurso à gramática, sendo um processo de criação de elementos gramaticais – de surgimento ou variação de formas e/ou de sentidos. Esse mecanismo de desenvolvimento das línguas naturais cria palavras, expressões e construções novas a partir de elementos já existentes. É com o funcionalismo que aprendemos os processos de regularização da língua: das alterações que decorrem em função da expressividade a partir de usos individuais que se generalizam e se tornam comuns a uma comunidade linguística, isto é, constata-se que há nas línguas naturais pressões de mudança e inovação de um lado, e de sistematização e manutenção, de outro. Marcos Bagno (2009) frequentemente chama as formas populares, como “nós vai”, de “formas inovadoras”, pois exercem pressão de mudança na língua portuguesa, em oposição às “formas tradicionais” e hegemônicas.

4 Alguns apontamentos sobre a criatividade no texto

Em Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão, o linguista e professor Luiz Antônio Marcuschi (2008) adotou a definição de texto de Beaugrande: “o texto é um evento comunicativo em que convergem ações linguísticas, sociais e cognitivas” (1997, p. 10 apudMARCUSCHI, 2008, p. 72). Segundo esse importante estudioso da Linguística textual,

O texto pode ser tido como um tecido estruturado, uma entidade significativa, uma entidade de comunicação e um artefato sócio-histórico. De certo modo, pode-se afirmar que o texto é uma (re)construção do mundo e não uma simples refração ou reflexo. Como Bakhtin dizia da linguagem que ela “refrata” o mundo e não reflete, também podemos afirmar do texto que ele refrata o mundo na medida em que o reordena e reconstrói. Nesse curso, vamos nos dedicar a essa entidade comunicativa que forma uma unidade de sentido chamada texto. Tanto o texto oral como o escrito. (MARCUSCHI, 2008, p. 72, grifos do autor).

O conceito de texto adotado no presente trabalho é o exposto acima. O texto, basicamente, é um evento de interação (verbal) entre indivíduos que usam a língua em diversos contextos sociais e com incontáveis objetivos. Toda discussão realizada até o momento aplica-se aos textos em suas duas modalidades: oral e escrita. Sendo assim, a criatividade linguística está não só na ciência da linguagem, na gramática e na literatura, mas também no marketing, na propaganda, no jornalismo, nos discursos políticos, na música, na oratória etc. Conseguimos identificá-la nos processos de formação de palavras, nos metaplasmos (visão diacrônica), nos processos fonológicos (visão sincrônica), nos neologismos, em absolutamente todas as figuras de linguagem, na ordenação dos parágrafos e capítulos, na intertextualidade entre gêneros e em outros aspectos do uso da língua.

Os sujeitos podem explorar a potencialidade de sua língua e do seu estilo, buscando atribuir maior expressividade a seus textos. Contudo, não se pode, a partir da plasticidade e da adaptabilidade das línguas naturais, chamadas aqui de criatividade, concluir que toda construção é permitida, tampouco entender que todo e qualquer uso desviante do código seja, necessariamente, manifestação da engenharia criativa da língua. Sendo a língua uma instituição social (COULMAS, 2014, p. 19) e a leitura e a escrita indispensáveis para a participação na sociedade (COULMAS, 2014, p. 16), podemos afirmar que um uso adequado da língua deve resultar em uma assertiva interação verbal entre os sujeitos da díade comunicativa. Logo, a comunicabilidade deve ser considerada mesmo em enunciados ditos criativos.

Existe, portanto, na prática, um limite para a criatividade verbal. Esse “limite” é analisado pelo conceito gerativista de gramaticalidade. Segundo ele, os indivíduos que falam uma língua constatam a gramaticalidade de uma construção a partir de sua competência linguística, sendo gramaticais as construções naturalmente produzidas e compreendidas pela comunidade de fala e agramaticais os usos que violam os princípios e regras naturais de uma determinada língua. Segundo Dubois et al. (2014), “em português, O menino gosta de chocolate é uma frase gramatical; ao contrário, *Gostar chocolate menino é uma frase agramatical” (DUBOIS et al., 2014, p. 295, grifos do autor).

O campo literário é fecundo de construções que rompem com a gramática normativa e acabam por criar ou intensificar um efeito de criatividade. Analisaremos, a seguir, o primeiro parágrafo do conto Fita Verde no cabelo: nova velha estória, de João Guimarães Rosa:

Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam. (ROSA, 1985, p. 81).

Existem muitos elementos criativos no conto citado: de neologismos, como “velhavam” (criatividade morfológica), à elaboração da própria narrativa, uma releitura poético-filosófica de Chapeuzinho Vermelho (criatividade narrativo-discursiva). Com fim exemplificativo, destacamos a ausência de objeto na oração “homens e mulheres que esperavam Ø”. Construção: S + V + [Ø]. Essa apropriação desviante das regras gramaticais cria um efeito de criatividade no texto literário, pois o afasta do uso comum, fazendo o leitor refletir sobre o que esperavam esses homens e mulheres. Classificando a oração a partir da Figura 1, pode-se dizer que existe criatividade de base linguística nos níveis sintático e semântico, pois resta ao interlocutor se perguntar o que a omissão do complemento verbal significa dentro dessa obra literária.

Em Primeiras Estórias, são especialmente relevantes para esta discussão os dois seguintes contos: Partida do audaz navegante e A menina de lá. No primeiro, a personagem Brejeirinha desconsidera normas gramaticais e princípios de narratologia. No segundo, a personagem Nhinhinha exercita sua liberdade relativa à linguagem de modo que as demais personagens não entendem muito o que ela fala. Sua linguagem se relaciona com seus poderes mágicos. Para este trabalho, o mais importante é perceber os exercícios de criação realizados pelas personagens. Em Partida do audaz navegante, encontramos construções como: “você vem conosco ou sem-nosco?” e, quando perguntam a Brejeirinha se ela já viu jacaré em uma ilha, ela retruca: “Não. Mas você também nunca viu o jacaré-não-estar-lá” (ROSA, 2001b, p. 171). Existe uma lógica que sustenta tal inovação linguística, afinal “Você vê a ilha, só. Então, o jacaré pode estar ou não estar…” (ROSA, 2001b, p. 171).

Em A menina de lá, Nhinhinha, mesmo que inconscientemente, efetua escolhas lexicais sobre o eixo paradigmático, acentuando o estranhamento por parte do leitor. A oração “O passarinho desapareceu de cantar” (ROSA, 2001a, p. 69) poderia ter sido escrita, sem os mesmos efeitos de sentidos ou a mesma poesia, da seguinte maneira: “O passarinho parou de cantar”. O efeito criativo da linguagem desautomatizada reside com mais intensidade na construção roseana original. Em ambas as frases há criatividade em sentido linguístico, mas seria possível questionar se a criatividade literária discutida pelos manuais de Escrita Criativa não se restringiria apenas à frase “O passarinho desapareceu de cantar”3. Outras frases demonstram a capacidade imaginativa e de criação de Nhinhinha, que se materializa sobretudo no nível semântico nos exemplos a seguir: “Tatu não vê a lua…”, “o ar estava com cheiro de lembrança”, “altura de urubu não ir” e “jabuticaba de vem-me-ver” (ROSA, 2001a, p. 69).

Eduardo Coutinho (1994, p. 12-13), no prefácio de Ficção Completa, de João Guimarães Rosa, destaca a “acentuada preocupação com a exploração das potencialidades do discurso” que leva a “uma espécie de neutralização da oposição entre prosa e poesia”. Segundo Coutinho, “Os procedimentos empregados por Guimarães Rosa para revitalizar a linguagem narrativa são muitos e variados e se estendem desde o plano da linguagem stricto sensu ao do discurso narrativo” (COUTINHO, 1994, p. 14-15), isto é, da criatividade (linguística) stricto sensu, das camadas mais estritamente gramaticais às camadas que se aproximam do campo sociocultural, que seria o discurso narrativo. Da “desautomatização de palavras” (…) “à exploração das potencialidades da linguagem, da face oculta do signo” (COUTINHO, 1994, p. 14-15). Estamos falando de manifestações da criatividade conforme descritas por Carlos Franchi (1991), vinculadas às opções linguísticas e às seleções ou escolhas do escritor.

Na sala de aula de Língua Portuguesa, a perspectiva em questão nos leva a crer que:

“interessa pouco descobrir a melhor definição de substantivo ou de sujeito ou do que quer que seja. (…) Mas interessa, e muito, levar os alunos a operar sobre a linguagem, rever e transformar seus textos, perceber nesse trabalho a riqueza das formas linguísticas disponíveis para suas mais diversas opções. Sobretudo quando, no texto escrito, ele necessita tornar muitas vezes conscientes os procedimentos expressivos de que se serve”. (FRANCHI, 1991, p. 20).

Não se trata de desconsiderar a criatividade extratextual, que depende também de fatores psicossociais, mas perceber que esse fenômeno se manifesta de modo distinto na linguagem verbal e que dominar seus mecanismos nos permite usar a língua com maior liberdade, propriedade e expressividade.

5 Considerações finais

Assim, percebe-se o seguinte descompasso em nossa sociedade e, em especial, no ambiente escolar: muito se valoriza a criatividade no campo do discurso, mas pouca importância se dá ao fenômeno na prática. Em sala de aula, esperam-se textos criativos de alunos cuja criatividade raramente é alvo de atenção de modo consciente e sistemático. Sob a principal justificativa de preparar os estudantes para o mundo incerto e complexo de hoje, já encontramos estudos e ações sobre a criatividade no âmbito escolar, mas são escassos os trabalhos que partem de uma perspectiva linguística. Essa abordagem se mostra de extrema importância, porque a linguagem verbal é o principal meio de comunicação e interação humana e, portanto, deve ser empregada com assertividade a depender das intenções dos sujeitos e dos contextos de interação; ademais, pensar a criatividade para além das narrativas e de seus elementos literários permite desenvolver conhecimentos linguístico-gramaticais importantes na vida de qualquer falante/escritor, como a análise entre forma linguística selecionada e o efeito produzido.

Este artigo argumenta em defesa da ampliação do conceito de criatividade, a partir de pesquisadores e estudiosos da Linguística, buscando demonstrar que a prática textual a partir de um olhar aberto, adaptativo e plástico sobre a língua é o principal caminho para se alcançar textos mais expressivos. Logo, pode-se (re)definir criatividade linguística como um ponto de vista a partir do qual abordamos a língua, nas suas modalidades oral e escrita, considerando que a criatividade, elemento constitutivo das línguas naturais, é subjacente à língua e a todos os seus usos. Essa expansão do conceito, que passa a abarcar os níveis linguísticos “abaixo” do narrativo, enfatiza a riqueza do trabalho linguístico, com foco nas diversas opções disponíveis para seleção do sujeito falante/escritor. Em especial, no caso da modalidade escrita, o falante necessita conhecer explicitamente os mecanismos da língua para articulá-los de modo a se expressar com maior efeito criativo, se essa for sua intenção.

Descrevemos alguns “lugares” em que o aspecto criativo da língua pode ser identificado, nos apoiando nas principais teorias linguísticas e na escrita do autor brasileiro João Guimarães Rosa. Demonstramos que a criatividade stricto sensu, que se materializa na superfície textual, pode surgir nos níveis narrativo-discursivo, semântico-pragmático, sintático, morfológico e fonético-fonológico. Observamos, portanto, que escrever será sempre um ato de criação; diante do espaço vazio da folha em branco ou da tela, articulamos ideias, conhecimentos, sentimentos, intenções e, especialmente, elementos linguísticos para criar (dar vida a) um texto. O trabalho com a língua, independentemente de possuir ou não valor artístico-literário, é sempre um ato de criação, pois dá existência ao que antes se constituía apenas como possibilidade.

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Notas

1 Não é nosso objetivo discutir as interseções entre os conceitos de imaginação, criatividade e inovação. Essa discussão pode ser encontrada na obra Somos todos criativos, de Ken Robinson (2019).
2 O eixo associativo foi chamado de “paradigmático” por Louis Hjelmslev, linguista dinamarquês.
3 Como nosso objetivo é discutir a criatividade em sentido linguístico, não nos aprofundaremos nas discussões sobre literariedade, termo proposto por Roman Jakobson para definir o objeto de estudo da ciência literária. Literariedade é o que faz uma obra ser literária e, em termos de efeito, envolve impor-se à atenção do leitor pela forma e não pelo conteúdo (MASSAUD, 2013, p. 272-273). Um texto com maior literariedade seria em nossa abordagem classificado como um texto com maior efeito criativo ou maior grau de expressividade. Essa nossa classificação não é de modo algum sinônima de literariedade. Não é nosso objetivo definir o que é literatura. Compreendemos que a criatividade na língua está também fora da ficção e dos estilos disruptivos.

Notas de autor

1 Assistente em administração no Instituto Federal Fluminense Campus Quissamã. Especialista em Literatura, Memória Cultural e Sociedade, pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense Campus Campos-Centro e aluno da Graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense – Brasil. E-mail: wa.paes97@gmail.com.

Información adicional

COMO CITAR (ABNT): PAES, W. E. Abordagem linguística das escritas criativas: um passeio pelos lugares onde a criatividade se manifesta. Vértices (Campos dos Goitacazes), v. 25, n. 2, e25219124, 2023. DOI: https://doi.org/10.19180/1809-2667.v25n22023.19124. Disponível em: https://essentiaeditora.iff.edu.br/index.php/vertices/article/view/19124.

COMO CITAR (APA): Paes, W. E. (2023). Abordagem linguística das escritas criativas: um passeio pelos lugares onde a criatividade se manifesta. Vértices (Campos dos Goitacazes), 25(2), e25219124. https://doi.org/10.19180/1809-2667.v25n22023.191214.

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