Quando é crime existir: a representação do feminino em “Meia culpa, meia própria culpa”
Palavras-chave:
Literatura Africana, Mia Couto, Alteridade, Gênero, FemininoResumo
Na cultura patriarcal, à mulher tem sido legada a posição de alteridade. Diferentemente da central hegemonia masculina, a figura feminina ocupa as margens. Sua opressão dá origem a um movimento de busca pela liberdade, numa história que tem sido escrita repleta de dores, cicatrizes e tentativas de silenciamento. O conto Meia culpa, meia própria culpa, integrante da obra O fio das missangas, do escritor moçambicano Mia Couto, narra a trajetória de uma mulher, à espera do julgamento, presa por ter supostamente assassinado o marido. Em uma espécie de monólogo, em que as referências ao interlocutor são apenas depreendidas do discurso da narradora-protagonista, o texto em tom confessional atua como um testemunho da condição feminina, marginal e discriminada, assinalando a exclusão da personagem em relação ao seu grupo social e denunciando as situações de humilhação física e psicológica a que são submetidas as mulheres em sociedades patriarcais. Ao pedir-lhe que conte a sua história, o interlocutor – que em determinado momento, descobrimos tratar-se de um escritor – acaba por dar voz àquela que desde sempre fora calada pela sociedade. Partindo do pressuposto de que o discurso da protagonista se constitui numa denúncia do silenciamento e da dominação em relação à figura feminina, o presente estudo analisa a representação da mulher no referido conto como signo de opressão da alteridade, a partir dos conceitos de crime, confissão, identidade e sonho que perpassam a obra.Downloads
Publicado
27-02-2012
Edição
Seção
Comunicações